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Saiba como a Inteligência Artificial ajuda a salvar a vida selvagem

A IA está a apoiar o trabalho de cientistas, investigadores e guardas florestais em tarefas vitais. Com sistemas que usam algoritmos e modelos para aprender, entender e adaptar-se,  é geralmente capaz de fazer o trabalho de centenas de pessoas, obtendo resultados mais rápidos, baratos e eficazes.
23 Fevereiro 2022, 20h08

Os conservacionistas estão a virar-se cada vez mais para a inteligência artificial (IA) como uma solução tecnológica inovadora para enfrentar a crise da biodiversidade e, assim, mitigar as alterações climáticas. Desde acompanhar a perda de água até à localização de baleias, existem hoje várias maneiras de ajudar a comunidade científica a enfrentar um dos maiores desafios do século XXI, segundo o “The Guardian”.

Um relatório recentemente publicado pela Wildlabs.net considerou a IA uma das três principais tecnologias emergentes no campo da conservação. “A IA consegue aprender a identificar quais as fotos, entre as milhares que existem, que contêm espécies raras ou identificar uma chamada de animal fora das horas de gravações de campo — reduzindo significativamente o trabalho manual necessário para recolher dados vitais de conservação”, lê-se no relatório.

A IA apoia o trabalho de cientistas, investigadores e guardas florestais em tarefas vitais. Com sistemas que utilizam algoritmos e modelos para aprender, entender e adaptar-se,  é geralmente capaz de fazer o trabalho de centenas de pessoas, obtendo resultados mais rápidos, baratos e eficazes.

O jornal britânico indica alguns projetos de IA que contribuem para a compreensão e proteção da biodiversidade.

Acompanhar a perda de água

O Brasil perdeu mais de 15% das suas águas superficiais nos últimos 30 anos: o rio Negro — um dos dez maiores do mundo em volume, perdeu 22% e a porção brasileira do Pantanal, a maior área húmida tropical do mundo, perdeu 74%. Só foi possível identificar a dimensão desta crise em agosto de 2021 com a ajuda da IA e de Machine learning (ML).

O projeto MapBiomas, da WWF, divulgou os resultados após processar mais de 150 mil imagens de satélite recolhidas entre 1985 e 2020. Sem esta tecnologia, não seria possível analisar as mudanças de água em todo o país na escala e no nível de detalhes necessários.

“Sem a tecnologia de IA e ML, nunca saberíamos o quão séria era a situação, muito menos teríamos os dados para convencer as pessoas. Agora podemos tomar medidas para enfrentar os desafios que essa perda de água de superfície representa para a incrível biodiversidade e comunidades do Brasil”, disse Cássio Bernardino, da WWF-Brasil.

Contar espécies

Salvar espécies à beira da extinção na bacia do Congo, a segunda maior floresta tropical do mundo, é uma praticamente impossível apenas com a mão humana, e o tempo é vital numa zona onde os animais estão ameaçados pelo comércio, caça e crise climática.

Em 2020, o algoritmo Mbaza AI analisou mais de 50 mil imagens de 200 armadilhas fotográficas espalhadas por sete mil quilómetros quadrados, permitindo aos conservacionistas podem monitorizar e rastrear animais – incluindo elefantes, gorilas, chimpanzés e pangolins. O algoritmo também funciona offline, o que é útil em locais com pouca ou nenhuma conectividade com a Internet.

“Desde o início do projeto, centenas de outras câmaras foram implantadas por diferentes organizações na África Ocidental e Central. No Gabão, o governo e a agência de parques nacionais pretendem implantar câmaras em todo o país”, destacou Robin Whytock, da Universidade de Stirlin.

Parar os caçadores furtivos

O parque nacional de Kafue, na Zâmbia, abriga mais de 6,6 mil elefantes africanos da savana e cobre 22,4 mil quilómetros quadrados, pelo que parar a caça ilegal é um grande desafio logístico, tal como a pesca ilegal no Lago Itezhi-Tezhi, na fronteira do parque.

A Connected Conservation Initiative utiliza a IA para criar uma cerca virtual de 19 quilómetros de comprimento no lago. As câmaras térmicas infravermelhas (FLIR) registam todas as travessias de barco dentro e fora do parque, dia e noite, aumentando a eficácia e reduzindo a necessidade de vigilância manual constante, que não era suportável.

“A IA é revolucionária, pois pode monitorizar movimentos ilegais de barcos e alertar as equipas de guardas florestais imediatamente. Permitiu que um grupo de guardas fornecessem vigilância 24 horas por dia num enorme ponto de entrada ilegal no Lago Itezhi-Tezhi”, disse o consultor técnico Ian Hoad.

Encontrar baleias

Saber onde estão as baleias é o primeiro passo para as proteger, mas localizá-las visualmente é difícil dada a dimensão do oceano. Contudo, o seu som pode viajar centenas de quilómetros debaixo de água.

Assim, através da análise de 190 mil horas de gravações acústicas, acumuladas ao longo de 14 anos, que a IA tem ajudado a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica do Canadá (NOAA — sigla em inglês) a localizar os mamíferos em ilhas remotas e de difícil acesso. “Levaria um tempo exorbitante para um indivíduo identificar manualmente as vocalizações das baleias”, aponta a oceanógrafa Ann Allen.

Em 2018, a NOAA fez uma parceria com a ‘Google AI for Social Good’ para criar um modelo de ML que pudesse reconhecer o canto da baleia-jubarte, a qual teve “muito sucesso” e até encontrou uma nova ocorrência no recife Kingman, “um local onde nunca tinha sido documentada a presença de jubarte”, o que não teria sido possível sem a IA, garante Allen.

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