Na passada semana, confrontados com violentos processos de reestruturação, os bancários juntaram-se, numa concentração inédita de todos os sindicatos do sector, defronte do Parlamento. A esse propósito, aproveito para saudar os deputados do BE, PCP e PSD que se juntaram, em solidariedade, aos bancários nesse dia, e que com esse gesto político dignificaram e prestigiaram as suas funções.

Os bancários fizeram ouvir bem alto a sua indignação quanto à violência e rapidez com que estão a decorrer alguns processos de reestruturação. Nada justifica que um banco queira reduzir 14% dos seus trabalhadores em pouco mais de dois meses e que outro se proponha reduzir cerca de um quarto da sua força laboral em 11 meses. Não há justificação económica e racional estratégico. O estafado argumento da digitalização não colhe. Portugal é um dos países da Europa onde a exclusão e a iliteracia digital são mais elevadas.

Também não colhe o argumento do sobredimensionamento da rede de agências bancárias. Em primeiro lugar, a pandemia nada mudou desse ponto de vista. Mais importante, cerca de metade da rede de balcões já encerrou nos últimos 12 anos. Hoje, restam os balcões de proximidade e de aconselhamento e com relevância acrescida na medida em que nunca foi preciso tanto trabalho bancário: além dos milhares de moratórias, o crédito à habitação está ao rubro, o crédito ao consumo em alta homóloga, os depósitos e outros recursos dos clientes em máximos históricos.

Querer sobrecarregar cada vez menos bancários com o trabalho que deveria ser feito por muitos mais, revela uma abordagem que prima pela ganância. E esta revela-se também na total ausência de planeamento e preocupação com a requalificação dos bancários. Sabendo de antemão da necessidade de trabalhadores qualificados e certificados em áreas como planeamento e controlo, canais digitais, risco, inteligência artificial, data science, relacionamento especializado em particulares de alto rendimento, o que fizeram os bancos que se afadigam em processos mal-amanhados de reestruturação?

Nada.

Não se iludam os néscios. Os trabalhadores agora dispensados serão, a breve trecho, substituídos por outros, com as qualificações referidas. Como todos os bancos sabem há largos anos.

E não colhe também o argumento da falta de recursos financeiros, pois que as rescisões por mútuo acordo (RMA) libertam recursos substanciais nos fundos de pensões, reduzindo as necessidades de contribuições futuras, num contexto de baixas taxas de juro. Na prática, as RMA libertam recursos dos bancos para o reforço dos fundos próprios. Acresce que o ‘waiver’ do BCE quanto aos requisitos de capital, justificado pela pandemia, deveria ser utilizado a favor da requalificação dos bancários.

Em suma, é nossa exigência, a par da cessação dos processos unilaterais e musculados, um Plano de Requalificação Estrutural dos bancários, financiado pela libertação dos valores supracitados dos fundos de pensões. Elementar.

A ganância não pode ser nunca o valor moral que nos norteia. Por isso, lutaremos, incansáveis, contra ela e os seus intérpretes.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.