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Recessão à vista: o que significa?

O risco de uma recessão na Zona Euro está a crescer. Saiba a que se deve este fenómeno e como se pode preparar para as dificuldades que se aproximam.
29 Julho 2022, 10h15

Os especialistas alertam: há uma séria probabilidade de vivermos uma nova recessão na Zona Euro. A economia alemã, uma das maiores a nível mundial e o “motor” da UE, está a abrandar e o Banco Central Europeu já anunciou a subida das taxas de juro. E há mais sinais de alarme.

Descubra, neste artigo realizado pelo ComparaJá, o que é uma recessão, o que está a originar este fenómeno e descubra algumas formas de preparar a sua família para os tempos que aí vêm.

O que significa recessão?

O termo recessão designa uma diminuição geral na atividade económica durante um determinado período de tempo. Considera-se que a economia entrou em recessão após dois trimestres consecutivos de queda no Produto Interno Bruto (PIB), descontado o efeito da inflação.

Portugal está longe de ser imune a este fenómeno. Pelo contrário, a atividade económica atravessou seis recessões desde a década de 80.

O que origina uma recessão?

Até certo ponto, a contração da economia é considerada como uma fase normal e expectável. A economia, por natureza, é dinâmica e cíclica, pelo que implicará sempre quedas e ascensões ao longo do tempo. No entanto, para justificar uma recessão, há normalmente fatores bem definidos.

1. Conflitos armados

Um dos fatores que contribui para a recessão que paira sobre Portugal neste momento está associado ao conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia, ainda sem fim à vista.

Esta guerra perturbou significativamente o equilíbrio geopolítico mundial, gerando tensões na produção que já se encontrava fragilizada por força da pandemia. Fechando-se por completo o fornecimento do gás russo aos países europeus, a recessão será ainda mais expressiva. Aliás, mesmo se a guerra terminasse hoje, os efeitos devastadores na economia ainda se fariam sentir durante muito tempo.

2. Catástrofes ambientais e sanitárias

A mais recente pandemia levou à recessão global, não só pela influência direta da doença, mas sobretudo pelas fortes medidas de restrição sanitária impostas pelos governos para travar o contágio.

Empresas em lay-off, comércio encerrado, atividades letivas suspensas, viagens adiadas e o isolamento não poderiam conduzir a outro desfecho senão uma marcada contração económica.

Mesmo depois de a pandemia estar relativamente controlada, os efeitos ainda hoje se fazem sentir, sendo que a recuperação que poderia existir pós-Covid está a ser travada pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Além disso, a política chinesa de Covid-zero está a constranger fortemente as cadeias mundiais de abastecimento, o que não é economicamente animador.

3. Decisões do Banco Central Europeu

A este panorama junta-se agora uma atitude mais reativa e determinada dos bancos centrais em fazer subir os juros para combater a inflação, criando-se assim as condições para uma recessão mundial.

O aumento de juros origina maiores dificuldades para as famílias portuguesas fazerem face aos compromissos financeiros, como os créditos que possam deter, e obriga e uma reformulação mais prudente e acautelada de hábitos de consumo, inclusivamente reduzindo-o a bens essenciais.

Portugal não está imune a este risco, nem protegido da inflação energética e alimentar. O nosso país tem, inclusivamente, apresentado números que revelam uma clara contração económica, com impactos inevitáveis nas finanças familiares.

Quais as consequências da recessão para as famílias?

A recessão económica pode representar um grande desafio para a gestão orçamental dos portugueses, desde aspetos mais essenciais, como a manutenção do emprego, a dimensões mais globais, como a rentabilidade de investimentos.

1. Aumento do desemprego

Com a contração económica aumenta o desemprego, na medida em que a quebra de produção e, consequentemente, de resultados, obriga as empresas a ponderarem cortes nas despesas, como as associadas aos vencimentos dos colaboradores.

Este cenário pode ir mais longe e até obrigar as empresas a declarar falência e a encerrar definitivamente, extinguindo-se assim todos os postos de trabalho.

2. Redução do orçamento familiar

Aumentando o desemprego, diminui necessariamente a fonte de rendimento familiar, o que faz com que as famílias enfrentem um golpe especialmente duro. Com um menor poder de compra, poderão ficar comprometidos hábitos de consumo, mesmos os mais básicos, com uma grande queda na sua qualidade de vida.

3. Retração dos investimentos

Uma economia em recessão não é atrativa para receber novos investimentos. Quem investe é desencorajado pela falta de garantias e de estabilidade, pelo que procura alternativas noutros mercados que apresentem um menor índice de risco, ou então prefere poupar para preservar os seus fundos de emergência.

Como se preparar para a recessão?

1. Saiba para onde vai o seu dinheiro

Esta dica pode parecer trabalhosa, mas faz a diferença. Faça uma folha Excel (ou use uma app) com todas as suas despesas semanais ou mensais. Registar tudo o que entra e sai é essencial para obter maior controlo sobre a sua vida financeira.

Desta forma, vai poder identificar gastos que podem ter passado despercebidos e que estão a encolher o orçamento disponível, como débitos automáticos de serviços ou produtos que não está a utilizar. Poderá também encontrar gastos que, após devida ponderação, conclui não serem necessários.

2. Reveja subscrições e renegocie despesas

Fique atento às variações na oferta de fornecedores de serviços, como luz ou gás, de operadoras de telecomunicações e serviços de streaming. Deve fazer isso em qualquer altura, de forma a manter-se informado, mas é especialmente importante que o faça para preparar uma recessão. Se encontrar mais barato, mude.

Mesmo que a diferença lhe pareça quase insignificante, as poupanças vão acumulando. Se não quiser mudar de empresa fornecedora, também poderá tentar renegociar um desconto na fatura.

3. Construa o seu fundo de emergência

Este passo é essencial, mesmo em períodos sem recessão económica. Ter e manter um fundo de emergência é importante para se estruturar financeiramente e para, em caso de perda repentina de rendimentos, conseguir organizar-se e recuperar.

Se ainda não construiu o seu fundo de emergência, faça-o já, mesmo se tiver de começar com quantias pequenas. Se já o tiver, considere reforçá-lo. O valor recomendado pelos especialistas corresponde a, no mínimo, 6 meses do seu custo de vida, ou seja, o montante que lhe permita viver durante 6 meses sem qualquer entrada de dinheiro.

4. Evite dívidas

Em qualquer período económico, as dívidas são sempre de evitar e, num período de recessão, mais ainda. Numa altura em que o Banco Central Europeu dá sinais de fazer subir as taxas de juro para travar os efeitos da inflação, os créditos ficam mais caros, o que implica um aumento considerável das suas mensalidades.

O foco será em conseguir manter o compromisso financeiro que atualmente tem com os créditos subscritos. Assim, se tinha planeado fazer algum tipo de investimento com recurso a crédito, talvez seja mais prudente adiar.

5. Reavalie os seguros e os créditos

Renegociar créditos e seguros pode representar uma poupança significativa no final do mês. Dada a oferta existente, é muito provável que encontre uma alterativa financeiramente mais vantajosa que lhe permita por de parte alguns euros por mês.

Comece pelo seguro de saúde, seguro de vida e o crédito habitação, são os produtos onde habitualmente se consegue maior margem de negociação, neste último, sobretudo na taxa de spread.

Faça também uma pesquisa sobre outros bancos que possam oferecer melhores condições. Em caso afirmativo, pondere fazer transferência de crédito para outras entidades e, assim, reduzir as suas prestações mensais.

6. Regularize as dívidas do cartão de crédito

Se já construiu o seu fundo de emergência, pondere canalizar o dinheiro que não está a gastar para abater as dívidas do cartão de crédito, e outras que possa deter. Fixe como objetivo livrar-se da dívida, e envolva todos os membros da família.

Se possível, suspenda a utilização do cartão de crédito para não aumentar a dívida com outros gastos no cartão. Não caia na armadilha de pagar depois. Evite despesas desnecessárias: por exemplo, se decidirem não jantar fora, ponham de lado o dinheiro que não gastaram. No final do mês, o montante acumulado pode ser surpreendente. Quanto mais juntar, mais depressa líquida a dívida.

Como será a próxima recessão?

Apesar de se aproximarem tempos desafiantes, alguns especialistas apontam sinais de otimismo. Durante a pandemia, muitas famílias acumularam poupanças recorde. Além disso, as empresas (e também os bancos) apresentam indicadores de maior resiliência do que os verificados na recessão de 2008, pelo que poderão estar mais aptos a fazer frente às exigências vindouras.

É também importante considerar que os números do desemprego se encontram em níveis pouco consistentes com uma recessão iminente. Apesar de estes números revelarem, efetivamente, alguma debilidade, a economia americana continua a criar centenas de milhares de postos de trabalho todos os meses, e o desemprego na Zona Euro atingiu um novo mínimo histórico em maio.

E não só, apesar da travagem na atividade da China, o país regista uma inflação contida e mostra sinais de querer acelerar a implementação de incentivos financeiros.

Assim, podemos não estar sob o pior dos cenários, sendo, contudo, extremamente importante manter uma vigilância apertada sobre os nossos hábitos de consumos e procurar alternativas mais vantajosas do ponto de vista financeiro.

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