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Sector segurador precisa de ser sustentável sem descurar capacidade de resposta à população

Os seguros de saúde vão enfrentar múltiplos desafios no futuro próximo, depois de dois anos de pandemia e num contexto de subida generalizada de preços.
19 Junho 2022, 17h00

O sector dos seguros de saúde acredita que, dois anos depois de uma pandemia que afastou as pessoas dos hospitais e clínicas presenciais, e num cenário macroeconómico inflacionista, um dos maiores desafios é a garantia da sustentabilidade. Contudo, a capacidade de resposta à população tem de continuar a ser o foco da prestação de serviços.

O diretor geral da Megafin, Vitor Norinha, considera que o maior desafio é “conseguir responder a mais patologias sem aumentar dramaticamente os preços”, o que se torna complicado com a “inflação dos custos médicos, a ausência de pessoal técnico suficiente, e sobretudo um tremendo crescimento da procura de seguros de saúde depois da pandemia, porque a generalidade da população viu que não estava suficientemente protegida”.

Já a Head of Market & Solutions da Future Healthcare, Ana Carvalho, refere a sustentabilidade do ecossistema “sem esquecer a missão social de dar acesso às melhores condições de saúde, vida e bem-estar de cada uma das pessoas”. É ainda preciso ter em conta, continua, a tecnologia e inovação para otimizar processos e encontrar soluções personalizadas.

“Tempestade perfeita” ameaça o sector
Questionados sobre o efeito do cenário macroeconómico no sector, ambos concordaram na impossibilidade de escapar ao aumento de preços.

“Estamos a tentar minimizar ao máximo o efeito nos clientes. Se conseguirmos ter processos mais automatizados e otimizados, e uma experiência mais ágil e digital, conseguiremos oferecer uma melhor experiência, enquanto minimizamos os efeitos da inflação”, declara Ana Carvalho.

Já o diretor geral da Megafin aponta para uma “tempestade perfeita no mau sentido, com uma inflação que rapidamente chegará aos 10%, sem aumentos salariais significativos, com uma subida de preços dos prestadores de serviços, e com os seguros a defenderem-se através da telemedicina ou da oferta de novos seguros que custam dinheiro”.

O problema é, também, conciliar os interesses de todos os envolvidos: os prestadores de serviços colocam-se questões de racionalidade económica, e das seguradoras de solvabilidade, enquanto a população quer ver as suas necessidades respondidas, argumenta.

Envelhecimento populacional é um problema com várias faces
Outra questão que tem marcado o debate público, mas também no domínio empresarial é o envelhecimento dos portugueses. Este “está na ordem do dia das companhias há já algum tempo, sendo um problema do presente e gigante no futuro”, declara Ana Carvalho, citando dados que apontam para que, atualmente, mais de 20% da população tem mais de 65 anos e estimam que, em 2050, sejam mais de 35%.

O percurso tem algumas vitórias, nomeadamente o facto de se terem vindo a encontrar iniciativas variadas complementares às respostas tradicionais massificadas como os cuidados ao domicílio. A Future Health aponta, a título de exemplo, a criação de soluções remotas e digitais para garantir o acompanhamento personalizado a cada cliente.

Para Vítor Norinha, o envelhecimento da população coloca o problema de novas necessidades de novos tratamentos, mas também das exclusões com base na idade ou nas doenças. “Isso não é justo porque deixa os clientes fora do sistema privado”, diz. Assim, as seguradoras precisam de encontrar soluções porque a procura “é muito forte, e quem paga um seguro durante 30 ou 40 anos não quer chegar aos 70 sem essa resposta”.

Ademais, defende, tem de haver respostas políticas à semelhança dos países nórdicos, como o seguro social. “Tal como se fazem contribuições ao longo da vida para a segurança social, porque não fazê-lo para este tipo de subsistemas privados de saúde, com a garantia de que haverá respostas?”, questionou, apelando a uma atitude diferenciada ao longo da vida contributiva uma vez que “vamos viver mais tempo, mas com mais doenças”.

Pandemia e competição entre empresas ampliaram o alcance de seguros Mas dos últimos anos também resultou o aumento do alcance e da preocupação relativa a seguros de saúde.

“Antes da pandemia, falava-se mais de telemedicina, agora falamos de saúde digital, que é muito mais abrangente do que a realização de consultas por telefone ou por vídeo. É o presente e será, com certeza, o futuro”, indica Ana Carvalho. De facto, o receio do coronavírus e os confinamentos impulsionaram a medicina digital porque, por um lado, como aponta Vítor Norinha, grande parte da população não foi a hospitais e clínicas durante dois anos e as doenças não comunicáveis – como a diabetes e o cancro – foram-se agravando, e agora são necessárias soluções. Por outro, o formato remoto é uma maneira de controlar a subida dos preços das soluções numa altura em que há mais procura no privado, pois o Serviço Nacional de Saúde está a “ficar exaurido nalgumas valências e com hospitais sem dar solução”.

A competição por talento é outra tendência com repercussões no sector. “As empresas tentam enriquecer cada vez mais o plano de benefícios dos seus colaboradores, algumas procuram incluir o agregado familiar dentro dessa oferta, e à procura de incluir outro tipo de programas alternativos, alguns deles relacionados com a saúde digital e com a saúde mental”, segundo Ana Carvalho. Não obstante, “há uma pressão muito grande no tema do pricing e do prémio associado à oferta que dão aos seus trabalhadores”.

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