No Ano Europeu das Competências, é crucial destacar a necessidade contínua de adquirir novas competências, sobretudo, no contexto de inovação digital que enfrentamos. Para Ursula von der Leyen, é essencial impulsionar a aprendizagem ao longo da vida, a fim de alinhar as aspirações e competências das pessoas com as oportunidades do mercado de trabalho, especialmente em relação às transições ecológica e digital, e à recuperação económica.

É importante ressaltar que no século XXI, o sucesso de qualquer empresa depende da qualificação adequada dos seus profissionais. Em Portugal, este desafio é particularmente relevante, uma vez que nos deparamos, frequentemente, com a escassez de profissionais qualificados em número suficiente.

Na arquitetura, a importância da disciplina não pode ser ignorada quando se trata de abraçar um conjunto de novas competências essenciais para o desenvolvimento de processos criativos e produtos inovadores, através da integração de tecnologias de sensorização, simulação imersiva, robotização, impressão 3D e inteligência artificial (IA).

Como salienta o arquiteto José Pedro Sousa, “a interferência da tecnologia digital na arquitetura contemporânea vem afetando profundamente a prática e a teoria da disciplina, questionando as fronteiras e métodos que convencionalmente definem os territórios e modos de intervenção arquitetónica”.

A digitalização da construção está na ordem do dia e impõe um conjunto de ferramentas que representam tanto oportunidades quanto desafios para os arquitetos. A capacidade de se adaptarem e adotarem novas tecnologias é essencial para se manterem relevantes e atenderem às constantes mudanças do setor.

A adoção do BIM (Building Information Modelling), já obrigatória em vários países da União Europeia e, a partir de janeiro de 2025, também em Portugal, requer a atualização dos processos de trabalho, a partilha de informação e a colaboração entre todos os intervenientes ao longo de todas as fases do ciclo de vida de um projeto arquitetónico.

Nos últimos meses, foi anunciado mais um avanço nesse sentido, com a proposta de desmaterialização dos procedimentos de licenciamento de projetos nas 308 câmaras municipais nacionais. Associado a isto, temos a rápida evolução de tecnologias emergentes, como a inteligência artificial e a robotização, que podem ser utilizadas para melhorar a visualização e a colaboração iterativa.

A crescente preocupação com a sustentabilidade ambiental está, também, a influenciar a profissão de arquiteto em toda a Europa. Os arquitetos enfrentam o desafio de projetar edifícios energeticamente eficientes e de baixo impacto ambiental, utilizando sistemas passivos de construção, energia renovável e materiais sustentáveis – o que requer a compreensão sólida das melhores práticas e o uso de ferramentas de simulação ambiental.

A transição ecológica e digital estão a criar novas oportunidades para os arquitetos, impulsionando novas praxis na profissão. No entanto, a adoção e integração efetivas das tecnologias digitais exigem um investimento significativo na formação.

Para que a arquitetura continue a desempenhar um papel central na inovação e liderança do setor AEC em Portugal, é necessário uma aproximação entre os mundos académico e empresarial, por meio de protocolos de colaboração com gabinetes de arquitetura, municípios e indústria. Somente assim será possível a participação dos arquitetos em programas de atualização e reconversão de competências para uma praxis digital.

A implementação de novos programas de mestrado de um ano, voltados para a inserção no mercado de trabalho, é uma resposta adicional às novas exigências AEC e à necessidade urgente de capacitação dos arquitetos na praxis digital.