[weglot_switcher]

Os Pais deviam pedir desculpa aos filhos

Defendo que este vírus nos está a dar uma oportunidade de repensarmos o que faz mais sentido para as nossas vidas, se a necessidade material ou as pessoas.
26 Janeiro 2021, 07h15

Começo o meu primeiro artigo de opinião deste ano de forma diferente do que costumo fazer, ao não realizar nenhuma perspetiva, de como gostaria que fosse este 2021, porque o iniciamos da pior forma possível, confinados, devido aos excessos cometido no final de 2020.

Como pai sinto o dever de pedir desculpas aos meus filhos, porque faço parte de uma sociedade que demonstra cada vez menos respeito pelas crianças.

Como escrevi no meu artigo de opinião do mês de abril de 2020, a culpa das crianças estarem em casa confinadas, proibidas de brincar, socializar, de crescerem de forma natural, de irem à escola, é dos adultos, porque a existência deste vírus é uma consequência natural da sociedade em que vivemos, de como o homem se desrespeita a si próprio, à natureza, aos animais e a tudo o que o rodeia, devido à necessidade que tem de consumir e consumir, de mostrar e de ostentar todo um materialismo desmedido que faz parte das nossas vidas.

Defendo que este vírus nos está a dar uma oportunidade de repensarmos o que faz mais sentido para as nossas vidas, se a necessidade material ou as pessoas. Sinto que algo foi mudado e que muitas pessoas começaram a ver a vida com outros “olhos”, mas também que a necessidade de consumo está muito presente nas nossas vidas e que as pessoas, as famílias, as crianças, os valores e o respeito pelo próximo ainda não são os fatores mais importantes de uma sociedade que tem urgência de ser repensada.

Passámos o verão, o Natal e o Ano Novo a “assobiar para o lado” e eis que as nossas crianças já estão mais uma vez trancadas em casa devido à inconsciência e ao mau comportamento recorrente dos adultos que perante uma “Guerra Biológica” sem precedentes baixaram a guarda e mostraram muito pouco espírito de sacrifício, resiliência, resistência, passando a comportar-se como se o “inimigo” já estivesse morto e a “guerra” já tivesse terminado.

Com os comportamentos que todos tivemos, temos o “inimigo” cada vez mais forte e agressivo.

Peço a todos os que lerem este artigo que tenham respeito por si próprios, e que saiam de casa só mesmo quando necessitarem e, assim, colaborarem com os Heróis que estão nos Hospitais desde a primeira hora a salvar vidas e com o futuro das nossas crianças que não pode continuar a ser hipotecado por causa do egocentrismo dos seus pais. Piaget defendia que “toda a aprendizagem da criança deriva da manipulação de objetos e ideias e todo o seu desenvolvimento está, portanto, associado à interação com o meio, que tem como finalidade a adaptação ao mesmo através de dois processos complementares: a assimilação, que (…) permite que a criança consolide estruturas mentais (…)” (Smith, Cowie & Blades, 1998); a acomodação, que provoca a mudança evolutiva, por isso não podemos, nem devemos, continuar a privar as crianças da sua liberdade e de um crescimento equilibrado.

Por tudo isto neste período de confinamento devemos pedir desculpa às nossas crianças, acarinhá-las, brincar com elas e demonstrar que a partir de agora vamos mudar muitos dos hábitos que nos estão a arruinar como sociedade.

www.mariofortes.pt

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.