Sem surpresa, uma vez declarada a recessão técnica alemã, dados do Eurostat confirmaram que também a zona euro está em recessão técnica. Uma recessão suave – no primeiro trimestre de 2023 o PIB caiu 0,1% em comparação com o último trimestre de 2022 – mas que compara com as previsões da OCDE para o crescimento global, estimadas em cerca de 2,7%.

A questão que se pôs de imediato foi se iria o Banco Central Europeu (BCE) prosseguir nos seus aumentos da taxa de juro de referência ou se teria sido aberto o espaço para uma mudança de política económica.

Enquanto o “Politico” escreveu imediatamente que a tarefa do BCE de combate à inflação ficou mais complicada com a contração da zona euro por dois trimestres consecutivos, veículos de informação económica como “The Economist” ou o “Financial Times” parecerem querer evitar alarido, noticiando de forma discreta a recessão da zona euro.

É que poucos dias antes do Eurostat divulgar estas estatísticas, Christine Lagarde apresentava ao Parlamento Europeu as suas perspetivas económicas para a zona euro e reiterava como prioridade a luta contra a inflação, que segundo o BCE terá descido para 6,1% em maio, enquanto a inflação nos preços dos alimentos permaneceu nos 12,5%

A presidente do BCE mostrou-se otimista quanto à atividade económica da região, sustentada pela diminuição dos preços da energia, a redução dos estrangulamentos da oferta e as políticas de apoio orçamental às empresas e às famílias. E lembrou que, para evitar a subida da inflação a médio prazo, os governos se deverão preparar para reduzir os auxílios, à medida que a crise energética se for dissipando.

Os indicadores macroeconómicos da zona euro mimetizam os alemães – a procura permanece fraca, em especial o consumo, enquanto o desemprego está em níveis muito baixos do ponto de vista histórico. Para Daniel Kral, economista sénior do Oxford Economics, a recessão europeia foi contida até agora pelo comportamento da procura externa.

Para o BCE, a inflação justifica uma nova subida das taxas de juro de referência em 25 pontos base em junho, por prejudicar em especial as famílias de menor rendimento. Seguir-se-á o descontinuar do programa de compra de ativos a partir de julho.

Mas se a recessão técnica não parece inquietar os dirigentes europeus, é evidente que estes não estão tão seguros quanto ao desempenho do sector bancário. As falências do Sillicon Valley Bank e do Credit Suisse não foram menosprezadas, nem se dissipou o receio de um novo episódio de instabilidade financeira. O BCE sobe a taxa de juro, mas Lagarde justifica-se dizendo que não há conflito entre a estabilidade de preços e a estabilidade financeira, antes uma requerendo a outra.

Uma visão semelhante foi partilhada pelo FMI, dizendo que, especialmente em períodos de inflação elevada, pode haver conflito entre a estabilidade dos preços e a estabilidade financeira, tudo dependendo do grau de stresse do sector financeiro.

Por ora, o BCE vai ignorar a recessão e manter o rumo da sua política monetária, mas esta será uma navegação à vista, atenta aos desígnios do sector financeiro.