São hoje absolutamente inegáveis os profundos impactos da economia partilhada em vários setores de atividade – a qual veio ditar uma profunda adaptação dos modelos de negócio “clássicos”, os quais se mantiveram praticamente inalterados durante décadas. Exemplos paradigmáticos – os setores de transporte de passageiros e do alojamento “turístico”.

A economia partilhada, auxiliada e alavancada pelas novas tecnologias, permite, atualmente, com um mero smartphone e em poucos segundos, obter transporte do sítio A para o sítio B, com pagamento automático em cartão. Mais ainda, as principais cidades estão hoje inundadas por bicicletas, motas e carros que podem igualmente ser utilizados por qualquer um de nós, mediante pagamento, em alguns casos simbólico – e em que tudo se processa com recurso a aplicações disponíveis para qualquer smartphone. O mesmo se pode dizer do alojamento “turístico” e das aplicações ao alcance de um clique, as quais permitem a sua exploração e utilização por qualquer um de nós. Traços comuns? Simples, cómodo e descomplicado.

Como se compreenderá, tudo isto é novo e tem apenas alguns anos, pelo que o choque com os modelos clássicos foi inicialmente fraturante. Após um período inicial de “guerra aberta,” com posições antagónicas férreas, entre o antigo e novo, os conceitos estabelecidos começaram por fim a adaptar-se, paulatinamente, a esta nova realidade, e acabaram por incorporar as conveniências das novas tecnologias nos seus modelos de negócio – por forma a assim cativarem a atenção dos consumidores rendidos aos comodismos destes novos métodos.

Por este motivo, temos hoje estas diferentes formas de negócio, seja no transporte de passageiros seja no alojamento turístico, com interfaces tão semelhantes. É um facto que continuam a ser diferentes, mas estão hoje inegavelmente mais próximos, ainda que não nos atrevamos a falar de uma convivência saudável.

Poderão alguns entender esta evolução como inevitável e, globalmente, mais vantajosa para os consumidores. No entanto, não resulta evidente que assim o seja, tendo em conta as recentes alterações legislativas já em vigor (ou que brevemente irão vigorar), as quais vêm impor mais restrições a estes modernos conceitos. Embora seja inegável que a sua implementação tenha dado azo a alguns excessos e desequilíbrios, os quais carecem de regulação e ajustamentos.

Importará, ainda assim, refletir se as alterações em curso ditarão (ou não) uma travagem abrupta no desenvolvimento destes novos modelos de negócio, tanto pela atividade económica gerada, como pela manifesta melhoria de serviços prestados no respetivo setor de atividade. É caso para ver se estamos perante a aplicação da teoria de Darwin, ou se por algo bem mais prosaico como um: se não os podes vencer, junta-te a eles!