A evolução da sociedade tem sido marcada, inevitavelmente, pela evolução tecnológica. Tem sido assim nos mais variados setores, e na Educação não irá ser diferente.

O ensino online é, sobretudo no atual período pós-pandémico, cada vez mais uma realidade. E como em qualquer processo de inovação, o desconhecimento induz perceções desviadas atribuindo, por exemplo, uma conotação social de segunda linha ao ensino online, e que por ser mais fácil é destinada a estudantes com menor competência académica e longe dos centros urbanos. É preciso perceber que o ensino online tem implicações estratégicas fundamentais para o desenvolvimento social e económico do país.

Em 2020, a OCDE publicou um relatório que informa existir um desfasamento elevado entre o número de adultos com formação superior em Portugal e no resto da Europa. Este estudo coloca Portugal em 23º lugar de 29 países analisados, com cerca de 28,2% de adultos com formação superior (per capita) enquanto a média europeia é de 36,7%. Irlanda lidera o ranking com 49,9% de adultos com formação superior (per capita).

Com a intenção de recuperar este atraso, a 3 de setembro de 2019 o XXI Governo Constitucional aprovou o regime jurídico do ensino superior ministrado a distância que permite às restantes Instituições de Ensino Superior em Portugal, colaborar com a Universidade Aberta, na qualificação superior de estudantes fora da idade de referência.  Concretamente, esta medida de política tem como objetivo formar pelo menos 50 mil adultos até 2030.

O ensino a distância (e não à distância) tem como pressuposto fundamental a flexibilidade conferida ao processo de ensino-aprendizagem. Esta flexibilidade é garantida pela assincronia de espaço e tempo da metodologia de ensino, em que docentes e estudantes interagem entre si a partir de distintos locais no mapa e momentos diferentes do dia. A implementação desta modalidade de ensino obriga as Instituições de Ensino Superior reconcetualizarem os seus modelos pedagógicos e planos de formação docente.

Ora, é a flexibilidade do modelo de ensino-aprendizagem que irá permitir aos adultos portugueses compatibilizar as suas vidas pessoais, familiares e profissionais (já maduras), com as suas ambições académicas. Por exemplo, existe um conjunto enorme de pessoas que aos seus 18 anos não teve a oportunidade de prosseguir estudos no ensino superior, quer por razões económica, quer por razões familiares. E apenas mais tarde, quando o seu próprio contexto de vida se definiu mais estável, estas pessoas reuniram (finalmente) as condições adequadas à frequência do ensino superior.

O público-alvo desta modalidade de ensino são cidadãos tipicamente de língua portuguesa, em idade compreendida entre os 30-45 anos de idade, que procuram construir um mapa científico que dê sentido à sua experiência profissional já madura. Cidadãos estes que procuram inserir-se cada vez melhor num mundo profissional contemporâneo, onde as suas carreiras não mais iniciam e terminam na mesma área e na mesma empresa. Hoje as carreiras fazem-se de mudança de carreira, sendo que o reskill (atualização de competências adquiridas) e upskill (obtenção de novas competências) é garantido pelo ensino online.

Ao contrário do que se possa pensar, o ensino online não é uma metodologia sexy que facilita alguma integração tecnológica nas sessões pedagógicas dos estudantes em idade de referência (18-25 anos). Para esses, o ensino presencial continua a ser a modalidade de ensino mais adequada com metodologias de aprendizagem experienciais de sucesso. Pensou bem o nosso Governo quando entendeu que o face a face e o online não irão concorrer pelos mesmos estudantes, mas sim ampliar o universo de estudantes no ensino superior em Portugal, e desta forma preparar melhor o nosso país para competir numa economia cada vez mais global.