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Primeiro desafio da candidata Ana Gomes é fazer pontes entre centristas e ala esquerda do PS

Apoiantes como Francisco Assis e Henrique Neto limitam entusiasmo pela candidatura da antiga eurodeputada entre socialistas que se recusavam a contribuir para a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas o deputado Eduardo Barroco de Melo afirma que “veria facilmente muitos socialistas a apoiar a candidatura de Marisa Matias” caso Ana Gomes não tivesse avançado.
  • Ana Gomes
8 Setembro 2020, 18h00

As primeiras reações à confirmação de que a antiga eurodeputada socialista Ana Gomes irá candidatar-se às eleições presidenciais de janeiro de 2021 mostraram que o PS continua tão dividido como ficou quando, a 13 de maio, o primeiro-ministro António Costa quis “encerrar” o assunto com um apoio implícito à reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, tendo o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, afirmado posteriormente que votaria no atual Chefe de Estado se este procurasse um segundo mandato.

O primeiro desafio de Ana Gomes, que irá apresentar a candidatura na tarde de quinta-feira, na Casa da Imprensa, em Lisboa, será construir a difícil ponte entre apoiantes da linha “centrista”, como o também ex-eurodeputado Francisco Assis (atual presidente do Conselho Económico e Social), que foi um dos maiores críticos da “geringonça”, ou o empresário e ex-militante socialista Henrique Neto, e a ala esquerda do partido, que tem um grande peso no Governo e no grupo parlamentar. Algo que não se afigura fácil, por muito que vários destes últimos tenham vindo a deixar claro que não admitem contribuir para a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, com o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, a dizer numa entrevista ao “Expresso” que votaria num candidato do Bloco de Esquerda ou do PCP se não surgisse um candidato presidencial socialista.

Difícil, mas não impossível, é a possibilidade de alguns socialistas mais à esquerda optarem por apoiar a bloquista Marisa Matias, que repete a candidatura presidencial após obter 10,12% dos votos em 2016, ficando apenas atrás de Marcelo Rebelo de Sousa e do independente Sampaio da Nóvoa. A eurodeputada irá fazer uma declaração nesta quarta-feira, às 17h00, no Largo do Carmo, em Lisboa, na presença de profissionais que estiveram na linha da frente do combate à pandemia de Covid-19, seguindo-se uma apresentação formal da candidatura ainda sem data, já com figuras do seu partido – e eventualmente de outros.

A esse propósito, o deputado Eduardo Barroco de Melo, o qual não vê que Ana Gomes “possa ser confundida com uma centrista” apesar dos seus apoiantes, argumenta que a ex-eurodeputada servirá para conter o poder de atração de Marisa Matias junto da ala esquerda do PS. “Eu não digo que não possa haver quem prefira Marisa Matias a Ana Gomes, mas no campo do apoio público acho que a candidatura da Ana Gomes vai limitar possibilidades. Sem ela, veria facilmente muitos socialistas a apoiar a candidatura de Marisa Matias”, disse ao Jornal Económico.

Pelo contrário, o deputado socialista madeirense Carlos Pereira recorreu às redes sociais para vincar a sua clara oposição à também antiga embaixadora de Portugal na Indonésia. Assumindo estar a revelar uma posição individual, escreveu no Facebook que não votará “numa candidata que está sempre do lado fácil, simplificando os argumentos para amplificar os ‘seus chavões’, ignorando deliberadamente a complexidade da vida real”, que “faz do julgamento público arbitrário o seu cartão de visita” e que “atrai votos manifestando superioridade moral a todo o custo, por vezes sem fundamento”.

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