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Quinta Nova, do Grupo Amorim, defende articulação de toda a oferta nacional de enoturismo

Segundo Paula Sousa, “o Douro não pode ser apenas promovido como destino de sol e vindima… há um outro Douro de vinhas douradas, lareira acesa e gastronomia de outono/inverno, capaz de captar muito outros clientes”.
21 Novembro 2017, 07h10

Américo Amorim criou um dos maiores grupos empresariais nacionais. Umbilicalmente ligado à cortiça e aos sobreiros. Em relação direta com os produtores e exportadores de vinhos. Daí até entrar na produção de vinhos no Douro foi um passo. Cujo resultado mais sensível é a Quinta Nova, de onde saem alguns dos melhores vinhos do País. A Quinta Nova é um dos exemplos de como se deve encarar a produção de vinho integrada numa oferta estruturada de enoturismo, com restaurante, museu, adega, provas de vinhos, visitas, percursos, experiências. Já são 12 mil os visitantes por ano. Paula Sousa, responsável do marketing e comunicação e da promoção turística da Quinta Nova, explica-nos como funciona o projeto e alerta para a necessidade de estrutura a oferta nacional de enoturismo.

De que forma as vindimas e as atividades organizadas em torno delas têm potenciado a actividade, não só da produção de vinhos, mas também do enoturismo e do setor hoteleiro no vosso grupo, e de uma forma geral, em Portugal?

A época de vindimas continua a despertar muito interesse junto de turistas do mundo todo, pela relação emocional que gera entre estes e o processo vinícola e enológico. São momentos em que os produtores partilham o seu saber, o seu tempo e toda a magia em torno do vinho e da vinha, sempre que possível articulados com visitas, provas, refeições harmonizadas com os seus vinhos e, muitas vezes, com alojamento.

No caso da Quinta Nova é esta integração ao nível do enoturismo que propomos a todos aqueles que nos visitam, resultando nos últimos anos num crescimento notável desta atividade que, por sua vez, alavanca naturalmente a venda de vinho e o fortalecimento da marca junto dos vários mercados. Quem visita  o projecto vem, de antemão, à procura de uma bela história por detrás da garrafa de vinho ou, sendo desconhecedor, é um potencial cliente que merece a nossa atenção e fazemos por converter em prescritor e embaixador da marca. É um trabalho diário de pequenos passos, de visão de longo prazo.

Já é possível fazer um balanço desta última campanha?

Terminamos já a vindima mas ainda se desenvolvem alguns processos técnicos que nos darão um perfil inicial dos vinhos desta campanha. Mas as perspectivas são as melhores!

É possível ter dados quantitativos, em termos de receitas, de número de dormidas, etc, que proporcionem uma ideia de quanto movimenta este setor de atividade em Portugal e na região em que operam?

Não tenho dados nacionais e penso que não estão muito estruturados.

Quais as perspetivas de desenvolvimento deste segmento de atividade – enoturismo, vinhos, gastronomia, etc – no futuro?

No caso do Douro, o caminho é de crescimento óbvio, mas ainda persiste a necessidade de investimento em atividades paralelas ao simples alojamento e restauração, bem como estruturas que gerem dinâmica social e económica de forma a reter a população local e melhorar a qualidade de vida no território. É essencial este foco na componente social para que o tecido empresarial possa desenvolver-se sustentadamente e os turistas sintam que toda a região está preparada para os receber na sua plenitude, algo que ainda não acontece neste momento. A evolução tem sido muito positiva e rápida, mas há ainda espaço para um forte ‘input’ de investimento na região.

Que iniciativas prevê lançar nesta área a curto e médio prazo?

Acabámos de abrir o Wine Museum Centre Fernanda Ramos Amorim, um espaço único que relata de forma muito particular o ciclo do vinho do Porto nos séculos XIX e XX, e que estamos ainda a promover junto dos mercados, não estando previsto de momento qualquer outro investimento.

Este novo espaço veio integrar todo o conjunto de atividades enoturísticas já existentes, sendo as mais procuradas as visitas guiadas, as provas comentadas e os circuitos pedestres pela vinha, a par do restaurante vínico e do hotel, resultando numa experiência global que em 2016 acolheu mais 12.000 visitantes.

O que é que, no seu entender, falta e devia ser feito para uma maior afirmação deste segmento de atividade em Portugal?

Há já um olhar mais atento ao segmento de enoturismo por parte da tutela, no entanto a articulação nacional de toda a oferta é fulcral para que se ganhe dimensão e, consequentemente, visibilidade. É importante que cada produtor olhe o seu vizinho como um parceiro e não como um concorrente, que se trabalhe mais em rede e que se entendam os territórios como património a desvendar, a promover e a integrar nas ofertas de cada um. Um destino turístico só se constrói desta forma e o enoturismo nacional já tem todas estas valências ao dispor para se afirmar. Bastará não perdermos mais tempo e aproveitarmos os holofotes que se apontam a nós atualmente.

Qual a incidência da sazonalidade neste tipo de atividade, como é que essa tendência tem vindo a evoluir e quais as perspetivas de evolução para o futuro? 

A sazonalidade tem vindo a diminuir bastante mas, no que respeita ao interior do país não poderemos afirmar que não existe. No inverno ainda se verifica uma quebra acentuada na procura mas tem-se verificado ser uma época interessante para mercados do hemisfério sul, com destaque para o Brasil. O Douro não pode ser apenas promovido como destino de sol e vindima… há um outro Douro de vinhas douradas, lareira acesa e gastronomia de outono/inverno, capaz de captar muito outros clientes.

 

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