Os últimos tempos não têm sido fáceis para o Governo liderado por António Costa, por várias razões. Sucederam-se os episódios que revelaram a falta da chamada “coordenação política”, a começar pela polémica do novo aeroporto. Os tempos têm sido férteis também em falta de bom senso, com revela o caso que envolveu o ex-jornalista Sérgio Figueiredo.

O Governo parece uma equipa composta por jogadores de qualidade muito desigual. Embora haja alguns ministros promissores, notam-se as ausências de Augusto Santos Silva, Matos Fernandes e Pedro Siza Vieira fazem-se sentir; e António Costa parece aqueles gestores que, quando querem uma coisa bem feita, sabem que têm de ser eles a tratar do assunto.

Porém, mais do que a falta de coordenação política e a escassez de bom senso, os últimos tempos têm deixado evidente outro facto que nem o mais hábil dos políticos poderá esconder: não há propaganda que resista à verdade. Pode demorar, mas a verdade vem sempre ao de cima.

O que tem acontecido na saúde é um bom exemplo disto. Durante anos, o Governo anunciou investimentos massivos na Saúde e a contratação de médicos e enfermeiros; a ministra Marta Temido emocionava-se na defesa do SNS e a saúde estava sempre no topo das prioridades. Hoje, após sete anos de governação, temos a saúde que temos. Algo falhou.

A economia é outra área onde a propaganda não resiste ao teste da realidade. Durante sete anos não se conheceu uma única grande reforma que tenha contribuído, de forma decisiva, para o reforço da competitividade da economia portuguesa. Pelo contrário, tentou-se reverter várias medidas da troika. Em anos de vacas gordas, nem sequer se procurou seguir a máxima do príncipe de Falconeri, para quem era preciso  mudar tudo para que, na Itália do Rissorgimento, tudo pudesse ficar na mesma. Por cá, no Portugal do século XXI, somos mais simples: para que tudo fique na mesma basta não fazer nada.

A forma como o Governo reagiu às declarações do presidente da Endesa sobre a iminente subida dos preços da energia (que veio a acontecer, concorde-se ou não com o que Ribeiro da Silva afirmou sobre o mecanismo ibérico), foi um mau prenúncio para o que virá em 2023, ano que os limites da propaganda e do pensamento mágico serão testados como nunca.