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Respostas Rápidas. Preço de petróleo atinge máximos de 2014. Saiba porquê

Depois dos desequilíbrios entre procura e oferta causados por uma recuperação mais forte do que o antecipado e a recusa da OPEP em subir o ritmo de aumentos mensais de produção, a tensão na Ucrânia junta-se às dificuldades no acordo nuclear com o Irão como os principais motores geopolíticos da subida do petróleo.
  • Zbynek Burival on Unsplash
14 Fevereiro 2022, 17h30

A escalada de tensões no leste europeu entre ucranianos e russos impulsionou o barril de petróleo a máximos não vistos desde 2014, com o Brent a negociar acima dos 96 dólares (84,83 euros) durante a sessão desta segunda-feira numa altura em que a economia europeia se debate já com os efeitos da crise energética global. O impacto na inflação é o mais evidente e vários governantes manifestaram já a sua preocupação com a possibilidade de mais subidas e do barril atingir os 100 dólares (88,40 euros).

A quanto está o barril de petróleo?

O barril de brent, a referência para o mercado europeu e português, chegou esta segunda-feira, 14 de fevereiro, aos 96,16 dólares (85,03 euros), renovando máximos de 2014, depois de ter começado o ano nos 78,25 dólares (69,21 euros). Janeiro havia já registado a passagem do barril para a casa dos 90 dólares, valor atingido no final do mês, e esta trajetória coloca as perspetivas para o preço do petróleo largamente acima do inscrito nas previsões macro do Governo na proposta de Orçamento do Estado para 2022, que projetavam 67,8 dólares (59,97 euros).

 

O que tem levado às subidas?

Após a queda a pique que levou o barril de petróleo a ser negociado em terreno negativo logo após o rebentar da pandemia, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) optou por implementar cortes à produção mundial, de forma a recuperar o preço do ‘ouro negro’.

Com a reabertura da generalidade das economias mais avançadas, a procura por petróleo rapidamente recuperou, chegando ao final do ano cerca de 9% abaixo do verificado antes da pandemia, segundo dados da OPEP. No entanto, o cartel tem optado por não acelerar o ritmo de aumentos da produção mundial, apesar dos apelos de alguns países como os EUA, e vários produtores importantes como Angola ou o Cazaquistão têm sofrido disrupções significativas que os têm impedido de chegar ao output acordado. Acresce a isto as dificuldades vividas nalgumas refinarias norte-americanas após a tempestade Ida, que condicionou a capacidade de produção do país.

Por outro lado, o barril de petróleo também tem inflacionado devido à subida de preço do gás natural, que disparou depois de invernos rigorosos na Europa, onde as fontes renováveis não têm sido capazes de compensar o aumento nos consumos elétricos e a Rússia não aumentou o seu fornecimento ao mercado.

As mais recentes subidas prendem-se sobretudo com a eventualidade de uma guerra aberta na Ucrânia após uma invasão russa. A Rússia é responsável pelo abastecimento de gás natural à Europa e uma perturbação desta magnitude resultaria em aumentos consideráveis no custo do petróleo e do gás, com os líderes europeus a admitirem procurar aumentar as importações de gás liquefeito para fazer frente às quebras no fornecimento russo.

        Quais as perspetivas para o futuro imediato?

Vários governos manifestaram já esta segunda-feira a sua preocupação com a possibilidade do barril atingir os 100 dólares, incluindo os ministros da energia de Chipre e do Egito, que reconheceram esta hipótese como bastante real. A evolução do mercado energético está dependente de um número alargado de variáveis, com a pandemia sempre em destaque, mas também dada a situação na Ucrânia ou a evolução das conversações sobre o acordo nuclear com o Irão, cujas exportações de petróleo estão sancionadas nos mercados internacionais.

Vários analistas apontam para um preço acima dos 100 dólares, como o Goldman Sachs ou o JPMorgan Chase, mas o ministro do Petróleo de Omã garantiu no mês passado que a organização não pretende deixar os preços chegarem a este nível. A OPEP enfrenta a concorrência de produtores não pertencentes à organização como os EUA, o Brasil, o Canadá ou a Noruega, o que pode pressionar o barril a descer de preço caso atinja a casa das centenas de dólares.

 

Qual é o impacto na economia do aumento do preço do barril de petróleo?

A consequência mais óbvia e imediata prende-se com os produtos energéticos, muitos deles derivados do petróleo e cujo preço depende diretamente da cotação do barril. No entanto, os combustíveis são também um importante consumo intermédio na vasta generalidade dos sectores e das indústrias, pelo que um aumento no preço deste bem representa igualmente um acréscimo de custos, o que se poderá traduzir numa subida do seu preço. Quando este fenómeno ocorre na generalidade dos ramos de uma economia, estamos perante inflação, algo que se tem vindo a verificar nos últimos meses na zona euro e que condiciona o crescimento, ao diminuir as possibilidades de consumo das famílias, dado o mesmo nível de rendimento.

Por outro lado, o petróleo é um dos bens cuja cotação é alvo de maior atenção nas bolsas financeiras internacionais, pelo que subidas ou descidas abruptas podem contagiar outros títulos e mercados. Por exemplo, os mercados europeus reagiram à subida do barril de petróleo, bem como ao aumento da tensão na Ucrânia, o que levou já os títulos de ouro a subirem 1,31% na sessão desta segunda-feira.

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