No seu último discurso no congresso da banca europeia, enquanto presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi defendeu que “não há razão para que o crescimento na Zona Euro termine de forma abrupta” e notou que “uma desaceleração gradual é normal na medida em que a expansão amadurece e o crescimento converge para o seu potencial a longo prazo”. O presidente do BCE destacou ainda que “a expansão da Zona Euro é relativamente curta em duração e pequena em tamanho”. Por isso, concluiu, é expectável que a expansão se mantenha nos próximos anos.

Na prática, ainda que não ignorando os riscos existentes, Mario Draghi salientou que por agora não existe motivo para alarme. É certo que o PIB europeu registou uma desaceleração no terceiro trimestre deste ano. Porém, no essencial, o presidente do BCE salientou que tal se deveu a factores circunstanciais de natureza one-off.

Estas afirmações de Mario Draghi, de algum modo tranquilizadoras, tiveram amplo eco. Na minha perspectiva, porém, a parte mais relevante – e, se se quiser, mais política do seu discurso –, ficou guardada para as conclusões da sua intervenção que, curiosamente, passaram ao lado do radar da comunicação social nacional e europeia.

Uma vez mais, o ainda presidente do BCE, de algum modo ‘vencido’ pelas divisões e divergências europeias, renovou o seu apelo para que se complete a União Económica e Monetária (UEM) que, apesar dos progressos significativos registados nos últimos anos, continua longe de estar concluída.

Trata-se de um apelo tanto mais relevante porque de algum modo se vai diluindo o sentimento de urgência junto da opinião pública e da elite política europeia. Ainda que os riscos continuem a ser muito relevantes, sobretudo para os países mais vulneráveis, como é o caso de Portugal, a verdade é que a conclusão da UEM tem sido mantida fora da agenda política europeia.

Em todo o caso, este continua a ser um debate que nos interessa e que politicamente deveria ter outra visibilidade no espaço público. Um debate e uma prioridade que os partidos políticos portugueses, com especial destaque para PS, PSD e CDS, tanto quanto lhes seja possível, não deveriam deixar cair no esquecimento.

Enquanto presidente do maior e mais representativo sindicato da banca, dou especial atenção a estas matérias, como não poderia deixar de ser. Ora, como é evidente, não poderia estar em maior sintonia com Mario Draghi, nomeadamente quando reitera a importância de se completar a União Bancária em todas as suas dimensões, incluindo na necessidade de se adoptar medidas de redução de risco, e de se iniciar o processo de construção de uma União dos Mercados de Capitais.

Sejamos muito claros. Tudo o que contribua para reforçar a solidez da banca europeia é positivo para a banca portuguesa e para o interesse nacional. Beneficiamos todos: os bancários, os clientes dos bancos e, em última instância, os contribuintes.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.