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Na liderança do crescimento da UE com o impulso do turismo

Um primeiro trimestre de 11,9% de crescimento e um verão com a procura turística em alta podem compensar o risco criado pela subida dos custos de financiamento, mas várias empresas mais endividadas terão muitas dificuldades.
24 Julho 2022, 21h00

A economia portuguesa surpreendeu com o crescimento no primeiro trimestre ao surgir como a que mais crescerá em 2022, de acordo com as projeções de Bruxelas. O grande motor desta evolução foi o turismo. Ainda assim, a inflação e a subsequente subida dos juros são um risco para o tecido empresarial do país e a possibilidade de uma recessão na Europa, especialmente caso se feche a torneira do gás russo, podendo deprimir as exportações nacionais, outro dos casos de sucesso dos últimos anos.

Depois de liderar o crescimento entre os países da UE no primeiro trimestre do ano, ao crescer 11,9% em termos homólogos e 0,6% em cadeia, Portugal surge como o Estado-membro que mais deve crescer este ano, com a projeção de Bruxelas a apontar para 6,5%. Esta é uma retoma que permitirá ao país recuperar os níveis pré-pandémicos no que respeita ao PIB e a própria Comissão reconhece o impacto de um dos sectores que mais sofreu com a Covid-19: o turismo.

Portugal foi mesmo o país que mais rapidamente recuperou os números de 2019 neste sector, começa por referir Francisco Calheiros, presidente da Confederação de Turismo de Portugal (CTP). Depois de quebras de faturação na ordem dos 60% em 2020 e dos 40% em 2021, admite que poucos acreditavam numa recuperação desta magnitude, mas a verdade é que o cenário no terceiro trimestre permite algum otimismo.

“De junho a setembro está muitíssimo forte, em condições normais vai ser um belo ano de turismo”, projeta, acrescentando que abril registou já números marginalmente melhores do que igual mês de 2019. Para este ano, a expectativa é que as dormidas se aproximem dos valores antes da Covid-19, ao passo que o volume de negócios já deve mesmo superar o pré-pandemia.

Para João Duque, economista e professor no ISEG, o sector tem dado um forte impulso que se deverá continuar a observar noutros trimestres, que se esperam de maiores dificuldades no resto da economia.

“O primeiro trimestre foi excecional, fez logo o ano. O segundo aguentou-se bem, o terceiro parece estar ótimo e no quarto vamos afundar, mas já não compromete o ano”, prevê, citando um possível racionamento do gás na Europa como um sério entrave, especialmente na indústria e “no centro da europa, porque se a economia alemã continua a arrefecer como agora isso vai levar a um arrefecimento das nossas exportações”.

Já no primeiro trimestre do próximo ano, o resultado homólogo sofrerá com a comparação com o anormalmente forte crescimento de igual período deste ano, levando João Duque a argumentar que nessa altura “a única coisa que pode continuar a salvar a economia portuguesa é o turismo”.

Para tal, torna-se fulcral reduzir os riscos associados ao sector da aviação, que tem vivido dias conturbados na Europa e foi mesmo um dos focos do comentário de Bruxelas anexado às previsões de crescimento para este ano. Para Francisco Calheiros, “Portugal é um caso paradigmático” das dificuldades que se tem vivido nesta área a nível europeu, “em que as empresas tiveram de se reestruturar e ninguém esperava uma recuperação tão rápida, portanto ainda não estão adequadas na sua estrutura de recursos humanos”.

Por outro lado, a subida da inflação tem colocado novos entraves às empresas portuguesas e a solução do Banco Central Europeu (BCE), que passa por uma normalização da política monetária e a associada subida de taxas de juro, irá acrescentar ainda mais aos custos de empresários com elevado endividamento.

“A situação da análise que fizemos é extraordinariamente complexa. Vai ser muito difícil, se não houver medidas da parte do governo de apoio às empresas, estas vão ter muitas dificuldades em ultrapassar a situação”, revela Jorge Pisco, presidente da Confederação das Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME), que fala numa “preocupação generalizada” com uma situação com potencial para ser mais gravosa do que a pandemia.

“O Governo tem procurado mascarar esta realidade, dando nota que as coisas melhoraram substancialmente com a vinda dos fundos da bazuca, mas as micro, pequenas e médias empresas (PME) não vão ter acesso aos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)”, critica, pedindo “medidas fiscais para as PME, um fundo de apoio a tesouraria com uma componente a fundo perdido” ou ações para controlar a subida do preço da energia.

João Duque acrescenta que “as empresas mais endividadas vão sentir mais, particularmente as com recurso a financiamento de curta maturidade indexados a Euribor”, mas acredita que “alguns sectores podem estar mais protegidos”, como o turismo. “A estrutura de financiamento é crítica nestas situações”, resume.

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