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Sem novidades e com algumas escaramuças: assim foi o debate com os candidatos à presidência francesa

Emmanuel Macron quer levar Le Pen a tribunal por difamação; Fillon teve de voltar a ouvir, calado, o tema difícil da transparência dos cargos públicos. Foram apenas duas das diversas escaramuças que aconteceram durante o debate televisivo. Que foi difícil de manter dentro do plano previsto.
21 Março 2017, 07h13

Num debate que ficou isento de grandes novidades em termos programáticos, os cinco principais candidatos à presidência francesa enfrentaram-se ontem num debate televisivo marcado por diversas escaramuças e pela evidência de alguns ‘ódios’ de estimação. Desde logo entre Emmanuel Macron, candidato independente, e Benoît Hamon, do Partido Socialista do ainda presidente François Hollande. A vogar nas mesmas águas ideológicas – e, por isso, mantendo um discurso fundamentalmente para o mesmo espaço sociológico – os dois ex-ministros mantiveram um para com o outro uma postura de alguma agressividade.

Uma agressividade que esteve também presente entre Jean-Luc Mélenchon, considerado o mais importante candidato à esquerda do PS francês, e Marine Le Pen, candidata da Frente Nacional. Mélenchon, nascido em Marrocos, interrompeu praticamente todas as intervenções de Le Pen com apartes – alguns deles capazes de arrancar gargalhadas à assistência que presenciava o debate ao vivo – o que ia exasperando a sua adversária.

Mas o pior sucedeu quando vários dos candidatos assumiram ter algumas dúvidas sobre a forma como Macron financia a sua candidatura. O candidato independente não se livra de acusações de ser financiado pelas grandes indústrias que sustentam lobbies poderosos – a banca, as farmacêuticas, as petrolíferas e a indústria química – o que o levou a tecer uma longa dissertação sobre a transparência da sua campanha. Marine Le Pen não se contentou com  a explicação, insistiu e acabou por ouvir da parte de Macron a notícia de que a irá levar a tribunal por difamação.

Le Pen tardou a reagir. No imediato ficou calada, mas, mais tarde, acabou por não resistir a interromper Macron que palmas, risos e diversos trejeitos, com os quais acompanhou as afirmações do candidato independente quando este decidiu falar sobre a União europeia e a independência de França.

François Fillon, candidato de Os Republicanos (partido de Nicolas Sarkozy) também não se livrou de ser encostado à parede pelos adversários a propósito dos empregos que arranjou para familiares directos enquanto político – mas não tentou defender-se – no que foi um dos momentos que se sabia que não poderiam deixar de acontecer.

O debate acabou por ficar falho precisamente de temas europeus: o tempo gasto com assuntos mais ‘caseiros’, como as questões da saúde, da educação, da redução da carga horária e do aumento da idade da reforma – temas que possivelmente interessam bem mais ao eleitorado francês – acabou por cortar o debate mais alargado aos temas extra-fronteiriços.

Mesmo assim, e no que concerne às relações entre a França e o resto do mundo, acabou por ser Mélenchon (que é a favor da saída da NATO) a ser mais audacioso: se ganhar, disse, irá propor uma conferência internacional para discutir as fronteiras europeias do Atlântico aos Urais – não só como forma de acabar com algumas injustiças, mas também para fazer regressar a França ao lugar de liderança mundial que foi perdendo nas últimas décadas.

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