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Nancy Pelosi: a principal adversária de Trump e a mulher mais poderosa dos EUA

A democrata de 78 anos, com uma longa carreira política, fez história em 2007 como a primeira mulher presidente da Câmara dos Representantes. Com esta nova reeleição, Pelosi enfrenta agora um longo período de ‘shutdown’ e um braço de ferro contra o financiamento do muro de Trump.
  • Brendan Smialowski/AFP/Getty
9 Janeiro 2019, 07h24

Nancy Pelosi tomou posse este mês como presidente da Câmara de Representantes nos EUA, voltando a ocupar um cargo que já exerceu entre 2007 e 2011 e que é o terceiro mais importante dos Estados Unidos, depois do presidente e do vice-presidente. Ou seja, caso sucedesse uma destituição do presidente e do vice-presidente Nancy Pelosi, por lei, assumiria a presidência.

”Nunca aposte contra ela”. Quem é Nancy Pelosi?

Nascida em 26 de março de 1940, em Baltimore, Maryland ,Nancy Patrícia D’Alesandro Pelosi continuou a tradição da sua família de estar envolvida na política. Começou como voluntária e gradualmente subiu na hierarquia.

Em 2007, ela fez história ao se tornar na primeira mulher a chefiar a Câmara dos EUA. Em 2010, quando os Democratas perderam a maioria na Câmara, ela passou a liderar a oposição até regressar, novamente, à presidência.

Com esta vitória, Pelosi passou a ser a primeira mulher na história dos EUA a conquistar uma reeleição para o cargo de líder da Câmara dos Representantes, e assim os Democratas voltam a ganhar o controle que, até então, pertencia aos Republicanos.

Este é o mais recente capítulo de uma mulher que cresceu numa família imersa na política, na costa leste dos Estados Unidos, que conquistou reconhecimento entre os grupos mais liberais do Estado da Califórnia e que tem sido uma figura chave do partido Democrata há quase 15 anos.

Este é também, o inicio de uma nova era para o novo Congresso, que não se parece com mais nenhum. Há mais mulheres do que nunca e uma nova geração de muçulmanos, latinos, nativos americanos e afro-americanos na Câmara dos Representantes que está a criar o que os académicos chamam de uma ”democracia refletiva”, por estar mais alinhada com a população dos EUA.

O ínicio do #TrumpDown

A subida de poder de Pelosi impulsionou o shutdown governamental que já vai no 19º dia e que, segundo o presidente “pode durar meses, até anos”. Donald Trump, decidiu bloquear os decretos de verbas para a administração federal, em retaliação à posição dos democratas que não querem votar no orçamento para a construção do muro ao longo da fronteira com o México, uma das suas promessas da campanha das eleições de 2016.

Ao contrário do que se esperava, no primeiro encontro entre os dois, em dezembro, Pelosi não recuou na sua decisão e avisou ao presidente para não ”subestimar a força” que ela tem na Câmara. No mesmo dia do anúncio do #TrumpShutdown, (como o fenómeno é conhecido no Twitter) Pelosi saiu da Casa Branca sorridente, envolta de um casaco vermelho e com óculos de sol. E assim começou o braço de ferro.

Na tomada de posse, no dia 3 de janeiro, a nova presidente da câmara baixa do Congresso norte-americano, em discurso escrito, prometeu “restaurar a integridade do governo para que as pessoas tenham confiança que o governo trabalhe para o interesse público, não para os interesses especiais”. A sua eleição surgiu no 13º dia da paralisação governamental.

A primeira ação da democrata de 78 anos, foi convocar Trump para uma reunião na Casa Branca. Depois de um longo debate, a líder democrata deu (novamente) voz à maioria e recusou financiar os 5,6 mil milhões de dólares (4,9 mil milhões de euros) para o muro de Trump na fronteira sul, argumentando ser uma barreira não “entre a América e o México, mas entre a realidade e os seus constituintes, os seus apoiantes”.

Se esta suspensão dos serviços governamentais, que dura desde 22 de dezembro, continuar para lá de sexta-feira, este shutdown vai tornar-se no mais longo de sempre, prejudicando 800 mil funcionários cujos trabalhos e vencimentos estão em risco.

Impugnação de Donald Trump

É importante referir que para além de Nancy se tornar na democrata de mais alto cargo, é a única que tem o poder para ordenar o tão aguardado impeachment de Trump.

São muitos que acham que a maioria democrata pode remover o presidente do cargo por estarem coberta de razões e justificações para essa destituição. A democrata palestino-americana, Rashida Tlaib não perdeu tempo em afirmar-se quando reclamou o seu lugar no Congresso, dizendo que a Câmara iria “destituir o ***** da **** “. No entanto, Pelosi deixou claro que aguarda o resultado da investigação de Mueller antes de decidir se deve ou não dar inicio a um processo de impugnação.

Robert Mueller é o conselheiro especial que, desde maio do ano passado, supervisiona a investigação sobre a interferência da Rússia nas eleições americanas de 2016. Com os recentes desenvolvimentos, a retórica da “caça às bruxas” cai por terra porque “agora há cinco pessoas próximas de Trump, três das quais nos níveis mais altos do seu círculo íntimo, que são criminosos condenados ou confessos”, contabiliza Brian Normoyle ao jornal ”Expresso”. Um deles é Michael Cohen, ex-advogado de Trump que confessou ter pago o silêncio de duas mulheres a pedido do presidente.

Este impeachment também não garante a retirada de Trump da Casa Branca: apesar de ser a Câmara a decidir, ou não, avançar com o processo, é o Senado que vota na expulsão de Trump, e sendo esse o cenário, é difícil imaginar que um Senado liderado pelo republicado Mitch McConnell fizesse tal coisa.

Por enquanto, os líderes de Pelosi e a própria democrata mostram cautela nas chamadas para impugnação. Os mesmos temem que uma abordagem agressiva possa afastar os eleitores moderados e independentes, votos que vão ser necessários daqui a dois anos, nas eleições de 2020.

Independentemente disso, a líder democrata da Câmara deixou claro que não hesitaria em atacar Trump quando achasse apropriado. “É como uma questão de masculinidade para ele”, disse ela, de acordo com um assessor na sala. “Como se a masculinidade pudesse ser associada a ele. Essa coisa de parede.”

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