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Respostas Rápidas. Crise da lira turca vai atirar a Turquia para o abismo?

A moeda da Turquia desvaloriza 18% e acumula um tombo de quase 30% em uma semana, enquanto os juros da dívida turca a 10 anos já superaram os 20%. Trump não dá tréguas e a hipótese de um resgate está em cima da mesa.
10 Agosto 2018, 15h37

O que se passa com a lira turca?

A moeda da Turquia desvalorizou 18% esta sexta-feira, prolongando das perdas das últimas sessões. Desde a passada sexta-feira, a moeda já acumula uma perda de quase 30% face ao dólar. A dívida turca também tem sido penalizada e a yield a 10 anos supera já os 20%. “Os mercados turcos continuam numa espiral descendente com a lira agora já numa crise de divisa completa”, afirmou Paul Greer, gestor de portefólio da Fidelity International, sobre o assunto.

O que causou o problema?

O tombo desta sexta-feira aconteceu depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, ter anunciado que vai impor tarifas aduaneiros de 20% à importação de alumínio da Turquia e de 50% ao aço. “As nossas relações com a Turquia não estão boas neste momento!”, escreveu Trump no Twitter. No entanto, as tensões entre os dois países não começaram aqui.

Washington e Ankara têm tido desacordos diplomáticos – até porque em março já tinham sido anunciadas tarifas à importação dos mesmos produtos turcos para os EUA – que culminaram, há uma semana, na imposição de sanções aos ministros da Justiça e do Interior turcos. A causa foi a recusa da libertação do pastor evangélico Andrew Brunson, preso desde 2016.

Qual foi a reação do Governo turco?

As autoridades turcas têm tentado desvalorizar a questão. O presidente turco, Recep Erdogan, afirmou esta quinta-feira, que “há várias campanhas em curso” contra a Turquia. “Não lhes dêem atenção”, pediu aos turcos. O ministro das Finanças – e gendo de Edrdogan -, Berat Albayrak, falou já num “novo modelo económico” para colmatar os desequilíbrios económicos e acalmar os investidores, tendo pedido aos turcos que ajudem a colmatar o problema.

“Se alguém tiver dólares ou ouro debaixo da almofada, deverá ir trocá-los por liras nos nossos bancos. Esta é uma batalha nacional e doméstica”, afirmou Albayrak, citado pela agência Reuters. “Esta tem de ser a resposta do nosso povo àqueles que lançaram uma guerra comercial contra nós”.

Que outros problemas tem a economia turca?

Além das sanções e tarifas aduaneiras impostas pelos EUA, a economia turca sofria já de vários problemas, o que torna o país mais vulnerável às questões atuais. “Os desafios macro-económicos da Turquia são numerosos e conhecidos – uma economia em sobreaquecimento, necessidades de financiamento externo consideráveis, défice estrutural da balança corrente, inflação persistente na ordem dos dois dígitos, baixas reservas cambiais líquidas e um grande fardo do endividamento privado”, referiu Paul Greer, da Fidelity.

As projeções para a inflação aproximam-se cada vez mais de 20%, às quais o banco central turco respondeu com taxas de juro de referência nos 17,75%. “Tudo isto fez com que a confiança dos investidores no regime do Presidente Erdogan tenha deteriorado no último ano, mas as mudanças realizadas após as eleições de dia 24 de junho foram particularmente penalizadoras do sentimento”, acrescentou o gestor de portefólio da Fidelity International.

O país pode precisar de um resgate?

Já se começou a levantar a questão sobre a possibilidade de o país precisar de pedir ajuda externa, especialmente tendo em conta as semelhanças à situação da Argentina. Da mesma forma, a forte desvalorização da moeda e inflação galopante levaram a Argentina a pedir um resgate de 50 mil milhões de dólares ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em julho, a agência de notação financeira Fitch reviu em baixa o rating da dívida da Turquia para BB. Não houve ainda, no entanto, nenhum pedido oficial. Por outro lado, alguns analistas levantam a hipótese de o regime decidir aumentar novamente os juros e implementar medidas de controlo de capitais para combater o cenário.

Qual tem sido a reação dos mercados globais?

Os investidores estão a reagir com uma retirada de capital da Turquia, o que cria uma ciclo de desvalorizações. As preocupações são, no entanto, mais alargadas. Como os mercados emergentes se tornaram importantes mecanismos de crescimento global, um problema desta dimensão causa cautela sobre as potenciais consequências a nível mundial. Da Europa aos EUA, passando pela Ásia, as bolsas têm sido penalizadas pelo sentimento negativo.

“A Turquia é tema central para os mercados, contagiando a performance nas bolsas europeias em especial a banca”, explicou Ramiro Loureiro, analista de mercados da MTrader, Millennium BCP, acrescentando que “o Financial Times dá conta que o Banco Central Europeu está preocupado com a exposição do BBVA, UniCredit e BNP Paribas à Turquia, perante a forte depreciação da lira”.

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