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O que nos reserva o mundo do trabalho daqui a dez anos

“ Se a inteligência artificial (IA) seguir no rumo certo e aumentar a eficiência, estaremos a caminhar para uma libertação da carga de trabalho”, afirma Gianluca Pereyra ao Jornal Económico.
30 Julho 2023, 10h00

Tendências não se resumem à inteligência artificial xe automação e aos empregos que vão nascer e desaparecer. No futuro haverá mais trabalho remoto, work-life balance e cuidado com a saúde mental. Comunicação, pensamento crítico, criatividade e colaboração serão skills indispensáveis.

“Se a inteligência artificial (IA) seguir no rumo certo e aumentar a eficiência, estaremos a caminhar para uma libertação da carga de trabalho”, afirma Gianluca Pereyra ao Jornal Económico. Tendo este pressuposto como ponto de partida, o CEO e cofundador da plataforma de chatbot inteligente Visor.ai traça um futuro promissor:“Isso, vai abrir espaço para o aparecimento de mais profissões e atividades que valorizem a interação humana, como organização de eventos, desporto, bem-estar e convívio social”.

Tudo somado, será, adianta,” uma evolução que promoverá uma maior conexão entre as pessoas e aumentará a qualidade de vida”.
Na visão do CEO e cofundador Visor.ai, o futuro será moldado pela capacidade de “cada pessoa aproveitar perspicazmente as ferramentas disponíveis” e pela curiosidade de todos “em aprender e incorporar cada vez mais essas novidades”. A adaptabilidade e a criatividade serão valorizadas, criando “um ambiente de trabalho inclusivo e cheio de potencial”.

A plataforma web da Visor.ai permite o desenvolvimento de agentes de conversação inteligente, com o nome bot incorporado: chatbots, voicebots e emailbots, 100% personalizáveis pelas próprias equipas de contact center e parceiros. Esta startup “implementa soluções que automatizam processos e interações repetitivas na comunicação interna e no serviço ao cliente com recurso a IA. Criada por Gianluca Pereyra, Bruno Matias e Gonçalo Consiglieri, em 2016, a Visor.ai quer ser a referência internacional em IA responsável aplicada aos contact centers. Entre os seus clientes estão o Millennium BCP e o Generali Contact Center.

“A verdade – diz Alexandra Andrade – country manager da Adecco Portugal ao JE – é que o processo de automação está a caminhar rapidamente. Não tem data de início ou de fim”.

A líder desta conhecida empresa de recursos humanos considera “provável que, na próxima década, o local de trabalho, tal como o conhecemos, esteja bem diferente do atual”. De igual modo, há “certamente funções que vão desaparecer, mas serão substituídas por outras diretamente ligadas à IA”. O novo paradigma da formação ao longo da vida, vai exigir um reskilling e upskilling da força de trabalho de forma geral, adianta.

Alexandra Andrade esgrime um estudo da Universidade de Oxford que aponta para taxas de perda de emprego de até 47% nos próximos 25 anos em todos os países desenvolvidos e um outro do Pew Research Center, sobre o impacto da robótica e da IA numa variedade de indústrias, para concluir:“No entanto, há certas competências humanas que nunca serão substituídas por máquinas”.
Segundo um estudo da McKinsey publicado recentemente, a utilização de ferramentas de automatização da IA generativa, como a mais famosa de todas, o ChatGPT, permite realizar tarefas que consomem cerca de 60% do tempo dos trabalhadores. Por outro lado – diz Lourenço Pinto Leite, consultor de Marketing & Vendas da Michael Page – a inteligência artificial irá dar origem a novas funções de trabalho totalmente dependentes da tecnologia.

A substituição de algumas tarefas realizadas por seres-humanos não é a única tendência que se desenha no horizonte. Além da IA, a Michael Page antevê mais três: trabalho remoto e flexibilidade; work-life balance e saúde mental; e novas skills. No campo das competências, Lourenço Pinto Leite enumera as mais valorizadas no futuro:comunicação, pensamento crítico, criatividade e colaboração, além, claro, das skills tecnológicas. “Segundo Yuval Noah Harari (pensador), serão estas as skills que deveríamos estar a ensinar nas escolas e nas empresas de hoje, se queremos ser bem-sucedidos no mercado de trabalho do futuro”, explica.

Lourenço Pinto Leite refere quem depois da pandemia ter mostrado, a bem ou a mal, que o trabalho remoto e a flexibilidade eram soluções, o caminho tornou-se irreversível. “Veio provar às empresas que os seus colaboradores conseguem ser tão ou mais produtivos trabalhando a partir de casa ou de qualquer parte do mundo”. Também fenómenos globais como os nómadas digitais ou a “economia Gig” mostram, segundo o consultor da Michael Page, que os trabalhadores procuram soluções de trabalho cada vez mais flexíveis e que estas estão “definitivamente para ficar durante as próximas décadas”.

A Michael Page lançou, recentemente, um estudo junto de 70 mil pessoas no mundo, Portugal incluído, em que sete em cada 10 disseram valorizar mais o work-life balance e a saúde mental do que o sucesso na carreira. Se se vier a confirmar na realidade, também neste capítulo particular estaremos perante uma mudança de paradigma.

O Iscte – Instituto Universitário de Lisboa abriu em 2022 uma nova escola pensada para formar alunos para o futuro mundo do trabalho: o Iscte-Sintra é especializado em tecnologias digitais. “Todas as licenciaturas têm disciplinas de Projeto, que permitem planear e aplicar dimensões ligadas ao empreendedorismo e inovação, e de Design Thinking, muito valorizado pelas empresas tecnológicas”, adianta Ricardo Paes Mamede, diretor do Iscte-Sintra, ao JE. No próximo ano letivo, todas as licenciaturas terão integrada a utilização de Inteligência Artificial no apoio ao trabalho académico. O objetivo é que os alunos aprendam a tirar partido dessa ferramenta para otimizar o seu trabalho, acautelando igualmente os seus problemas éticos”.

O Instituto Politécnico da Guarda foi a segunda instituição de ensino superior do país – e a primeira na região Centro – a lançar uma licenciatura em Ciência de Dados e Inteligência Artificial. “Está a preparar profissionais para analisar e tratar dados em massa, para que consigam acompanhar as exigências que a evolução tecnológica tem trazido para o mercado do trabalho”, adianta Joaquim Brigas, presidente do IPG, ao JE.

Já Raquel Matos, diretora da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa, explica ao JE que na base da preparação de futuros profissionais deve estar, antes de mais, “uma formação de qualidade, assente em conhecimento científico rigoroso e atualizado”. “Procuramos garantir o acesso dos estudantes à investigação científica desde cedo, integrando-os em equipas de investigação”.

Práticas pedagógicas inovadoras, formação de competências transversais e oportunidades de internacionalização são outros trunfos que a Católica tem para o futuro.

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