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O fantasma da OPA não assustou o plano de Mexia

EDP quer investir 5 mil milhões na América do Norte apesar do risco do chumbo do CFIUS. Plano não é incompatível com a OPA, diz CEO.
30 Março 2019, 08h00

A Oferta Pública de Aquisição (OPA) da China Three Gorges (CTG)_foi um fantasma que fez uma aparição tardia esta terça-feira no Berkeley Hotel em Londres, onde a visada EDP divulgou o plano estratégico para 2019-2022.

Durante a apresentação, António Mexia não mencionou o bid da estatal chinesa e, estranhamente, os analistas na sala e via web também não falaram sobre o assunto. Só na conferência de imprensa é que o CEO_da energética foi questionado sobre quando é que a CTG irá finalmente notificar os principais reguladores sobre a oferta. “Em breve, muito em breve”, respondeu em relação aos pedidos de aprovação a submeter à Comissão Europeia e ao comité de investimento estrangeiro nos EUA.

Apesar do risco de rejeição por estas entidades, especialmente no outro lado do Atlântico (ver peça à esquerda), a EDP_diz que o plano até 2022 é compatível com a OPA.

A estratégia passa por arrecadar recadar seis mil milhões de euros via venda de ativos . A maior parte deste valor (4 mil milhões) vai ser encaixado através da venda de participações maioritárias nos seus projetos. A alienação vai ser feita nos projetos de energia renovável: a meta é vender 50% da capacidade total de 7 gigawatts da EDP Renováveis. Os restantes dois mil milhões de euros deverão ser encaixados através da venda de ativos ibéricos, como centrais térmicas, com este plano a ser executado nos próximos 12 a 18 meses.

O encaixe será utilizado para investir cerca de 12 mil milhões de euros. O grande foco vai ser as energias renováveis: 75% do investimento total destina-se à produção de energia verde. Por regiões, 40% do investimento total tem como destino a América do Norte (Estados Unidos, Canadá e México), a União Europeia (35%) e o Brasil (25%).

Na apresentação do plano, a empresa não distinguiu os valores a separar entre os três países da região norte-americana. Não é, no entanto, arriscado presumir que a maior fatia desse investimento bruto de perto de cinco mil milhões de euros na região estará alocada aos EUA, país onde a OPA_enfrenta eventualmente a maior barreira. No final de 2018, os EUA_representavam 94% dos 5.562 megawatts em capacidade instalada pela empresa na região.

Mexia afirmou que o plano faz parte de mais uma transformação da empresa, independentemente da OPA. “Mal seria se a empresa ficasse paralisada”, sublinhou.

O CEO explicou que “há coisas que não poderíamos fazer quando estamos debaixo de OPA, não temos um dever de passividade mas sim da lealdade” e salientou que o plano fora aprovado na véspera de forma unânime pelo Conselho Geral e de Supervisão, que é composto pelos principais acionistas (10 membros), mas também por membros independentes (10).  Entre os 10 membros nomeados por acionistas, cinco membros representam a CTG.  Já o BCP, Sonatrach, Senfora, DRAURSA e Masaveu contam com um membro cada um.

Mexia afirmou que a CTG_está a dar os  passos necessários e obrigatórios na OPA, mas salientou que “o trabalho administrativo é talvez mais complexo e mais longo que algumas das partes pensavam inicialmente”.

Questionado se a CTG terá sido mal assessorada em relação à complexidade da OPA, Mexia referiu que “o contexto nos últimos tempos mudou”.

Adiantou que “é perfeitamente legitimo” que o processo tenha uma complexidade adicional, porque o enquadramento, mudou, nomeadamente nos EUA mas também na Europa.

“Têm havido evoluções claras sobre aquilo que está relacionado com investimento estrangeiro e ativos, portanto é normal que isto se passe e que o número de questões que sejam levantadas seja eventualmente maior do que estava inicialmente previsto”.

Artigo publicado na edição nº 1980 do Jornal Económico

O jornalista viajou a Londres a convite da EDP

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