O aumento da poupança das famílias em resposta à Covid-19 observa-se de forma transversal em toda a Europa. O grande montante aplicado em depósitos começa a ser alvo de interesse por parte dos políticos.

Em Portugal, a taxa de poupança das famílias subiu para 10,6% no segundo trimestre deste ano, face aos 7,5% do trimestre anterior. É a taxa mais alta desde 2013, na altura no seguimento da crise financeira. Um estudo do BCE publicado esta semana vai no mesmo sentido e mostra que a poupança está a subir em toda a Europa. O estudo esclarece que, ao contrário do que sucede habitualmente nas crises, a explicação principal para o aumento da poupança não é o receio face ao futuro, mas o facto de as famílias terem cortado nos gastos de forma involuntária dado que foram impedidas de seguirem o seu padrão de consumo habitual.

Naturalmente, a pandemia atingiu as famílias de forma assimétrica, havendo muitos casos de perda de emprego e rendimento sobre os quais pode ser ofensivo sequer falar em poupança, mas o facto é que o montante global em depósitos aumentou significativamente na zona euro.

Os governos começam a olhar para as poupanças das famílias com interesse. Nuns casos, surgirão incentivos “benignos” ao consumo, como aconteceu na Alemanha com a redução do IVA ou com deduções fiscais como foi anunciado em Portugal (IVA do turismo e restauração). Mas é de temer que também possa surgir a ideia, mais tarde ou mais cedo, de criar novos impostos, eventualmente rotulados como relacionados com a pandemia, que “aliviem” os depósitos das famílias.