Organizou-se recentemente um encontro sobre Responsabilidade Social, num evento de dois dias que juntou profissionais de diferentes áreas tentando criar um ambiente de discussão e partilha sobre os desafios de quem trabalha com as questões de Responsabilidade Social, quer esta seja Responsabilidade Social Corporativa, empresarial ou ambiental, sendo que actualmente todas as acções que visam práticas que tenham uma preocupação com o ambiente, as pessoas e a governança de forma sustentável, são denominadas estratégias de ESG (Environmental, Social and Governance, ou seja, Ambiente, Social e Governança Corporativa).

O primeiro dia versou sobre a apresentação do conceito de ESG e o segundo sobre a aplicação do mesmo por empresas que operam em Angola.

Confesso-vos que me senti ligeiramente defraudada, pois no pouco que sei sobre a matéria, depreendo que ESG é muito mais do que apenas as pessoas, sendo que sem dúvida alguma no nosso caso é necessário pensarmos um pouco diferente.

Sabemos que, actualmente, as empresas são alvo de grande escrutínio e que cada vez mais há uma preocupação com a sustentabilidade. Enquanto stakeholders ou shareholders, todos queremos produtos, marcas e organizações que se preocupam com as questões ambientais, sociais e de governança. Como tal, o ESG faz agora parte do reporting e quem adopta as suas métricas e intervenções ganha credibilidade, posiciona-se em bolsa ou adquire notoriedade.

Se é verdade que os ODS (Objectivos de Desenvolvimento Sustentável), com a sua agenda até 2030, ou iniciativas como o GRI – Global Report Initiative, as ISO e o ranking de empresas sustentáveis, começam a ganhar espaço, olhando para o caso angolano, estamos ainda muito longe da compreensão e dimensão desejáveis.

O que me defraudou no encontro foi ter percebido que o palestrante não só não tinha feito o seu “TPC” convenientemente, pois falou de modo superficial sobre o tema, como não conseguiu trazer para a discussão como é que nós, angolanos, podemos efectivamente aplicar estes pressupostos de sustentabilidade. Falar sobre ESG para quem se debate com questões da pirâmide de Maslow é, no mínimo, abstracto.

Temos desafios como a diminuição dos índices de malária, maior consumo de água potável ou até uma recolha eficaz de detritos. Pois bem, como sensibilizar comunidades que quando chove ficam sem tecto, ou que têm grande dificuldade em perceber o porquê de não se deitar coisas para o chão?

A Responsabilidade Social não tem a ver exclusivamente com uma liderança comprometida e engajada, pois ela nasce também de uma vontade da própria sociedade, que pressiona, exige e fiscaliza. Infelizmente, as necessidades primárias não atendidas fazem com que muitas das acções de Responsabilidade Social sejam muito próximas ao assistencialismo. Contudo, a sopa de hoje deixa de existir na próxima semana, sendo o importante criar condições para que quem seja beneficiado possa subsistir por si próprio.

Uma sociedade comprometida e consciente dará luz a associações de voluntários que possam doar tempo para a alfabetização ou para o ensino de algum conhecimento mais prático.

Uma sociedade comprometida e consciente terá no seu seio organizações em que os seus colaboradores adiram, de bom grado, a campanhas de reflorestação ou de doações de bens de primeira necessidade.

Uma sociedade comprometida e consciente saberá que a mudança passa pela educação dos mais novos e que estes, de forma lúdica, devem poder transmitir conhecimentos entre si.

Contudo, não será exigir demasiado, quando a maioria da população não sabe o que vai jantar?

Gostaria que o palestrante tivesse feito o trabalho de casa e que nos ajudasse a pensar um pouco como implementar ESG, pois enquanto mangopes – expressão que significa, em calão, “angolanos” –, temos inúmeros desafios pela frente, sendo que nos faltam espaços para reflexão e vontade para pensar global, mas agir local.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.