Será que vai avançar a criação de uma nova contribuição das empresas para a Segurança Social, um imposto adicional que visa financiar o sistema de previdência e, ao que o PCP afirma, penalizar a automatização da economia?

Será que vai efectivamente ser aumentado, a breve trecho, o número dos escalões do IRS, que o Bloco de Esquerda não permite que caia da agenda mediática?

Irá a República Portuguesa avançar com uma proposta de renegociação da dívida à “Europa”, como ordena Francisco Louçã?

É impossível arriscar respostas definitivas para estas perguntas, mas é fácil afirmar que essas respostas não deveriam mostrar-se necessárias. Digo isto porque as dúvidas suscitadas por partidos e por pessoas que deveriam ser (e declaram que são) aliados do Governo e guardiões da estabilidade política, económica e social nada fazem senão construir e adensar um clima de instabilidade, imprevisibilidade e indefinição que vem minando, dia a dia, palavra a palavra, soundbyte a soundbyte, a credibilidade do país aos olhos de observadores e investidores nacionais e estrangeiros. A circunstância de os partidos que garantem a estabilidade governativa atacarem constantemente as convicções mais arreigadas do Governo e do PS é paradoxal mas não é nova nem é surpreendente – foi aliás glosada amiúde nesta página. O que me surpreende, isso sim, é que um partido com responsabilidades governativas, portador da herança axiológica de Abril e representante da tradição democrática continue a deixar-se torpedear por propostas da extrema-esquerda que, mais tarde ou mais cedo, é forçado a acomodar, aceitar ou temperar. E surpreende-me que o PS – que constitui o mínimo denominador comum às interrogações que deixei no início deste texto à laia de provocação – não procure fazer o balanço do que custa e custará isso ao país, confortando-se com os “números” que vão aparecendo e abraçando uma gestão de curto prazo inconsciente ou irresponsável.

Li algures que se tivéssemos apostado, numa casa de apostas britânica, 5 euros acumuláveis, desde Janeiro de 2016, na vitória de Trump, do Brexit e do Leicester City, teríamos hoje 15 milhões de euros.

Pois creio que esses mesmos cinco euros, apostados há um ano na subjugação do PS a partidos da esquerda antieuropeia e as forças que proclamam o apoio ao Governo enquanto organizam greves, renderiam hoje uma belíssima maquia. Não estou seguro do valor que se obteria, mas tenho a certeza de que – e é com pena que o verifico – o Partido Socialista é hoje, contrariando a opinião publicada dominante sobre António Costa, o principal factor de instabilidade e imprevisibilidade em Portugal. E quando acabar o curto prazo, será já tarde para emendar a mão.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.