A globalização é a palavra-chave que ajuda a explicar o atual ecossistema empresarial no campo das tecnologias. O talento português é aliciado com melhores salários por países mais desenvolvidos economicamente, o que dificulta o processo de recrutamento às tecnológicas nacionais. No entanto, resiliência e capacidade de adaptação são duas das imagens de marca das empresas que, invariavelmente, utilizam as opções ao seu dispor para continuarem a competir e a reforçar a qualidade nesta área.
As características naturais do território nacional são aliciantes o suficiente para a maioria dos portugueses que, podendo escolher, querem ficar em Portugal, mas sem nunca abdicarem dos seus objectivos profissionais. Entre as quatro tecnológicas consultadas pelo Jornal Económico (JE) – Bee Engineering, Boost IT, Outsystems e Claranet, há um ponto em comum: os benefícios extrassalariais são fundamentais no processo de recrutamento.
Seguros de saúde, flexibilidade de horários e parentalidade/família são elos transversais tanto na oferta, como na procura, no sector tecnológico português. A juntar a tudo isto, fruto da pandemia de Covid-19, junta-se o trabalho remoto, em regime híbrido ou a tempo inteiro. Conjugar todos estes factores é desafiante, mas foi precisamente o desafio que reforçou a importância dos benefícios extrassalariais na altura de recrutar.
Para José Leal e Silva, director-executivo da Bee Engineering, “os benefícios extrassalariais são um ponto fundamental no processo de recrutamento. É fulcral saber aquelas que são as vontades e necessidades dos profissionais”. De tal forma, que a tecnológica portuguesa decidiu criar uma plataforma, interna, onde convida os colaboradores a contribuírem com propostas sobre que benefícios gostariam de ter, bem como sugestões sobre o próprio funcionamento da empresa.
O balanço, segundo José Leal e Silva é positivo: “as preocupações das pessoas estão cada vez mais ligadas ao equilíbrio entre o tempo familiar, de contacto com outros, e o trabalho. Dentro do Top 10 de ideias mais votadas, apenas uma tem relação direta com o salário”. Entre os complementos ao salário incluídos no contrato dos colaboradores da Bee Engineering, destacam-se seguros de saúde, apoios para creche, despesas de tecnologia, formações com certificações comparticipadas e até viatura. “Hoje em dia, uma proposta de valor de uma organização de TI é muito mais do que apenas o salário ao fim do mês”, aponta José Leal e Silva.
Bruno Ribeiro, CEO da Boost IT, é da mesma opinião. Refere que “cada vez mais, os nossos colaboradores valorizam os benefícios extrassalariais. Não estão só focados no valor salarial bruto, mas num conjunto de regalias que possam melhorar a sua qualidade e forma de vida”.
Identificada a tendência, a Boost IT procurou ajustar o seu pacote de benefícios, tornando o processo de captação de talento “mais fácil e atrativo”, e o de retenção “mais eficiente”. A tecnológica portuguesa oferece seguro de saúde, que inclui cobertura para doenças graves e que pode ser estendido ao agregado familiar, tickets/vales de infância e educação para quem tem filhos pequenos, descontos numa série de entidades que vão desde o lazer à banca e, ainda, consultas de Psicologia, para apoiar problemas relacionados com a pandemia, desafios do trabalho remoto e, por vezes, o isolamento do trabalho de programação.
Já a Outsystems, um dos primeiros unicórnios portugueses, classifica os benefícios extrassalariais como fundamentais para a motivação, o desempenho e o bem-estar dos seus colaboradores. Alexandra Monteiro, VP of People na Outsystems, explica que a política de benefícios assenta na premissa de quererem ser “competitivos, atrair e reter talento, e garantir que os nossos colaboradores estão felizes e motivados por serem uma parte importante da nossa equipa”.
Nesse sentido, a tecnológica fundada em 2001, oferece aos seus colaboradores seguro de saúde, cartão refeição, subsídio para a aquisição de telemóvel, benefícios ligados ao nível de carreira como carro, combustível e parque de estacionamento. Adicionalmente, os funcionários podem encontrar uma série de opções diversificadas e ajustadas aos seus interesses, traduzindo-se na possibilidade de terem os benefícios que mais se adequam ao seu ‘lifestyle’. Por fim, a Outsystems não deixa de parte o bem-estar emocional e oferece um serviço de Psicologia, que promove a saúde física e mental, bem como parcerias com diferentes entidades nas áreas da saúde, bem-estar, alimentação e desporto.
Na Claranet, a maior fornecedora de serviços de TI em Portugal, os benefícios extrassalariais também assumem o protagonismo no processo de recrutamento e retenção do talento. Catarina Graça, diretora de recursos humanos, diz ser palpável que “são os benefícios extrassalariais que ajudam os candidatos a tomar a sua decisão, por exemplo, quando precisam de desempatar duas propostas que tenham em mãos”. Assim, a oferta da tecnológica para lá do salário desdobra-se em modelos de trabalho híbrido ou mais dias de férias além dos definidos pela Lei. O vasto cardapio inclui também cheques infância, produtos de poupança/reforma, passe social, pagamento de determinadas despesas com educação, saúde e bem-estar e, ainda, prémio de parentalidade, prémio de referência de novos colaboradores, bem como a utilização ilimitada da plataforma de formação Udemy.
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