Portugal está quase a alcançar meio século de democracia e liberdade. Pela primeira vez na nossa história.

Os que “não perderam a memória” recordam o povo analfabeto, pobre, com fome, sem cuidados de higiene ou de saúde, sem segurança social, sem protecção nos infortúnios, nem protecção na velhice.

Se estes 50 anos foram um imenso caminho de construção da democracia, não o foram menos na construção da dignidade da pessoa humana.

E não há dignidade da pessoa humana sem serviço nacional de saúde universal a que todos os cidadãos tenham acesso em condições de plena igualdade.

Ao longo deste meio século, Portugal conseguiu edificar um Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Com decisões políticas nem sempre no bom sentido, com dotações financeiras nem sempre suficientes, com relações com os seus profissionais nem sempre adequadas.

No entanto, tudo isto só foi possível porque, durante décadas, os melhores se dedicaram ao serviço público, porque ricos e pobres, passada a porta do hospital, eram iguais e assim eram tratados.

Sabemos que o Estado frequentemente se esquece dos que melhor o serviram e, dessa forma, melhor serviram os portugueses.

Se esses “esquecimentos” não devem passar em claro, quando assim não é devemos assinalá-lo.

O Ministério da Saúde distinguiu com a Medalha de Serviços Distintos – Grau Ouro, entregue ontem em cerimónia pública, o Dr. João Paulo Almeida e Sousa, médico intensivista dos Hospitais da Universidade de Coimbra.

Com tal distinção quis certamente homenagear os mais de 40 anos de serviço público, de dedicação aos doentes – a todos os doentes. Os milhares de noites passados à cabeceira dos que estavam entre a vida e a morte, mesmo quando já não era obrigado a fazê-lo.

O percurso profissional e pessoal do Dr. João Paulo não cabem nesta distinção, como não cabem em nenhuma outra que não a do reconhecimento de todos quantos têm o privilégio de o conhecer, de o reconhecer e de ser seus amigos. Obrigado, João Paulo.

Sim, o SNS não é uma abstracção.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.