À preocupação decorrente da situação de incerteza em que Portugal se vê mergulhado, em consequência da desgovernação do Governo, soma-se a preocupação com a ausência de uma ideia estratégica para Portugal, consubstanciada num programa político, por parte dos partidos da oposição.

Nenhum deles, com grande responsabilidade para o PSD, foi capaz de se dirigir ao eleitorado e dizer: vamos por aqui, e avançar com as linhas mestras de um projeto para arrancar com Portugal para fora do Pântano 2.0 em que nos enterraram. As afirmações políticas não podem ficar subordinadas e ser exclusivamente dedicadas a explorar os desmandos de governantes e outros deles dependentes.

É preciso a) construir confiança; b) coragem; c) criatividade; d) competência. Quatro “Cês”. A confiança constrói-se com dois ingredientes principais – transparência e assunção de responsabilidade (accountability). Numa palavra: honestidade. Muitas vezes, o problema não é falta de confiança mas desconfiança, que é o grau zero na escala da confiança. Não sei onde estão os partidos da oposição nessa escala, talvez a meio da tabela, mas seja qual for a posição não alcançaram ainda o patamar de confiança que garanta a eleição de um governo maioritário e estável.

Não interessa neste momento se o PSD ou a IL vão em coligação ou não (é sempre possível considerar que pode não haver necessidade de uma coligação). O que interessa agora é propor aos portugueses rapidamente uma ideia estratégica, socialmente consensual, realista, percebida como exequível, recompensadora, que represente um grande avanço e exiba determinação para conseguir muito melhor para os portugueses.

A palavra consensual refere um acordo programático com a sociedade, aquilo a que se costuma referir como contrato social, um contrato não escrito, informal, conceptual, que prometa aos cidadãos uma saudável relação com um Estado que considere a liberdade individual como um direito inalienável, que incite a iniciativa privada, e ao mesmo tempo garanta proteção social a quem precisa, previsibilidade de um padrão de vida confortável na mediana europeia, e que prometa às empresas um quadro legal e fiscal previsível que permita planear a médio e longo prazo sem sobressaltos.

Enquanto essa grande ideia não for criada, comunicada, penetrar e galvanizar (aquilo a que se chama clinching effect) a parte da opinião pública que faz mudar os governos, não haverá alternativa credível e confiável nas próximas eleições legislativas. É o que revelam as sondagens. E há que acautelar os efeitos de uma possível abstenção gigante.

Marques Mendes disse na SIC no domingo que estamos num impasse. A dúvida subsiste quanto ao momento e como quebrar o impasse, uma prerrogativa e um modo que são do presidente da República, designadamente a dissolução do parlamento. Há quem defenda, como Pedro Santana Lopes, a dissolução já. Marques Mendes não se comprometeu com uma data mas não deixou de referir 2024. Faz sentido. Em maio ou junho de 2024 terão lugar as eleições europeias. Para mim, faz sentido realizar as duas eleições, para a Assembleia da República e para o Parlamento Europeu, em simultâneo.

Esperar até 2024 é, para muitos, doloroso, assistir-se à desagregação do Governo, ao cortejo de escândalos ampliado semanalmente, e ver mais países que eram comunistas até há poucos anos ultrapassarem o nosso PIB per capita (parece-me que só faltam dois). Esses países sabiam que a solução para haver mais dinheiro no bolso das pessoas está no capitalismo e não no socialismo ou no comunismo. Nem é possível antever se o Governo aguenta mais 13 meses em estado zombie. Mas, por outro lado, há que garantir que não se perdem os fundos europeus e que coisas como o SNS ou as escolas continuam a funcionar.

Um grande imbróglio pelo que o melhor é estar preparado. Para além da substância da mensagem política – a ideia estratégica – o PSD tem de continuar a melhorar a forma da comunicação, em particular o seu líder, Luís Montenegro. Tem feito progressos. Parece-me estar a abandonar o estilo coloquial, reservando-o apenas para as interações com os jornalistas, mas mesmo aí deve manter a gravitas.

Deve falar pausadamente (o que é diferente de falar devagar), palavras bem silabadas, frases curtas (em casa há mais coisas a fazer do que estar a ouvir políticos na TV). Mas não falar, elaborar, demais. Repetir a mesma mensagem sempre que possível, subordinar toda a comunicação a essa mensagem (primeiro é preciso criar a mensagem/slogan que vai ser utilizada no decorrer do próximo ano). Usar as técnicas da oratória clássica. Preparar bem os sound bites. Quando sem gravata, colarinhos da camisa levantados e não casualmente encostados ao peito. O estilo Rishi Sunak parece-me bom: assertivo sem ser petulante, humilde sem ser modesto, claro e conciso, simpático sem ser popularucho.