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Startup inspira-se num dos maiores IPO da Europa para expandir mercado dos cacifos inteligentes

A empresa portuguesa Bloq.it prepara-se para fechar este mês uma ronda de investimento ‘seed’ de 550 mil euros, disse ao Jornal Económico o cofundador João Lopes. Mais do que guardar malas, os cacifos que se abrem com QR code são uma mais-valia para o negócio das entregas.
10 Maio 2021, 08h15

O casamento entre cacifos e e-commerce, que aparentemente tem tudo para dar errado, pode tem um futuro promissor se as cadeias de retalho e empresas como a Glovo ou Lalamove continuarem a ver nele uma forma de poupar e de garantir entregas bem-sucedidas. A startup portuguesa Bloq.it, que desenvolveu “cacifos tecnológicos” (onde a SMS ou o QR code substituem o cadeado), acredita que o negócio é auspicioso, sobretudo em países da Europa do Sul, onde o mercado dos smart lockers ainda é “prematuro”, disse ao Jornal Económico João Lopes, cofundador e Chief Operating Officer (COO) da empresa.

O COO dá como exemplo a polaca InPost, que se juntou à bolsa de Amsterdão em janeiro naquele que foi o maior IPO (oferta pública inicial) da Europa desde 2018, tendo os acionistas encaixado 2,8 mil milhões de euros e a empresa ficado avaliada em 8 mil milhões de euros – tudo por causa do boom do comércio eletrónico.

A Bloq.it – fundada em 2019 por João Lopes, Miha Jagodic e Ricardo Carvalho – está a fazer esse caminho, mas a passos mais de caracol, dado que tinha receitas entre sete a oito mil euros no início de 2020 e nos últimos 12 meses viu a faturação crescer para cerca de 130 a 140 mil euros com as mudanças da pandemia e a expansão no estrangeiro.

Em entrevista ao JE, João Lopes avança que a startup prepara para fechar uma ronda de investimento seed ainda este mês, de 550 mil euros, e utilizará o capital para empregar mais quatro a seis pessoas até ao final do ano, recrutando para vendas e desenvolvimento de negócio e produto.

A Bloq.it nasceu em 2019, ano em que Portugal recebeu um recorde de 27 milhões de turistas. Como é que o negócio se manteve relevante quando as pessoas deixaram de necessitar de guardar bagagem em cacifos?

Numa fase inicial, quando começámos, estávamos muito focados na indústria do turismo, tanto que o nosso serviço na altura era completamente diferente e estava direcionado para o consumidor final. Nós colocávamos cacifos em locais públicos e funcionava essencialmente uma lógica muito semelhante às scooters elétricas: a pessoa tinha uma aplicação, chegava lá, alugava o cacifo e depois o pagamento era feito com cartão. Não fizemos marketing nenhum, simplesmente colocámos cacifos em locais para as pessoas utilizarem [os primeiros foram em praias de Oeiras e Cascais]. Mas percebemos logo que havia muito interesse, mesmo de business to business, porque começámos a receber emails de empresas (farmácias, lojas…) a perguntar se esse tipo de serviço – muitas vezes com outros use cases pensados por quem nos contactava – estavam disponíveis para venda. Fomos compreendendo como é que a indústria funcionava, o que é que existia no mercado internacional de cacifos inteligentes, quais eram os principais casos de uso além de guardar objetos e começámos a adaptar a oferta. A Covid-19 acabou por acelerar esse processo porque o turismo parou. E mesmo sem turismo, as pessoas não tinham necessidade de guardar coisas em locais públicos porque estavam em casa.

Não somos uma fábrica de cacifos. O nosso foco é a tecnologia, o software, por trás dos cacifos

Então, houve outra indústria que ficou muito relevante para nós, a logística, que estava a ter um crescimento muito grande porque as pessoas de repente começaram a utilizar mais o e-commerce por causa das restrições. Percebemos que havia alguns fatores diferenciadores na nossa tecnologia, que podia ser facilmente aplicada a outras indústrias com as encomendas online que depois são recolhidas no cacifo. O nosso primeiro projeto B2B foi uma parceria com a Sonae Sierra, quando fechou os centros comerciais e estava à procura de formas de manter as pessoas a comprar nas lojas e o pequeno comércio ativo. O que fizemos foi um serviço em que as pessoas podiam comprar na mesma nas lojas – através de telefone, email, plataformas online – e o lojista tinha depois a opção de colocar essas compras num cacifo que estava no parque de estacionamento, de forma muito simples, e utilizador final recebia uma SMS com o código para ir buscar.

O modelo funcionou? É que os consumidores também se habituaram muito ao delivery, ao conforto de refeições, roupas, decoração ou equipamentos elétricos lhes aparecerem à porta…

Quando falamos do mercado das entregas há duas coisas que diferenciamos muito bem. No retalho, temos soluções de click and collect, que praticamente todas as lojas adotaram e que têm vários benefícios para o utilizador, porque há pessoas que não podem receber encomendas em casa por trabalhar fora de escritórios ou em locais para onde não é possível enviar correio. É um serviço muito relevante para as retalhistas, porque o que acontece normalmente com o click and collect (com ou sem cacifos) é que as pessoas vão buscar o que compraram mas entretanto veem outra coisa qualquer e acabam por entrar na superfície comercial, o que é do interesse deles. Por outro lado, na logística, é um grande incentivo para as empresas de entregas porque chegam a quem não pode receber encomendas em casa e não só. Imagine um prédio com 40 apartamentos. Se tiver um cacifo na entrada que todos os proprietários podem usar é muito útil para os residentes e para a empresa de entrega: os residentes ficam com a certeza de que encomenda vai chegar ali, quer estejam fora ou em casa sem poder abrir a porta – tocarem à campainha durante uma reunião pode ser inconveniente – e à empresa reduz a possibilidade de não conseguir fazer a entrega com sucesso, porque deixando ali sabe que a pessoa vai recolher, além do facto de poder fazer 40 entregas num só cacifo, o que é melhor economicamente do que tocar a 40 portas.

Como é que funciona em termos de pagamentos? Há serviço de subscrição?

O que estamos a fazer agora é B2B portanto não cobramos aos utilizadores finais. No entanto, a opção de cobrar fica sempre do lado do nosso parceiro. Por exemplo, se trabalhamos com uma empresa de retalho que quer ter esta opção nas lojas ela pode cobrar esse serviço aos utilizadores no check-out através da opção de recolher em cacifo.

Como surgiu a internacionalização para Peru, Holanda e França?

Ao contrário de outras startups e serviços, que são mais voltados para o consumidor final, o nosso produto acaba por ser um pouco agnóstico em termos de mercado – ou seja, nós podemos facilmente não ter operação nenhuma local, por exemplo no Médio Oriente, e ter uma lojista ou cadeia de retalho lá e conseguir fazer essa implementação sem grande problema. Julgo que a maioria da nossa faturação hoje até é internacional. Estamos a entrar agora nalguns mercados africanos, África do Sul e Angola, e temos distribuidores a implementar a nossa solução no Dubai, na Jordânia e na Grécia.

É melhor economicamente as empresas fazerem 40 entregas num cacifo do que tocar a 40 portas

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