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Reino Unido: e se Corbyn ganhasse as eleições?

A juventude urbana, que ficou em casa no referendo sobre o Brexit e nunca viveu sem ser no seio da União Europeia, pode desta vez optar por sair da sua zona de conforto para participar nas eleições. Alguns analistas afirmam que esta é a maior incógnita do dia.
  • Reuters
8 Junho 2017, 11h51

Os últimos dias da campanha eleitoral no Reino Unido foram claramente um sufoco para a primeira-ministra Theresa May – que partia de uma base muito confortável (maioria absoluta em 2015 e vitória no referendo sobre a saída da União Europeia), mas que acabou por perdê-la face à inesperada ‘intromissão’ do tema terrorismo.

As sondagens – que no Reino Unido tendem a perder as eleições face à realidade, como sucedeu em 2015 e no referendo ao Brexit – indicam que as duas principais formações políticas, Conservadores e Trabalhistas, estão separados por um mínimo de três pontos percentuais até um máximo de 12 pontos. Isto é, qualquer coisa entre o empate técnico e uma margem de vitória fora do âmbito da maioria absoluta.

Mas, para além das intenções de voto, as sondagens indicam outras coisas, que têm a ver com a decomposição dessas intensões de voto por faixas etárias, escalões sociais, regiões e por aí adiante. Entre os vários indicadores que merecem atenção por entre as ‘normais’ intensões de voto, figuram aqueles que têm a ver com as faixas etárias e com a regionalidade. E, neste particular, os Trabalhistas liderados por Jeremy Corbyn podem reservar uma surpresa tão amarga quanto inesperada para a primeira-ministra.

Ficou claro que o Brexit ganhou muito à custa da direita britânica, concentrada nos escalões etários mais elevados e nos eleitores que viviam fora dos grandes centros urbanos. Segundo os jornais de então, a juventude urbana – cada vez menos disponível para participar em atos considerados pré-históricos (isto é, do século passado) – ficou por casa a entreter-se com comentários nas redes sociais sobre o ato eleitoral que decorria, mas em relação ao qual não viam motivo para se maçarem.

Segundo os mesmos jornais, foi precisamente a juventude urbana que, quando percebeu que o Reino Unido votou maioritariamente na saída da União Europeia, entrou em estado de choque. A evidência de que algo tão natural como comprar uma passagem de avião, marcar um hotel (tudo via Internet), chamar um carro da Uber e partir para o aeroporto podia deixar de ser uma prática comum, estragou-lhes um ‘modus operandi’ que pode só continuar ao alcance dos jovens dos países que continuam a fazer parte da União Europeia.

O resultado, segundo os analistas, é que esta juventude urbana tem, hoje, um acréscimo de interesse por participar nas eleições. E, como parece claro, esse mole de jovens urbanos que preferem não se maçar tem todos os motivos para votar nos Trabalhistas – como se isso fosse uma espécie de vingança por o Brexit ter ganho.

É neste quadro que alguns analistas avançam a hipótese de uma enorme reviravolta desde o dia em que Theresa May, sentindo-se segura como nunca antes um líder Conservador, optou por marcar eleições antecipadas, mesmo contando com uma maioria absoluta no Parlamento. Ou seja, a pergunta é: e se Jeremy Corbyn ganhar? E se o próximo primeiro-ministro for alguém que é definitivamente contra o Brexit? Como vai um primeiro-ministro contrário à saída da União Europeia negociar uma saída com essa mesma União Europeia?

A resposta a estas perguntas tem uma clarificação dentro de algumas horas, quando, pelas dez da noite, forem conhecidos os resultados das eleições que estão a decorrer neste momento. Mas, como neste mundo nada é definitivo – como o próprio Brexit mais uma vez provou – já há quem ache que, se os Trabalhistas ganharem, o referendo sobre a saída da União Europeia devia ser repetido. A ver vamos.

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