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O ‘rally’ do açúcar: escassez a longo prazo faz disparar preços

O açúcar é a melhor matéria-prima do ano, tendo valorizado já 20%. A alta dura desde 2012 e a escassez deverá prolongar-se já que China, Tailândia e Índia reduziram a produção devido ao mau tempo.
15 Abril 2023, 11h59

O açúcar está em rally – um termo que nos mercados significa um aumento sustentado dos preços – o que levou a matéria-prima a níveis que não eram registados há mais de dez anos. Segue em alta desde julho de 2012 e subiu quase 20% este ano.

A trajetória assenta num momento em que más colheitas nos maiores países produtores levam a uma escassez de açúcar nos mercados, precisamente numa altura em que a procura aumenta. O problema não parece ser pontual, já que alguns analistas de Wall Street consideram que o défice se deverá prolongar durante algum tempo.

Embora os preços das commodities continuem a descer, depois de uma subida em 2022, o açúcar segue em contramão. O índice S&P GSCI, que avalia o desempenho das commodities e que é uma das referências do mercado, já caiu 2,5% desde o início deste ano. Contudo, o açúcar está neste momento a valer cerca de 24 cêntimos de dólar por libra – cada libra corresponde a 0,45 quilogramas – depois de uma reavaliação no primeiro trimestre. Por referência, o açúcar entrou em 2023 a valor 20 cêntimos de dólar por libra.

“É a grande matéria-prima e a que melhor se comportou este ano”, diz o estratega de mercados globais da eToro Ben Laidler ao portal El Economista. O analista resume que o contexto de produção mundial é a causa desta movimentação.

A Índia, o segundo maior produtor do mundo, registou mesmo um défice de produção derivado da seca. Além disso, também a produção europeia de beterraba foi estrangulada pelo aumento dos custos energéticos.

A procura pela matéria-prima está a aumentar nos dois principais mercados de destino – Estados Unidos e Ásia -, onde o aumento é na casa dos dois dígitos “tanto para o cacau como para o açúcar, e acontece num momento em que as commodities, de forma geral, são as mais fracas de todas as classes de ativos”, diz ainda Laidler.

A produção não falhou só na Índia e na Europa, mas também na Tailândia e na China. No primeiro caso, as chuvas torrenciais prejudicaram as colheitas e, no caso chinês, também o mau tempo obrigou o governo a reduzir a produção. Estes são dados apontados pela Organização Internacional do Açúcar (ISO), num relatório divulgado no mês passado.

A previsão de escassez prolonga é corroborada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), que atribui o aumento de preços a uma redução da capacidade na Índia, Tailândia e China, e que alerta para preocupações relativas ao armazenamento para este ano.

O maior produtor de açúcar do mundo, o Brasil, tem conseguido compensar alguma pressão sentida do lado da oferta com o aumento de recurso à cana-de-açúcar, que se tornou mais acessível com a baixa nos preços do petróleo. Um factor que não se deverá manter, já que a OPEP+ anunciou cortes extensivos na produção de crude, que se deverão sentir a partir de maio e até ao final deste ano.

Será mesmo o Brasil a beneficiar desta elevada procura, uma vez que reúne as condições de produção mais favoráveis. Contudo, os fabricantes de alimentos e bebidas terão que acatar o aumento dos preços ou, em alternativa, refletir esse aumento no preço pago pelos consumidores – acrescentando pressão a um cenário já inflacionado.

De acordo com a firma de investimentos Marex Spectron, citada pelo The Wall Street Journal, a situação pode complicar-se e prolongar-se. A estimativa da consultora é de que a procura por açúcar ultrapasse entre seis e sete milhões de toneladas nos próximos três anos.

O mercado global de açúcar produz cerca de 200 milhões de toneladas por ano.

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