O processo mental de tomada de decisão é complexo e as variáveis que o podem condicionar são muitas e variam de acordo com a pessoa e o seu contexto. Este processo pode ocorrer de forma mais ou menos consciente.

Na maior parte das decisões do nosso o dia-a-dia a tomada de decisão é automática e intuitiva. Quando o fazemos de forma mais consciente uma das descrições mais comuns é a de que começa com a identificação do problema, elaboração de hipóteses alternativas para a sua resolução, ponderando vantagens e desvantagens de cada uma delas, a escolha ou decisão em si, a sua implementação e a avaliação do resultado dessa implementação.

Seja como for, automático ou deliberado, mais consciente ou inconsciente, o processo de tomada decisão está sujeito à influência de vários factores. Qual é a qualidade e a quantidade da informação disponível? Qual a literacia da pessoa? Que emoções está a sentir? Está com medo ou raiva? E quais são as suas experiências prévias?  E quanto tempo tem para tomar a decisão? E está a ser pressionada por outras pessoas? Que pessoas? E está em sofrimento? Tem algum problema de saúde mental? E… que heurísticas estamos a usar para tomar a decisão? E será que a utilização dessas heurísticas nos levou a alguns vieses cognitivos?

Todos nós, porque somos humanos, decidimos através deste processo e estamos sujeitos a estas variáveis. Dada a sua natureza, a forma como elas se fazem sentir e influenciam a qualidade da tomada de decisão, estas variam muito com a pessoa e o momento em que decorre o processo de tomada de decisão.

Se a informação a que temos acesso estiver muito incompleta, errada, ou se não a compreendermos, as nossas decisões serão tendencialmente de pior qualidade. Se estivermos com as emoções à flor da pele, ponderamos menos, usamos mais atalhos e escolhemos mais as opções que permitam responder ao estado emocional em que nos encontramos: se estivermos com medo, podemos fugir de certas opções, por exemplo. Se no passado nos demos mal com uma decisão, podemos tender a não escolher agora, mesmo que fosse a melhor, para evitarmos o mesmo resultado e o que sentimos anteriormente.

E as heurísticas, esses atalhos mentais que usamos para simplificar a tomada de decisão e torná-la mais rápida e menos dispendiosa em termos de energia, trazem consigo enviesamentos, ou seja, tendências de pensamento que trazem uma “margem de erro” associada, por vezes muito considerável.

Há centenas de vieses conhecidos. Por exemplo, o viés confirmatório, que nos faz dar mais peso na ponderação de uma decisão, às informações que confirmam as crenças que já temos. Ou o viés de repetição, que nos faz acreditar que uma informação por ser repetida muitas vezes e nos depararmos com ela muito frequentemente é verdadeira.

Acresce que pessoas em sofrimento têm a sua capacidade para tomar decisões afectada, bem como as pessoas com problemas de saúde mental. E as vulnerabilidades sócio económicas? A situação financeira, o acesso a recursos e a discriminação são factores que afectam a qualidade da nossa tomada de decisão e, no que concerne à pobreza, é conhecido o efeito de escassez mental na deterioração da tomada de decisão.

Bem sei que a liberdade para tomar decisões ou a falta dela não é a única dimensão a ser avaliada quando se fazem leis e políticas públicas. As vantagens económicas de uma escolha política ou redacção de uma lei são um exemplo de outra dimensão. Ou o legado para as gerações futuras.

Todavia, a evidência científica acima exposta também nos deve fazer reflectir sobre a medida exacta em que somos livres e a razão pela qual são criadas instituições e políticas públicas que limitam a liberdade, não deixam tudo à decisão de cada um (por exemplo por poder afectar terceiros) ou do mercado (por ser necessário proteger a segurança e a saúde das pessoas). O equilíbrio entre os diferentes valores envolvidos é por vezes complexo.

Contudo, face ao exposto, há razões para uma regulação cada vez mais robusta e com condições para ser mais efectiva quando em causa está a saúde e a segurança das pessoas, nomeadamente a sua saúde mental ou a segurança psicológica (até nos mercados financeiros se assiste a essa crescente necessidade de regulação a ser atendida).

Essa é uma mudança que deve ser feita e uma evolução que deve ser continuada, no equilíbrio com outros direitos. Porque a liberdade nem sempre é o que parece e a explicitação e aceitação das suas condicionantes é importante como garante dessa mesma liberdade. Leia e partilhe os materiais da campanha “Psicologia, Ciência com Evidência”. Por si. Por nós.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.