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“Todas as indicações da Fosun são de suporte ao BCP”, disse Miguel Maya

O presidente executivo do Millennium BCP acabou mesmo por revelar que tinha estado com o presidente da Fosun recentemente e que “todas as indicações são de suporte ao banco, à estratégia e ao caminho que estamos a percorrer”. 
  • Miguel Maya
    Miguel A. Lopes/Lusa
28 Julho 2022, 07h22

Miguel Maya citou uma recente entrevista de responsáveis do grupo chinês para mostrar otimismo quanto à continuidade do investimento da Fosun no capital do BCP. A Fosun “não perspetiva qualquer desinvestimento em Portugal”, disse o CEO do banco português.

O presidente executivo do Millennium BCP acabou mesmo por revelar que tinha estado com o presidente da Fosun recentemente e que “todas as indicações são de suporte ao banco, à estratégia e ao caminho que estamos a percorrer”.

A Fosun tem 29,95% do BCP e é o maior acionista seguindo-se a Sonangol com 19,49%.

A principal questão à volta do BCP é até onde é que o banco português aguenta a situação da Polónia e a incerteza económica sem pedir dinheiro aos acionistas?

Mas Miguel Maya foi taxativo. Por um lado, disse que “não está contemplado no plano, nem é nossa intenção qualquer tipo de suporte de capital ou liquidez à operação polaca”. Por outro lado, o CEO garantiu também que “não estamos a equacionar nenhuma operação de aumento de capital em Portugal”.

O BCP reportou um rácio de capital total (fully implemented incluindo resultados não auditados do primeiro semestre de 2022) de 15,3% e um rácio de capital CET1 de 11,3%.

“Em base pro forma o rácio de capital total seria de 15,9% e o rácio CET1 11,8% “sujeito à aprovação já solicitada da aplicação do artigo 352  da CRR (Capital Requirements Regulation) acima dos requisitos regulamentares de 13,75% e 9,16%, respetivamente”, diz o banco.

Será que o facto de ter uns rácios de capital abaixo dos concorrentes CGD, Santander Totta e BPI não afeta a competitividade do BCP? Não seria importante reforçar capital para estar ao nível dos outros bancos? Na resposta Miguel Maya rejeitou que a baixa folga possa condicionar o crescimento futuro do banco. “O que temos de fazer é gerir o capital com enorme rigor, temos de fazer opções”, referiu.

“O que temos de perceber é se o nível de capital é adequado ou não. Temos requisitos que nos são definidos pelos reguladores”, disse lembrando que o BCP tem “capital acima das exigências regulamentares”.

“O ambiente de negócios na Polónia não é novo”, começou por responder Miguel Maya na conferência de imprensa de apresentação de resultados, ao mesmo tempo que lembrou que o Bank Millennium foi capaz de gerar resultados.

O banco detido 50,1% pelo BCP e que consolida integralmente nas contas do banco português, baixou os prejuízos de 110,3 milhões de euros em junho de 2021 para 56,6 milhões de euros em junho deste ano. “Se não fosse o novo Fundo de Proteção Institucional (IPS), que apareceu agora, o banco na Polónia teria sido capaz de gerar resultados para acomodar o fortíssimo nível de provisionamento”, frisou o CEO do BCP que reafirmou a capacidade de o banco polaco “para enfrentar estas tormentas”.

Vender o banco na Polónia também não está no horizonte.

Miguel Maya defende que o BCP “não deve baixar os braços”, mesmo quando o banco polaco soma prejuízos todos os trimestres.

O banco português voltou a dizer que o resultado líquido do Millennium Bank foi influenciado por encargos com riscos legais relacionados com os créditos em francos suíços concedidos pelo banco até 2008. O banco diz que o resultado foi influenciado por encargos de 252,2 milhões de euros associados à carteira de créditos em francos suíços. Este valor inclui provisões para riscos legais, custos com acordos extrajudiciais e consultoria legal relacionadas com a carteira de crédito  em francos suíços na Polónia.

O banco polaco controlado pelo BCP tem sido alvo de decisões desfavoráveis dos tribunais, que ordenam ao banco que pague indemnizações aos clientes, no seguimento de um processo na justiça sobre créditos concedidos até 2008 em moeda estrangeira.

Sem os “problemas” na Polónia o resultado líquido ajustado do Bank Millennium cresce 106,2% para 243,2 milhões de euros.

O BCP reportou que no segundo trimestre houve mais 1.554 novos processos em tribunal e 2.175 acordos extrajudiciais que representaram um custo para o banco polaco de 23,6 milhões de euros.

O Bank Millennium, controlado em 50,1% pelo BCP, já tinha reportado que a legislação aprovada em 7 de julho de 2022 introduziu um conjunto de medidas destinadas a apoiar os devedores em empréstimos hipotecários denominados em zlotys, “incluindo a possibilidade de suspensão até 8 prestações mensais de capital e juros (2 prestações em cada um dos 3.º e 4.º trimestres de 2022 e uma em cada trimestre de 2023; um empréstimo elegível por família destinado à habitação própria;  créditos concedidos antes de 1 de julho de 2022); contribuição adicional de 1,4 mil milhões de zlotys para os clientes; um support und (FWK) – fundo para apoiar devedores em dificuldades; e a substituição da WIBOR como indexante principal para empréstimos”.

O banco estima que a aprovação do novo regime de acesso a moratórias para créditos à habitação em zlotys na Polónia poderá ter um impacto até 1.779 milhões de zlotys (368,6 milhões de euros). Este é o custo máximo estimado das moratórias caso 100% dos clientes elegíveis adiram à moratória.

O banco explica ainda que o recurso às moratórias não implica a reclassificação dos créditos para Stage 2 (exposições para as quais se observa uma degradação significativa do nível de risco de crédito desde o reconhecimento inicial).

O custo upfront das moratórias a ser registado no 3.º trimestre deste ano pressupondo uma taxa de adesão entre 75% a 90% (acima da média de mercado anunciada até à data de 66%).

O registo upfront do impacto estimado das moratórias deverá provocar que o Bank Millennium apresente resultados líquidos negativos no 3º trimestre. Consequentemente, os rácios de capital do banco polaco detido pelo BCP irão reduzir-se em aproximadamente 300pb, estimando-se que rácio CET1 se possa reduzir entre 118-174 pb, “abaixo dos requisitos mínimos estabelecidos pelo Polish Financial Supervision Authority (PFSA)”.

Portanto, “é esperado que os níveis de capital se situem temporariamente abaixo dos requisitos mínimos regulamentares devido ao impacto do front loading do custo das moratórias, sendo expetável a sua recuperação num horizonte temporal não muito alargado”, disse Miguel Maya que estima que sejam necessários mais de dois anos para o Bank Millennium repor os rácios.

“O banco na Polónia vai apresentar prejuízos no terceiro trimestre”, com o rácio de capital “CET1 a cair entre 118 e 174 pontos, ficando abaixo dos requisitos”, afirma Miguel Maya, CEO do BCP, na apresentação dos resultados para o primeiro semestre, quando o banco português obteve lucros consolidados de 74,5 milhões de euros.

“O Conselho de Administração do Bank Millennium pretende aumentar os rácios de capital para níveis confortavelmente acima dos níveis regulamentares exigidos através da combinação da melhoria da rentabilidade operacional e iniciativas de otimização de capital, tais como gestão dos risk weighted assets (incluindo securitizações)”, revelou o BCP.

Perante o risco de registar rácios de capital abaixo dos requisitos regulamentares o Millennium Bank decidiu ativar o plano de recuperação.

Cada banco tem de ter um plano de recuperação, preparado e atualizado pelo menos uma vez por ano, que é submetido ao regulador (PFSA) para aprovação anual.

O atual plano de recuperação do Bank Millennium foi aprovado pelo regulador em fevereiro deste ano.

Durante o processo de recuperação, o banco deixará de pagar o imposto especial sobre setor bancário (80 milhões zlotys por trimestre).

O BCP reportou os efeitos extraordinários relacionados com o Bank Millennium que impactaram nas contas do primeiro semestre e que incluem encargos de 257,8 milhões associados à carteira de créditos hipotecários denominados em francos suíços, a contribuição de 54,3 milhões para o novo Fundo de Proteção Institucional (IPS) que foi criado na Polónia para garantir a estabilidade financeira e o registo da imparidade do goodwill do Bank Millennium de 102,3 milhões de euros.

Além do problema desencadeado pela necessidade contínua de constituir provisões para os riscos de litigância dos clientes com créditos em francos suíços na Polónia, paira outro risco sobre o BCP. Os ativos por impostos diferidos ao abrigo do regime especial em 2014 trazem incorporado um risco de o Estado entrar no capital do banco privado caso a instituição registe prejuízos nas contas individuais.

O BCP registou um lucro de 74,5 milhões no primeiro semestre, muito mais dos que os 12,3 milhões registados em junho de 2021, mas a rentabilidade dos capitais próprios (ROE) não chega a 3%, está em 2,81%. No entanto, se não fossem as vicissitudes do Millennium Bank na Polónia, detido em 50,1% pelo BCP, o resultado líquido do banco liderado por Miguel Maya seria de 200,9 milhões de euros e a subida seria de 74,4%. Em Portugal o resultado líquido sem itens específicos é de 174,5 milhões, o que corresponde, em base comparável, a um crescimento de 63,1% face ao primeiro semestre de 2021.

Miguel Maya também revelou que a nova administração do BCP ainda não tem a luz verde do BCE. O processo de avaliação de fit & proper ainda está a decorrer “com normalidade”, disse o CEO do BCP na apresentação dos resultados semestrais.

 

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