Num mundo onde o comércio global é cada vez mais complexo, muitas empresas de tecnologia, media e entretenimento e telecomunicações (TMT) precisam de uma abordagem mais estruturada. Frequentemente, estas empresas carecem de uma estratégia de modelo operacional e comercial global robusta que simplifique a complexidade e gere um crescimento lucrativo e sustentável.

Na realidade, temos vindo a testemunhar a escalada de uma série de riscos globais relacionados com o comércio global que são independentes dos ciclos operacionais ou económicos normais. O mais relevante está associado às mudanças subitas de regulamentação ou de política. Muitas vezes referido genericamente como o aumento de tecno-nacionalismo, o impacto traduz-se na falta de confiança nos mercados e nas redes de comércio. Os riscos manifestam-se de várias maneiras, incluindo restrições à exportação, aumento de tarifas, regras de privacidade mais rígidas, incluindo o onshoring de dados, maior escrutínio de fusões e aquisições (M&A) e regras de propriedade, e muito mais.

As águas cada vez mais agitadas do comércio global são difíceis de navegar para qualquer empresa, mas o tema tem especial pertinência no sector TMT. Este sector depende de ativos – tangíveis e intangíveis – bem como de produtos e serviços que ofereçam vantagens competitivas, muitas vezes geoestratégicas. Como consequência, as empresas que nele operam estão particularmente expostas a toda a volatilidade de políticas sendo críticas decisões oportunas sobre a localização de ativos e o fluxo de produtos e serviços com impacto significativo e material no desempenho e na rentabilidade.
Por exemplo, os impostos sobre serviços digitais (DST) são uma tentativa de várias jurisdições de capturar maior receita tributária junto de grandes empresas de tecnologia. Essas empresas são predominantemente de origem norte-americana; portanto, em retaliação, o governo dos EUA procurou dissuadir outras empresas dos DSTs impondo tarifas até 25% sobre muitos produtos. É um olho por olho global e governamental com TMT no meio.

A disputa comercial em curso entre os EUA e a China é apenas um exemplo de muitas tensões comerciais bilaterais semelhantes em todo o mundo. Essas disputas não têm um fim óbvio à vista e são cada vez mais o pano de fundo normal contra o qual as empresas de TMT têm que operar. Recentemente, o governo dos EUA aumentou subitamente as tarifas sobre as importações chinesas como forma de aplicar pressão ou retaliação. Consequentemente, as tarifas sobre produtos de tecnologia importados da China para os EUA, que historicamente ficavam entre 0% e 3%, saltaram para 25%. O suficiente para eliminar os lucros de algumas empresas de TMT.
Outros riscos estão no horizonte enquanto a União Europeia (EU) discute a implementação de um imposto sobre o ajuste da fronteira sobre o carbono (CBAM) para produtos intensivos em energia. Vários países questionam se o CBAM pode violar os acordos multilaterais dos membros da Organização Mundial do Comércio. Há, pois, sérias preocupações quanto à possibilidade de o custo do carbono (CBAM) cobrado na importação para a UE poder iniciar uma nova fase de disputa comercial.

Uma estratégia comercial global de sucesso
O desenvolvimento de uma abordagem coordenada para o comércio global tem várias vantagens potencialmente significativas. Uma estratégia comercial global de sucesso inclui:
Construir uma função de comércio global integrada sendo imperativo de contratar especialistas em comércio global, bem como reunir competências de áreas como preços de transferência, jurídico, finanças, IT, entre outras. A experiência interna deve ser equilibrada com o envolvimento de especialistas externos e a sua perspectiva mais ampla.
Ser pró-ativo: aproveitando a função de comércio global para avaliar a sucessão de diversas alterações que impactem a indústria. É importante considerar a perspetiva de futuro nas decisões para garantir que elas equilibram as condições atuais com as mudanças previstas ou esperadas em acordos comerciais, regras tarifárias e políticas comerciais.

Criação de um modelo operacional flexível: tomar a decisão certa só é relevante se a empresa puder agir de acordo e colher os frutos. As empresas de TMT precisam de um modelo operacional que lhes permita adaptar-se às mudanças nas diversas jurisdições e ser eficientes e sustentáveis no atual cenário tributário global.
Então como é que todos esses elementos funcionam juntos numa estratégia de modelo operacional e comércio global eficaz? A curto e médio prazo, as empresas TMT devem contar com especialistas para assegurar a conceção de soluções para o mercado (global) e a descontinuação de soluções com maior risco e/ou mercado mais limitado. A longo prazo, considerar desenvolvimentos políticos e seu impacto na cadeia de valor.