No primeiro debate da campanha pela liderança do PSD, Rui Rio ligou o detector de maçons. As respostas que obteve foram, são, elucidativas.

O candidato Pinto Luz confirmou ter pertencido. Segundo ele, entrou jovem e saiu mal passou a exercer funções públicas.

Ao contrário de Pinto Luz, o outro candidato que concorre com Rui Rio, Luís Montenegro, ex-líder parlamentar do PSD, reconheceu ter estado presente numa reunião mas voltou a negar o que já foi confirmado pelo site “Polígrafo”, a 17 de janeiro deste ano de 2019 e com a assinatura do jornalista Fernando Esteves. À pergunta “Luís Montenegro pertenceu à poderosa loja maçónica Mozart?”, o site, que tem uma extensão e programa semanal na SIC, respondeu inequivocamente “Sim”.

Os factos, para quem se interessa por estas coisas da verificação do que se diz e faz, essencial para a existência de uma Democracia saudável e de uma comunicação social credível, parecem claros. Montenegro terá sido iniciado na loja Mozart em 2008, à qual pertenceram Nuno Vasconcelos, da defunta Ongoing, também Agostinho Branquinho (contratado pela mesma ex-poderosa organização quanto era deputado do PSD para dirigir a operação no Brasil) entre outros nomes conhecidos da política, vida empresarial e espionagem cujo elo de lógica de relacionamento pode ser encontrado facilmente a partir de pesquisas no Google.

Esta loja, considerada muito ativa e poderosa, foi desativada no momento da condenação de Jorge Silva Carvalho, o famoso espião que também foi figura importante da Ongoing, uma organização em tons de laranja que conviveu bem com o período de poder de José Sócrates.

As respostas díspares de Pinto Luz e Luís Montenegro são obtidas a partir da insistência de Rui Rio, que é tudo menos ingénua e que pretende separar as águas no PSD. Para além da ambição dos protagonistas, e das suas diferenças políticas e de estratégia, Rui Rio quer obviamente realçar um ponto: ele será um homem livre, apenas sujeito às suas ideias e à sua cabeça. Ao invés, os seus adversários, maçons, ex-maçons, convictos ou envergonhados, serão homens hipotecados a lealdades sombrias e a obediências necessárias.

O tema continua incómodo. Em poucas horas vi pessoas, algumas das quais jornalistas, a tentar desvalorizar o tema que Rui Rio colocou em cima da mesa.

Para mim, ao contrário, é muito importante.

E, de forma instantânea, fez-me recordar uma conversa que tive com Mário Soares, algures em 2012/2013, uma tarde na sua Fundação. Tinha havido um encontro cultural, no qual fora orador Rui Moreira, agora presidente da Câmara do Porto, e falara-se, já não me recordo porquê, da maçonaria. No final, tendo-se proporcionado, perguntei a Mário Soares, agora no seu gabinete, se poderia responder-me a uma curiosidade pessoal, que considerava, além do mais, talvez melindrosa. Tendo recebido sinal verde para avançar, disparei-lhe: “É verdade que pertence à maçonaria?” A resposta foi pronta e pautada pelo sorriso: “Acho que não”. E explicou-me. Aderira, de facto, à maçonaria no período de resistência ao fascismo, porque entendera isso útil para o seu combate político, mas já não frequentava reuniões “há mais de 30 anos”. Perguntei-lhe porquê e guardo as suas palavras curtas: “Porque, depois de me tornar primeiro-ministro, percebi que queriam mandar em mim”.

Se recordo este episódio é porque, como Rui Rio, considero importante saber se um homem público, que se propõe liderar um grande partido e, por extensão, arriscar-se a governar um país, é verdadeiramente livre, dono da sua ação; se no século XXI, em Democracia, é coisa de somenos pertencer a uma organização semi-secreta.

Como vimos pelas respostas, Pinto Luz e Luís Montenegro, de forma radicalmente diferente, entendem ser-lhes útil negar quaisquer ligações à maçonaria. Pinto Luz reconhece que um homem em cargos públicos deve estar longe de qualquer loja. Montenegro, aceitando apenas ter estado presente numa reunião, também nos sugere o mesmo. Politicamente é igual. Quanto ao caráter é que pode ser diferente. Mas disso cuidarão, por agora, os eleitores do PSD.