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Mobilidade elétrica em Portugal só acelera com rede à altura

O caminho tem sido longo e tortuoso. Apesar das melhorias, os construtores automóveis consideram que é preciso continuar a investir na rede de carregamento, com mais postos elétricos na estrada.
31 Maio 2021, 08h10

Só se a rede de postos de carregamento acelerar é que Portugal vai conseguir cumprir as metas de descarbonização. Apesar de as vendas de carros elétricos terem conseguido manter-se à tona durante a pandemia, só com maior investimento na rede, eliminando ansiedades entre os condutores em percursos mais longos, é que a mobilidade elétrica vai realmente avançar no país.

Várias marcas contactadas pelo Jornal Económico fazem um ponto de situação do estado da rede de carregamento e defendem uma maior aposta nas infraestruturas.

“A rede de carregamento é exatamente um eixo para a confiança e tranquilidade dos clientes que optam por veículos 100% elétricos. Estamos ainda longe de ter uma rede de carregamento suficientemente dimensionada, para que os clientes possam sentir-se tranquilos quando ponderam comprar um automóvel elétrico”, segundo o diretor de comunicação e relações institucionais da Peugeot e da Citroën, Jorge Magalhães.

Na sua análise, a Jaguar/Land Rover destaca a região do Algarve pela negativa, devido à escassez de postos de carregamento.

“A rede de postos de carregamento elétrico é insuficiente e precisa de ser melhorada com muito mais carregadores, para além de haver muitos postos que estão inativos (por exemplo na rede Mobi.e). Em determinadas zonas é mesmo particularmente crítica a falta de postos (por exemplo, no Algarve), não transmitindo confiança nem tranquilidade a todos os que já têm viaturas elétricas/PHEV ou pretendem adquiri-las”, sublinha o diretor geral de vendas da Jaguar Land Rover Portugal, Felix Olavarrieta.

A nipónica Nissan também analisa o estado da rede de carregamento em Portugal e defende que é preciso continuar a investir no seu desenvolvimento.

“Apesar do crescimento acentuado que esta infraestrutura registou nos últimos anos, a verdade é que é necessário continuar a criar condições para que os operadores da rede de carregamento continuem a investir na sua expansão a um ritmo elevado”, de acordo com o diretor de comunicação da Nissan, António Joaquim Pereira.

Por seu turno, a SIVA destaca que o corredor rodoviário entre Portugal e Espanha é um dos principais problemas da rede nacional.

“A criação de corredores de carregamento em Portugal, com ligação a Espanha, é um dos principais desbloqueadores da mobilidade elétrica. E uma das principais reclamações do sector. Os investimentos nas redes de carregamento têm sido realizados essencialmente por operadores privados, e a rede de carregadores rápidos tem crescido graças a esse esforço”, disse Ricardo Tomaz, diretor de marketing estratégico e relações externas da SIVA.

Mas a importadora da Audi e Volkswagen defende que “não pode ser apenas a indústria e a sociedade a fazer a sua parte, também o Governo tem de mostrar um compromisso maior para desenvolver boas ideias e fazer investimentos corajosos. Só assim conseguiremos um nível de conforto suficiente, para que qualquer pessoa que faça essa transição para uma mobilidade mais sustentável, o faça sem notar grande diferença no seu dia a dia”.

Para a Mercedes-Benz Portugal, a rede de carregamentos deve ser aumentada não só nas autoestradas, como também dentro das próprias cidades.

“Com o crescente investimento por parte dos construtores automóveis na área da eletrificação e da mobilidade sustentável, será igualmente necessária uma aceleração da implementação de postos de carregamento não só entre os percursos de maior distância, nomeadamente nas autoestradas, mas também nas zonas de maior aglomeração populacional. Apenas assim todos os esforços por parte dos construtores a esta área farão sentido, aumentando igualmente a confiança por parte dos clientes nos veículos elétricos e no seu carregamento”, sinaliza André Silveira, da Daimler Portugal, responsável pela comercialização da Mercedes e da Smart.

Para a também alemã BMW, a mobilidade elétrica não pode estar só dependente dos consumidores que conseguem carregar o carro em casa à noite, sendo necessários mais postos nas cidades.

“A infraestrutura pública ainda não é suficiente para satisfazer todos os clientes que possuem um veículo eletrificado, sobretudo para os que não têm a possibilidade de realizar o carregamento em casa. Para que seja possível uma utilização cada vez maior de viaturas eletrificadas, torna-se necessário reforçar a rede de postos de carregamento. O verdadeiro incentivo à mobilidade elétrica, não passa por criar imposições e restrições às emissões. É fundamental garantir o acesso a uma rede tecnologicamente avançada e a preços acessíveis para todos”, defende Massimo Senatore, diretor-geral da BMW Portugal.

A sueca Volvo é outra das empresas que considera que ainda há muito a fazer para a rede estar adequada à mobilidade elétrica.

“Ainda há um longo caminho a percorrer. Tem de continuar a haver um forte investimento na rede de carregamento pois a indústria depende da existência dessa infraestrutura para adotar em massa os veículos 100% elétricos. Só com uma rede fortalecida, se poderá passar confiança para o consumidor”, analisa Aira de Mello da Volvo Portugal.
Para a francesa Renault, é preciso manter o investimento nas infraestruturas para não colocar em risco o caminho feito até agora na mobilidade elétrica.

“Portugal tem neste momento cerca de 2.400 postos de carregamento em todo o país, o que nos coloca numa boa posição quando comparados com a maioria dos países. No entanto, temos de estar cientes que se vai verificar um crescimento massivo do mercado de veículos elétricos e que por isso urge estar preparados para dar uma resposta, uma vez que, qualquer “pedra na engrenagem”, pode atrasar em muitos anos a necessária transição”, afirma Joana Cardosa da marca gaulesa.

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