Um ano depois da primeira subida da taxa de juro pelo Banco Central Europeu os tempos parecem mudados. Se a inflação desacelerou na União Europeia (UE), também é certo que as suas economias fortes estão hoje menos fortes, enquanto as fracas aparentam estar não tão fracas.

Os últimos dados do Eurostat indicam uma quebra da atividade económica (crescimento homólogo para o segundo trimestre) na Alemanha, Áustria, Países Baixos e Suécia, que se estende já aos países do Leste europeu, como a Chéquia, a Estónia, a Hungria, a Letónia e a Polónia. Fora da Europa, causa espanto o abrandamento da economia chinesa.

Entretanto, a economia portuguesa permanece em contraciclo, exibindo a terceira melhor taxa de crescimento da União Europeia para o mesmo período, cerca de 2,3%, no que é apenas superada pela Irlanda (com uma taxa de 2,8%) no conjunto restrito da zona euro.

Também na inflação Portugal se destaca pela positiva, contrastando os seus 4,3% com os 5,3% da zona euro no mês de julho.

O papel que a geografia terá neste contexto, é algo que está ainda por apurar. A uma geografia humana e cultural que é moldada pelo clima e potencia o infindável turismo, veio somar-se a geografia física que coloca Portugal nos antípodas da guerra no continente europeu e o torna menos dependente do gás e petróleo russos.

Talvez pela partilha de características, Espanha – o dínamo e o barómetro português – surja também como uma das economias mais pujantes da zona euro, com um crescimento de 1,8%. Mas em contraste com os indicadores que destacam Portugal do centro da Europa, o sentimento dominante entre os cidadãos é de degradação do seu nível de vida.

Dos relatos sobre o aumento do esforço financeiro das famílias com crédito à habitação – segundo o INE, a taxa de juro implícita nos contratos de crédito à habitação atingiu 3,878% em julho – à forma como a inflação continua a pesar sobre o cabaz básico, – apesar de medidas como o IVA zero que poderá ir sendo lentamente absorvido – tudo indica uma perda do poder de compra.

A Sul, as menores taxas de ocupação por portugueses, denunciadas pela Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), são uma expressão mais suave do agravamento da situação económica.

O país parece ter entrado em modo dual, com um lado da economia que se afirma pujante e desafia o ritmo de crescimento europeu e outro condenado a seguir em último e sem capacidade de recuperação. Até quando poderá o primeiro resistir sem o segundo?