Após a tempestade vem a bonança, reza o adágio que o índice PSI 20 parece querer seguir nos últimos anos. Desde 2013 que o principal índice acionista português intercala anos de ganhos significativos com outros de desvalorizações acentuadas. O ano que termina este domingo representou o regresso às subidas, após o tombo de quase 12% em 2016.
O primeiro mês de 2017 não augurava um ciclo positivo, com o índice a recuar mais de 5%, mas os dois meses seguintes trouxeram agitação, com o disparo do BCP e a Oferta Pública de Aquisição (OPA) da EDP sobre a fatia que não detinha da EDP Renováveis a ‘empurrarem’ o PSI 20 para acima dos 5.000 pontos mesmo no final do primeiro trimestre, um patamar que ultrapassaria de novo no final de abril para não mais recuar desse nível.
A OPA da empresa liderada por António Mexia à subsidiária, com objetivo de deter mais de 90% da eólica com vista a retirar o título do índice, acabou por não ter o sucesso desejado. A investigação sobre a alegada corrupção nos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC), que constituiu os CEO das duas empresas em arguidos, as incertezas sobre a regulação dos contratos futuros e os resultados dececionantes que conduziram a cortes nas metas de rentabilidade acabaram por retirar fôlego às ações da EDP.
A estrela do BCP continuou, no entanto, a brilhar e o banco liderado por Nuno Amado foi o principal suporte do forte desempenho do PSI 20 em 2017. O enquadramento foi favorável. Após vários anos de prejuízos, imparidades e provisões, o BCP conseguiu finalmente regressar aos lucros. Ao mesmo tempo, os esforços do Governo para estabilizar o setor financeiro deram frutos este ano.
Mas o trigger foi o aumento de capital de 1,33 milhões de euros concluido em fevereiro. Após o choque inicial, natural num processo que dilui as posições de muitos acionistas, os títulos do banco dispararam mais de 30% em março e nos restantes nove meses do ano só registaram um de queda (agosto, devido ao sentimento menos positivo da banca e shortselling). O aumento de capital também devolveu o BCP ao topo do índice em termos de peso, permitindo o forte desempenho da bolsa nacional.
Economia suporta
O mercado acionista português foi contagiado também pelo sentimento positivo nos mercados globais, com os principais índices nos Estados Unidos a baterem sucessovos recordes no rally Trump, enquanto na Europa a retoma económica e os crescentes lucros empresariais permitiram valorização de mais de 10% no DAX alemão, no CAC francês e no FTSE MIB italiano.
Mas não foram só externos os ventos favoráveis. O sucesso da estratégia económica do Governo, com o crescimento em máximos de 17 anos e o défice mais pequeno em décadas, também fomentaram as valorizações no PSI 20.
As retalhistas beneficiaram com o aumento do rendimento disponível dos portugueses, com a Sonae em destaque com uma valorização de mais de 30%. As cotadas relacionadas com o turismo, acompanharam o boom do setor: a Sonae Capital, que controla o Tróia Resort, e o grupo de restauração Ibersol, avançaram quase 20% cada.
Com a economia em aceleração, os resultados das cotadas também ganharam ritmo e impulsionaram a cotações no índice.
Nos primeiros nove meses do ano, as 19 cotadas do PSI 20 registaram, no total, um disparo de 48% nos lucros. Mas o quadro não foi só positivo, pois a época incluiu um alerta sobre os lucros para o total do ano pela maior cotada (EDP) e foi desastrosa para os CTT, obrigando a um corte nas previsões e no dividendo. Os investidores não gostam de surpresas negativas e castigaram os dois títulos.
Correios sem retornos
De privatização estelar a queda acentuada, a história dos CTT na bolsa de Lisboa tem sido uma de desilusão. Com o negócio dos correios pressionado, o banco CTT ainda em evolução e os lucros em queda, a empresa liderada por Francisco Lacerda fez profit warnings e cortou os dividendos.
A novela já chegou à esfera política, com o Bloco de Esquerda a argumentar que o operador postal deve regressar para o Estado. Um duro plano de reestruturação anunciado este mês foi classificado pelos analistas como difícil de executar e envolve mais de 800 despedimentos, provocando a contestação dos sindicatos. Neste turbilhão de incertezas, as ações afundaram 46,34% este ano.
Em sentido contrário, a Mota-Engil foi a cotada com a maior valorização com um disparo de 125%, recuperando parcialmente das fortes quedas durante os anos da crise económica. A maior construtora portuguesa animou os investidores regularmente com notícias de novos contratos, principalmente em África e na América Latina.
A Pharol foi a cotada mais inconstante, com a elevada volatilidade e variações amplas a acompanharem as peripécias do plano de recuperação da Oi a problemática telecom brasileira na qual é, por ora, a maior acionista.
Os últimos 12 meses na Bolsa de Lisboa foram marcados ainda pelo adeus de dois bancos. A OPA da Associação Mutualista retirou as ações do Caixa Económica Montepio Geral do mercado e a do catalão Caixabank levou à despedida do BPI.
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