O nível de assimetrias regionais e de rendimentos que Portugal apresenta não é próprio de um país desenvolvido, mas sim de um país deprimido, face à triste realidade do envelhecimento acentuado das populações, do fraco dinamismo empresarial, da desigualdade de rendimentos acentuada entre as famílias, da vulnerabilidade dos solos e florestas e da desertificação de vastas zonas rurais.

Basta analisar o Relatório do Balanço Social 2021, do centro Economics for Policy da Nova SBE, esta semana apresentado, que intercala bem a temática da coesão territorial, dos seus impactos económicos e sociais, com as desigualdades de rendimentos das famílias, que se agravou mesmo antes da chegada da pandemia, acentuando os níveis de pobreza no nosso país.

Esta é tristemente uma verdade indesmentível, de que os ricos se tornaram mais ricos e os pobres mais pobres, com a distribuição dos rendimentos a tornar-se mais desigual no ano anterior à pandemia. Os 25% mais ricos passaram a concentrar 46% (42% em 2018) do rendimento disponível das famílias, ou seja, um quarto das famílias concentra cerca de metade dos rendimentos.

Ora, num país onde o défice agroalimentar com o exterior é de 3,5 mil milhões de euros, a rutura social e ambiental que os territórios terão, se não se apostar num setor agrícola e marítimo forte, que traga rendimento às populações, é um fator decisivo da nossa subsistência. Não podemos ambicionar um território mais justo, mais equilibrado, mais solidário, sem políticas públicas integradoras e potenciadoras que mitiguem as desigualdades, com pessoas no território.

É verdade que a pobreza já era um problema no país, mas com a pandemia os mais desprotegidos ficaram ainda mais prejudicados. As políticas adotadas para mitigar os efeitos da crise não conseguiram evitar o aumento das desigualdades, pelo contrário, têm cavado esse fosso.

Mas é aqui que também reside o maior dos problemas, se não encararmos o país como um todo, pois Portugal não é só Lisboa e Porto, Norte ou Sul, Litoral ou Interior, zonas montanhosas e planícies, não se conseguirá efetuar a coesão urgente e necessária, para que se possa criar rendimento e poder de compra aos cidadãos.

É que há bolsas de pobreza persistente em Portugal, agravadas pelos desempregados e crianças com menor acesso à Educação, e para os quais urge direcionar as políticas públicas, uma vez que as adotadas para mitigar os efeitos da crise não evitaram o aumento das desigualdades sociais.

Precisamente porque, na ausência de políticas de coesão, se abandona o setor primário como fonte de riqueza, se promove a desertificação territorial e não se potencia o desenvolvimento regional.

Portugal precisa de coragem política, e como disse esta semana o candidato Rui Rio, que saia a “sorte grande ao País”, perante tamanha tentativa de centralização e excessiva concentração que persiste na ação do Governo deposto pela dissolução da Assembleia da República. Haja coragem e urgência a agir, caberá aos Portugueses escolher o nosso futuro.