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Porque é que os hotéis de luxo em Portugal são tão baratos?

As empresas de private equity assumiram o controle de vários grupos hoteleiros durante a crise. A concorrência vê desigualdade e não consegue acompanhar os preços mais baixos, denuncia a Bloomberg.
  • Fonte: NAU Hotels & Resorts
15 Fevereiro 2017, 12h43

O preço de um quarto duplo no Vintage Lisboa, um hotel de cinco estrelas, é de 122 euros, com pequeno-almoço. Quem o diz é a Bloomberg, que escreveu um artigo onde explica porque é que Portugal tem os preços mais competitivos no que diz respeito aos hotéis de luxo.

Para a explicação temos de recuar até 2011, quando Portugal pediu um plano de resgate e deixou o FMI entrar no país. Os investidores fugiram e os credores ficaram com créditos malparados de grupos hoteleiros que planeavam vender as propriedades para pagar as dívidas. Para limitar as perdas nos empréstimos, alguns desses ativos foram transferidos para fundos de maneio, geridos por empresas de private equity.

Desde que Portugal saiu do plano de resgate, há dois anos, que a percentagem de créditos malparados tem sido de 12%, de acordo com o Banco de Portugal.

Para o Banco Comercial Português S.A., os fundos de reestruturação criados pelas empresas de private equity permitiram que as unidades hoteleiras falidas reabrissem as portas. “Muitos destes hotéis já podem aproveitar o bom momento que o turismo em Portugal está a passar, beneficiando os seus clientes, colaboradores e, naturalmente, também os seus credores”, disse Miguel Maya, membro do Conselho de Administração do Banco Comercial Português à Bloomberg. “O objetivo não é manter esses hotéis por mais 20 anos. Os gestores sabem disso e têm os incentivos certos para vender “.

Em 2013, no auge da crise financeira em Portugal, a ECS Capital assumiu o controlo da Herdade dos Salgados, no Algarve. O controlo por parte da ECS foi uma tentativa de limitar os maus empréstimos dos bancos e reforçar a recuperação da dívida. Agora, quatro anos depois da ECS ter tomado o controlo das propriedades, a concorrência admite que estão a ser prejudicados pelos preços muito competitivos e pelos descontos praticados pela ECS, que adquiriu os ativos ao “desbarato”. 

“Essas empresas receberam os ativos em condições favoráveis e agora podem oferecer tarifas mais baixas do que a maioria de seus concorrentes”, disse Raul Martins à Bloomberg, diretor da Associação de Hotéis de Portugal, que representa cerca de 600 empresas hoteleiras.

A Explorer Investments A SCR SA, outra empresa de private equity, tem pelo menos quatro hotéis no Franklin Biotechnology Discovery Fund. Também a Oxy Capital controla vários hotéis, incluindo dois hotéis de cinco estrelas no Algarve e um em Tróia.

O problema, para Raul Martins, é que a maioria dessas empresas de private equity adquiriram os ativos abaixo dos preços de mercado. “É por isso que eles podem dar-se ao luxo de competir agressivamente. O nosso desejo é que eles estabeleçam os preços de acordo com o mercado”.

O grupo hoteleiro Vila Gale SA, o segundo maior de Portugal, com cerca de 20 hotéis no país, também tece queixas. O grupo diz que as empresas de private equity colocaram-se numa posição privilegiada no mercado. “Seria uma coisa se essas empresas tivessem que investir dinheiro para comprar esses hotéis como um investidor normal”, disse Jorge Rebelo de Almeida, dono dos hotéis Vila Gale. “Os hotéis que são meus não foi a minha tia que mos deu.”

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