Nós, os economistas, sentimos esta frustração: é impossível prever o início das crises. Gastamos boa parte do nosso tempo a tentar compreender e prever o comportamento e a interação dos agentes económicos. Muitas vezes até conseguimos detetar vulnerabilidades e descobrimos este ou aquele indício. Mas, infelizmente, antecipar crises económicas continua a ser mais do ramo do oculto do que da ciência económica.

Para compensar, somos relativamente bons a explicar o que já aconteceu, o que não é totalmente inútil porque ajuda a evitar a repetição de erros e dá-nos o conforto adicional da compreensão da realidade.

Agora que o mundo está confrontado com este “cisne negro”, importa escolher a abordagem à crise do ponto de vista económico. Aquilo que aprendemos com 2008 é que tudo o que não precisamos agora é de uma crise financeira. O risco de um problema dessa natureza é grande tendo em conta que muitos modelos de negócio vivem “just in time” em termos de cash-flow, podendo ocorrer um aumento considerável dos incumprimentos de crédito, com efeitos na banca.

Ao contrário de 2010/2012, é improvável que ocorra uma crise de dívida soberana, mas a recuperação económica “pós-coronavírus” só poderá ser rápida caso se consigam evitar falências resultantes de desequilíbrios financeiros temporários. Por outro lado, é uma oportunidade para a União Europeia e a União Monetária mostrarem a sua pertinência. Se a UE falhar nestes tempos de crise, estará certamente ferida de morte.