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Taxonomia ‘verde’ da UE: Comissão deixou componentes social e de governação de fora por falta de tempo, diz especialista

Em entrevista ao JE, Belinda Gan, investment director of global sustainability da Schroders, disse que o relatório técnico que vai servir de base à criação de uma lista completa à escala europeia sobre o que se entende por “atividades económicas sustentáveis” teve de fazer um compromisso: concentrar-se nas finanças ‘verdes’ e deixar para um segundo momento as componentes social e de governanção que compõem os critérios ESG.
  • Belinda Gan investment director of global sustainability da Schroders
    Belinda Gan, investment director of global sustainability da Schroders
3 Março 2020, 07h58

Publicado em junho de 2019, o relatório técnico de 416 páginas encomendado pela Comissão Europeia que serve de base para a criação do sistema de classificação das finanças sustentáveis – taxnonomia verde – deixou de parte as componentes social e de governação das empresas, focando-se apenas nas questões ambientais. Ao Jornal Económico, Belinda Gan, investment director of global sustainability da Schroders, uma gestora de ativos, revelou que o grupo de trabalho que ficou encarregue de desenvolver o relatório teve de fazer um “compromisso”, porque estava a ficar “sem tempo”.

“A taxonomia terá por base atividades económicas. Ora, nós investimos em empresas e não em atividades económicas”, respondeu Belinda Gan quando questionada sobre os principais desafios à taxonomia europeia.

Além disso, adiantou, “é muito técnico, o que eu percebo. Mas se recuarmos até às intenções originiais por trás da criação de um pacote de finanças sustentáveis, vemos que o grupo de trabalho focou-se no aspeto ambiental, deixando para mais tarde os aspetos social e de governação. De acordo com o ponto de vista da Schroders, não se pode olhar para as três componentes das finanças sustentáveis em separado, é preciso olhar para os critérios ESG de forma conjunto”, frisou a investment director of global sustainability da Schroders.

“Estive em Bruxelas com uns colegas e falámos com ministros-sombra e membros da Comissão Europeia. Admitiram que estavam a ficar sem tempo e que, como tudo na vida, tiveram de fazer compromissos. Porisso, decidiram concentrar-se apenas na componente ambiental e, só depois, vão olhar para as componentes social e de governação”, referiu Belinda Gan.

Para a diretora da Schroders, esta situação poderá vir dar origem a um risco não antecipado. “Ao definir as finanças sustentáveis apenas como ‘verde’ corremos o risco de canalizar dinheiro para uma pequena parte da economia, com consequências não intencionais, o que não ajuda a desenvolver as finanças sustentáveis como um todo”, realçou.

Em dezembro de 2019, o Parlamento Europeu e o Conselho alcançaram um acordo político sobre uma “lista verde” do que se entende por atividades económicas sustentáveis. Conhecido com “green deal”, não se trata ainda uma taxonomia verde exaustiva, mas antes de um quadro normativo de caráter geral que vai permitir o desenvolvimento de uma sistema de classificação sobre as atividades económicas que serão consideradas como sustentáveis.

Este quadro normativo geral definiu que atividades económicas são passíveis de serem qualificadas como “sustentáveis do ponto de vista ambiental”, tendo em conta seis objetivos: a mitigação das alterações climáticas, a adaptação às alterações climáticas, proteção e utilização sustentável da água e dos recursos marítimos, a transição para a economia circular, a prevenção e controlo da poluição e a proteção e restauro da biodiversidade e dos ecossistemas.

O objetivo desta taxonomia completa será o de fazer da União Europeia “o primeiro continente neutro [do ponto vista climatérico] até 2050”, explicou a Comissão.

A taxonomia será desenvolvida em em dois momentos através de actos delegados pela Comissão. Até 31 de dezembro deste ano, a Comissão pretende adotar o sistema de classificação das atividades económicas sustentáveis que digam respeito aos príncipios da mitigação das alterações climáticas e adaptação das alterações climáticas, que deverá passar a ser aplicado a partir de 31 de dezembro de 2021.

Até 31 de dezembro de 2021, a Comissão pretende adotar o sistema de classificação das atividades económicas sustentáveis que digam respeito aos outros quatro objetivos: proteção e utilização sustentável da água e dos recursos marítimos, a transição para a economia circular, a prevenção e controlo da poluição e a proteção e restauro da biodiversidade e dos ecossistemas.

 

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