A questão ‘onde nos encontramos’ revela-se pertinente quando é necessária uma reflexão sobre as abordagens dos arquitetos portugueses às práticas sustentáveis, um tema que foi abordado na 2ª edição de “Build from high tech to low tech”, que teve lugar na Casa da Arquitetura, em Matosinhos.

Dois pontos têm influenciado os jovens arquitetos. O primeiro é a emergência climática, que destaca as consequências das abordagens arquitetónicas de curto prazo, forçando a reavaliação dos recursos e a quebra do ciclo de consumo excessivo e desperdício. O segundo é o impacto significativo da indústria da construção, que requer estratégias de projeto e técnicas comprometidas com práticas sustentáveis, com responsabilidades partilhadas entre os intervenientes do setor, desde os decisores políticos aos futuros utilizadores.

Partilhar experiências positivas e testemunhos que gradualmente alteram o paradigma nacional é, sem dúvida, essencial para redesenhar o futuro da sustentabilidade na construção. Arquitetos como João Branco, Branco del Rio Arquitectos, e Samuel Gonçalves, do SUMMARY, encaram o tema como um processo de simplificação dos processos construtivos.

Samuel destaca a importância de “reduzir a componente tecnológica dos nossos edifícios, apostar cada vez mais em meios passivos de ventilação e climatização e reduzir a dependência de equipamentos que nos tem vindo a ser imposta por decreto”, bem como a necessidade de investir em métodos de construção pré-fabricados para enfrentar a escassez de mão de obra na construção civil.

Por outro lado, Francisco Adão da Fonseca, Oficina Pedrêz, e Romain Deboulle, CRUA ateliê, valorizam a estreita ligação entre o projeto e a construção, demonstrando como os materiais podem incorporar conhecimento e influenciar as práticas. O CRUA destaca-se pelo uso de materiais locais e de baixo impacto, como a terra crua, e pelo recurso a técnicas de construção tradicionais e participativas para criar uma arquitetura em sintonia com o ambiente. Uma prática “que tende a dissipar os limites entre o arquiteto e o artesão construtor”.

No mesmo sentido, Jérémy Pernet, premiado num projeto de I&D em pedra maciça, argumenta que a “pedra maciça estrutural e outros materiais naturais, quando usados localmente fazem parte das soluções viáveis para sairmos de um paradigma do mundo da construção insustentável.” A compreensão da interconexão entre as infraestruturas e o comportamento humano é essencial para avaliar o impacto.

No coletivo Muro Atelier, questionam a noção de efemeridade na cidade através de uma prática participativa centrada na reutilização de materiais e na revitalização de espaços subutilizados, alterando o metabolismo urbano em direção a um sistema circular.

Todos reconhecem a importância de uma reflexão alargada com o objetivo de alcançar um impacto global significativo que beneficie não apenas o setor da construção, mas também os cidadãos e o planeta.