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Países mais pobres só receberam 25 vacinas contra a Covid-19. OMS alerta para “catástrofe moral”

O responsável da Organização Mundial de Saúde apela que os países com maiores quantidades “acumuladas” partilhem vacinas com a COVAX para que as nações mais pobres arranquem, também, com a vacinação nos profissionais de saúde e idosos. Elevada procura e fraco poder de compra bloquearam acesso dos países com menores rendimentos às vacinas contra Covid-19.
18 Janeiro 2021, 13h04

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou um aviso claro sobre a desigualdade no acesso às vacinas contra a Covid-19.

“Já foram administradas mais de 39 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19, em 49 países de altos rendimentos. Mas apenas 25 foram dadas num país de baixos rendimentos. Não são 25 milhões, nem 25 mil. Apenas 25 doses”,​​ afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, na abertura da reunião do conselho executivo da OMS, esta terça-feira.

Face a esta realidade, o responsável lançou um alerta: “Preciso ser honesto. O mundo está à beira de uma falha moral catastrófica e o preço dessa falha vai ser pago nas vidas dos países mais pobres”, cita a “CNBC”, as declarações do diretor-geral.

Em causa está a desigualdade no acesso à saúde, que se tornou transparente na crise da Covid-19. Os países ricos, com capacidade para firmarem contratos com as grandes farmacêuticas para encomendarem antecipadamente muitos milhões de vacinas contra o novo coronavírus, esgotaram a capacidade de produção das farmacêuticas. Esta procura elevada, e o fraco poder de compra, bloqueou a tentativa de encomenda dos países mais pobres, e segundo alguns cálculos, algumas nações poderão ficar privadas destes fármacos até 2024.

Estes países depositam grande parte das suas expectativas na iniciativa global COVAX, posta em prática pela OMS, a Aliança GAVI e outras organizações internacionais dedicadas à promoção da vacinação. O programa pretende distribuir pelo menos dois mil milhões de doses até ao final de 2021 de forma a imunizar 20% das pessoas mais vulneráveis em 91 países pobres, principalmente em África, na Ásia e na América Latina.

Embora considere que o desenvolvimento de uma vacina um ano depois do surgimento dos primeiros casos de Covid-19 em Wuhan, na China, tenha sido uma “conquista impressionante e uma fonte de esperança muito necessária”, Tedros Adhanom Ghebreyesus acrescentou que “não é certo que adultos mais jovens e saudáveis nos países ricos sejam vacinados antes dos profissionais de saúde e idosos nos países mais pobres”.

Por isso, deixa uma sugestão aos países que acumularam milhões de doses: porque não partilharem algumas com os países mais pobres, através da iniciativa COVAX, depois de terem vacinado as suas populações prioritárias, trabalhadores da saúde e pessoas mais velhas?

“Ainda não é tarde demais. Apelo a todos os países para que trabalhemos juntos para garantir que, nos primeiros 100 dias desde ano, a vacinação dos trabalhadores da saúde e das pessoas mais velhas possa iniciar-se em todos os países”, reforçou. “Haverá vacinas suficientes para todos, mas agora temos que trabalhar juntos como uma família global para prioriza aqueles com maior risco de doenças graves e morte em todos os países”, continuou.

Assim, o representante da OMS convocou os países mais ricos que encomendaram milhões de doses de vacinas contra o coronavírus, como os Estados Unidos, o Reino Unido e a Europa, a partilhar uma parte dessas vacinas com a COVAX, para que ela possa redistribuí-las para os países mais pobres.

As nações mais ricas foram acusadas de “acumular” mais vacinas do que precisam, embora o fornecimento destes fármacos ainda esteja nos seus primeiros dias, já que as iniciativas de inoculação em massa – que começaram em novembro, em alguns países, e dezembro na Europa – ainda estejam principalmente no seu primeiro estágio de distribuição.

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