Faltam exatamente quatro meses para a data limite da entrega da proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2019, mas o tema já se encontra na agenda política. Nada que surpreenda, na verdade, uma vez que governo e parceiros, embora unidos numa frente de esquerda e no desejo de não querer perder eleitores, estão divididos pelos seus diferentes objetivos.

Há dias, nos Açores, o primeiro-ministro admitiu que “os trabalhos” com o PCP e o Bloco de Esquerda já começaram e o que se pretende é que “todos se possam rever no próximo orçamento”. Já o PCP, pela voz do seu secretário-geral, condena o “mau caminho seguido pelo governo socialista” e avisa que não vai “passar cheques em branco”.

Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, garante que “seria uma desilusão se alguém abdicasse da possibilidade de irmos mais longe”, nomeadamente, no que se refere às progressões de carreira dos professores.

Não faltam, pois, avisos e ameaças mais ou menos veladas, aumentando o clima de tensão que se vive na Frente Esquerda, cada vez mais dividida, desconfiada e à mercê de um Presidente da República que já deixou no ar a possibilidade de partir para eleições antecipadas no caso do OE não passar.

Para já, PCP e BE têm um objetivo primordial para as próximas eleições, que é impedir a maioria absoluta dos socialistas. Com um PS “à solta”, o primeiro perde poder e influência, e o segundo corre o risco de se tornar irremediavelmente irrelevante. As extremas-esquerdas estão também unidas noutro propósito ou, seja, na conquista do mesmo eleitorado, que é também uma boa parte do eleitorado do PS, o que os torna adversários uns dos outros.

Já o partido do governo não pode apostar que, num cenário de eleições antecipadas, a maioria lhe esteja garantida. A folga que recebeu do governo de Pedro Passos Coelho em 2016 está esgotada e, em 2019, nada tem para oferecer aos parceiros da esquerda senão dossiers envenenados como legislação laboral, professores e banca.

Este complexo xadrez político desagua nas duas perguntas que ninguém quer colocar abertamente, porque também não quer assumir as suas consequências: o que acontece se o OE de 2019 não passar? Haverá eleições antecipadas no início do próximo ano? Quanto ao PSD e a Rui Rio, continuarão a fazer o seu caminho, que se espera de alternativa e afirmação, mas em outro tabuleiro perspetiva-se um Verão bem quente para a esquerda portuguesa.