A invasão russa desencadeou uma crise de refugiados que a ONU considera ser a mais grave na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Independentemente da escala, a Europa sempre presenciou movimentos migratórios. Por conseguinte, seria de esperar que tais fenómenos fossem tolerados. Todavia, os movimentos migratórios são muitas vezes associados a escaladas de retóricas racistas e xenófobas. Contudo, quando corretamente integrados, os imigrantes podem beneficiar tanto os países de origem como os países de acolhimento. Assim, estes não devem ser encarados como um contratempo.

As migrações fazem parte da História. Não obstante, a maioria das pessoas continua a viver no seu país de origem, sendo que, em 2020, os migrantes internacionais constituíam apenas 3,6% da população mundial. Sendo assim, porque existe tanta aversão a fenómenos migratórios?

É comum ouvir que os imigrantes “não têm estudos”, “vêm roubar trabalhos”, ou “aumentar a criminalidade”. Contudo, a maioria da investigação não encontra efeitos significativos de que os imigrantes aumentam o desemprego de nativos, nem sugere que a vinda de imigrantes aumenta a criminalidade no país de acolhimento. Adicionalmente, os indivíduos que migram tendem a ser positivamente selecionados, isto é, tendem a ser os mais educados e com maior rendimento dentro do seu país de origem, visto que a migração envolve custos.

Posto isto, de que forma podem os imigrantes fomentar o crescimento económico? Nos países de origem, as remessas facilitam a acumulação de capital e investimentos em, por exemplo, educação. Para além disso, os migrantes adquirem novos valores culturais que, quando transmitidos, podem fomentar mudanças de atitude a nível do empreendedorismo, por exemplo. Nos países de acolhimento, os imigrantes têm potencial para aumentar a capacidade produtiva das economias. No caso de serem trabalhadores por conta própria, fomentam a criação de negócios, mas mesmo trabalhando por conta de outrem, acabam por preencher lacunas em setores com falta de trabalhadores. Para mais, quando em idade ativa, representam receitas para serviços como a Segurança Social.

Isto é importante para países com uma pirâmide etária tendencialmente invertida, como é o caso de Portugal. A título de exemplo, em 2020, os imigrantes em Portugal representaram 9,2% do total de contribuintes para a Segurança Social apesar de, à altura, representarem 6,4% da população residente. Este número reflete-se em 64 contribuintes imigrantes por cada 100 residentes contra 45 contribuintes portugueses, tendo os imigrantes maior capacidade contributiva.

Apesar dos fatores acima referidos, os imigrantes são ainda confrontados com trabalhos precários e salários mais baixos, sendo que muitos ocupam funções abaixo das suas qualificações. Assim sendo, torna-se crítico repensar as estratégias de integração. A título de exemplo, facilitar o processo burocrático de atribuição de número de utente do Serviço Nacional de Saúde ou do número de identificação de Segurança Social. Desta forma, reduzem-se assimetrias de informação e asseguram-se mais facilmente os contratos de trabalho, evitando situações precárias.

Para além disso, a formação linguística aumenta as oportunidades de trabalho e facilita a integração social.  Por fim, algo tão simples como o contacto interétnico e cultural ajuda a diminuir comportamentos hostis e discriminatórios para com migrantes.

Em suma, apesar de as migrações representarem uma alteração significativa na vida dos migrantes, especialmente quando estes incorrem em riscos imensuráveis para o fazer, podemos melhorar a forma como os integramos nas nossas sociedades. Contudo, isto requer uma reformulação das políticas públicas e de investimento. E não se pense que a migração tem vida curta, pois para além das motivações económicas e bélicas a que estamos habituados, as alterações climáticas podem vir a gerar 143 milhões de migrantes.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o Nova Economics Club, o grupo de estudantes de Economia da Nova School of Business and Economics.