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Stadler negoceia parcerias com empresas nacionais para projetos ferroviários em todo o mundo

O anúncio foi feito hoje, dia 17 de novembro, por Iñigo Parra, presidente da Stadler Rail Espanha, num encontro com jornalistas que a empresa promoveu em Lisboa.
17 Novembro 2020, 18h05

A Stadler, fabricante suíça de comboios e carruagens, que acaba de assinar o contrato para o fornecimento de 22 novos comboios regionais para a CP, por um montante de 167,8 milhões de euros, está a negociar com diversas empresas portuguesas dos setores industrial e de TI (tecnologias de informação) a constituição de parcerias, não só para os projetos do grupo previstos para o mercado nacional, mas também para a generalidade dos países em que marca presença.

O anúncio foi feito hoje, dia 17 de novembro, por Iñigo Parra, presidente da Stadler Rail Espanha, num encontro com jornalistas que a empresa promoveu em Lisboa.

A possibilidade de a Stadler investir em Portugal na construção de uma unidade para fabrico e montagem de comboios, carruagens e outros componentes de material circulante ferroviário é uma hipótese que está em cima da mesa. Mas, neste momento, Iñigo Parra ainda não foi capaz de precisar qual será a percentagem de incorporação de indústria nacional que terão os novos comboios regionais a fornecer à CP.

Esta percentagem, assim como a decisão sobre a eventual fábrica de material circulante da Stadler em Portugal – um dos objetivos do atual Governo é criar um ‘cluster’ ferroviário no nosso país – parece estar dependente da decisão final sobre o concurso de fornecimento de composições ao Metro de Lisboa.

Em causa está o concurso para fornecimento de 14 comboios, com três carruagens cada, em que a Stadler se apresentou a concurso associada à Siemens, responsável pela componente de sinalização. Tal como no concurso da CP, houve um concorrente que interpôs uma reclamação, o que arrastou o andamento de todo o processo, impedindo o consórcio da Stadler, que ficou classificado com a melhor proposta, por um valor global de 114,5 milhões de euros, de avançar mais rapidamente para o fabrico dos respetivos comboios.

“Há uma reclamação em curso. Temos rumores positivos. Parece que o andamento do concurso vai finalmente na linha positiva. Depois, a última decisão caberá ao Tribunal de Contas [visto prévio ao contrato]. Como o Tribunal de Contas costuma demorar entre 30 dias e dois meses para tomar essas decisões, penso que, por isso, pode ser que também a decisão definitiva sobre este concurso esteja muito próxima”, acredita Iñigo Parra.

O presidente da Stadler Rail Espanha adiantou que as composições apresentadas a concurso para o Metro de Lisboa são feitas à medida do cliente, ‘taylor made’, “adaptadas às necessidades específicas do Metro de Lisboa”.

“No caso do Metro de Lisboa, é um projeto mais complexo porque é uma parceria com a Siemens, porque inclui a componente de sinalização”, explicou Iñigo Parra. Aliás, foi em relação à vertente da sinalização que o concurso foi impugnado, pelos franceses da Thales e pelos chineses da CRRC, que alegaram favorecimento à Siemens.

A decisão de adjudicação ao consórcio da Stadler foi confirmada pelo Metro de Lisboa em meados de janeiro deste ano, mas as referidas impugnações atrasaram o processo.

A partir do momento em que o Tribunal de Contas autorizar o referido visto prévio, a Stadler tem 77 meses para entregar todo o material circulante previsto no caderno de encargos do concurso, ou seja, 14 unidades triplas (42 carruagens) para operar nas linhas amarela, azul e verde.

O andamento sobre este concurso, assim como os novos previstos pela CP para aquisição de mais material circulante, poderão influenciar de forma decisiva a Stadler quanto ao investimento em Portugal numa unidade de fabrico de comboios. Iñigo Parra reconhece: “o concurso [do Metro de Lisboa] é importante, mas é um fator mais, há mais fatores a ter em linha de conta”.

“Há um grande entusiasmo da Stadler pelo mercado português. Esperamos que nos próximos anos possamos aprofundar estes projetos e e consolidar a nossa presença no mercado português, que trabalhamos há muitos anos. O nosso conhecimento do mercado em Portugal é intenso. Também temos fornecido locomotivas à Takargo e à Medway. O mercado português de transporte ferroviário de mercadorias também está muito pujante”, sublinhou o presidente da Stadler Rail Espanha, sem, contudo, revelar se estão na calha novos contratos de fornecimento de material circulante a estas duas transportadoras ferroviárias de mercadorias a operar em Portugal.

Stadler garante que vai cumprir prazos com a CP
Sobre o contrato para fornecimento de 22 novos comboios regionais, apesar dos atrasos provocados pela impugnação interposta pelos espanhóis da CAF, o contrato foi assinado a 21 de outubro passado, e aguarda agora apenas o visto prévio do Tribunal de Contas. Iñigo Parra garante que os prazos estipulados no contrato serão cumpridos, incluindo o fornecimento das primeiras quatro composições no período de 48 meses a partir da autorização do Tribunal de Contas.

Em causa estão comboios da Stadler do modelo ‘FLIRT’, multimodais para ‘diesel’ e alimentação elétrica, podendo ser facilmente convertidos para energia elétrica em exclusivo. Têm capacidade máxima para cada unidade de três carruagens transportar 375 pessoas, 214 sentadas. São feitos em 95% com materiais recicláveis e atingem uma velocidade máxima de 160 quilómetros horários.

O ‘FLIRT’ é considerado pelos responsáveis da Stadler como um ‘best seller’, ‘a joia da coroa’, estando neste momento mais de 1.900 unidades deste modelo em funcionamento em 21 países.

“Portugal tem uma rede muito importante de fornecedores. Já estamos a falar com diversas empresas portuguesas para tentar chegar a acordo. Vamos visitar nos próximos meses empresas do setor industrial, que demonstra muita competitividade, assim como de TI, que vemos com muito bons olhos, para conhecer a sua realidade e ver quais são as oportunidades de colaboração”, revelou Iñigo Parra, ressalvando que “ainda não tomámos qualquer decisão”.

O presidente da Stadler Rail Espanha assinalou: “somos uma empresa séria, não viemos aqui apostar no estilo ‘one shot’, vamos estudar muito detalhadamente todos os planos porque acreditamos que há oportunidades muito interessantes, mas ainda não temos nenhuma decisão tomada”.

“Ainda está por definir a percentagem de incorporação portuguesa nos comboios a fornecer à CP. Não existe um grau de compromisso no caderno de encargos do concurso da CP, mas pretendemos projetos de longo prazo e queremos participar no desenvolvimento do mercado ferroviário em Portugal, um modo de transporte sustentável que está em expansão em toda a Europa. Consideramos que o setor industrial português nos oferece muita competitividade. Apreciamos muito a competitividade do tecido industrial português e o que pretendemos com as parcerias que fazemos não é só para um projeto específico, mas para toda a nossa atividade, porque estamos presentes no mercado europeu e no mercado mundial”, esclareceu Iñigo Parra.

O presidente da Stadler Rail Espanha assegurou que “analisaremos todas as opções”, incluindo a construção de uma unidade industrial para fabrico e montagem do material circulante a fornecer à CP e ao Metro de Lisboa.

Iñigo Parra salientou que “são decisões que não são tomadas de um dia para o outro, demoram o seu tempo” e admitiu que “ainda não foi tomada a decisão se os comboios [para a CP] serão fabricados na Suíça ou em Valência [onde o grupo dispõe de outra unidade industrial]”, garantindo que “será onde for melhor para o cliente”.

Este responsável observou ainda que “estamos conscientes de que o Governo português está interessado em desenvolver um ‘cluster’ do setor ferroviário”, destacando que “vimos no tecido industrial português um campo de desenvolvimento muito interessante, não só para os projetos em Portugal, mas para todos os projetos internacionais em que estamos ou iremos participar” e concluindo que no setor das TI no nosso país “há muita gente jovem, com muita preparação, um ativo com um enorme potencial que estamos a ver com muito bons olhos”.

Desta forma, a Stadler está a apostar em Portugal em três áreas estratégicas de atuação: alianças com fornecedores industriais nacionais; parcerias com empresas portuguesas de tecnologias de informação e participação em novos concursos de fornecimento de material circulante ferroviário.

A Stadler, criada em 1942 em Zurique por Ernst Stadler, encerrou o ano passado com um volume de negócios na casa dos 3,2 mil milhões de francos suíços – cerca de três mil milhões de euros ao câmbio atual.

A empresa já fabricou mais de oito mil comboios em 42 países diferentes ao longo da sua história e emprega atualmente cerca de 10.900 trabalhadores.

Além do fabrico de comboios, carruagens e locomotivas, que se mantém como o foco principal da sua atividade, a Stadler está a diversificar para segmentos operacionais como a manutenção, remodelação e requalificação de material circulante e sinalização.

 

(Atualizado às 19h42m)

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