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“Transição energética e sectores tecnológico e digital” na agenda das fusões em 2022

José Miguel Rego, responsável do Departamento Sino-Europeu de M&A do Haitong Bank, em entrevista ao JE, diz que o mercado de fusões em Portugal estará associado à transição energética e aos sectores tecnológico e digital.
10 Abril 2022, 16h30

O mercado português é interessante para a banca de investimento (nomeadamente para a atividade de fusões e aquisições)?
Os últimos três anos foram, provavelmente, dos melhores anos para a banca de investimento no nosso país, suportados pelo crescimento significativo da atividade de M&A associada à entrada de investidores financeiros no mercado português (tanto fundos de private equity como fundos de pensões e infraestruturas) e ao forte crescimento do negócio imobiliário em Portugal.

Quais foram os sectores mais ativos em 2021 no que toca a M&A no geral e em particular em Portugal?
A nível global, os setores que demonstraram maior dinâmica de M&A foram, sem dúvida, os setores tecnológico e digital, resultante da crescente convicção dos investidores de que a disrupção tecnológica será um elemento de criação de valor no futuro. Também o setor das energias renováveis nas suas mais variadas vertentes tem assistido a uma forte atividade de M&A, associada à transição energética que tem vindo a consolidar-se um pouco por todo o mundo. O setor das infraestruturas tem conhecido igualmente um forte crescimento, sobretudo em países da OCDE, como consequência da expansão monetária e da descida geral das taxas de juro ao longo dos últimos anos.

Quais os principais negócios de M&A que se fizeram no ano passado em Portugal? E na Europa?
Em Portugal merece a pena destacar a tomada de uma participação qualificada por parte da chinesa CCCC na Mota-Engil como exemplo de uma parceria estratégica que utiliza uma empresa portuguesa como plataforma de desenvolvimento internacional; a entrada em bolsa da Greenvolt como exemplo dos projetos de transição energética que desde Portugal procurarão um desenvolvimento internacional com o apoio do mercado de capitais; e a venda da Logoplaste como exemplo de como o recurso a investidores de private equity permitiu consolidar o crescimento da empresa no mercado internacional. Na Europa, o negócio que provavelmente mereceu maior destaque em 2021 terá sido o processo de venda da ARM no Reino Unido, que acabou por não ser aprovado pelas autoridades inglesas, mas que é exemplo da importância que têm hoje as empresas tecnológicas nas decisões estratégicas dos países.

Quais as tendências no M&A em Portugal em 2022? Em que sectores antevê que possam acontecer mais fusões e aquisições?
Portugal continuará a ser, em 2022, um polo de atração de investidores internacionais para operações associadas à transição energética e aos sectores tecnológico e digital. Nos últimos anos temos visto como as empresas portuguesas mais inovadoras têm sido capazes de angariar capital junto de investidores internacionais e têm atingido valorizações consideráveis.

A banca pode ser alvo de fusões e aquisições? A subida dos juros pelo BCE pode impulsionar essas operações? Por exemplo, pode acelerar a venda do Novobanco pela Lone Star?
No setor bancário devem esperar-se mais fusões que aquisições pelo efeito que provocam as aquisições nos rácios de capital dos bancos, mas o ano de 2022 não deverá ser um ano de operações relevantes no setor em Portugal. Pensamos que será antes um ano de continuidade onde haverá, como em anos anteriores, compras de redes ou mesmo a venda de instituições de dimensão média. Não esperamos que seja um ano de fusões significativas, domésticas ou cross-border com foco em Portugal.

Antevê uma quebra do mercado de venda de carteiras NPL e imóveis em 2022? Ou pelo contrário a subida dos juros pode dinamizar o mercado da venda de carteiras de malparado e imóveis?
As vendas de NPL deverão manter uma certa estabilidade ao longo dos próximos anos, motivadas mais pela estrita regulação do setor bancário do que pela subida das taxas de juro. As taxas de juro poderão aumentar marginalmente os NPL [Non Performing Loans], mas não é esperada uma crise imobiliária que aumente significativamente esta atividade.

A crise decorrente da guerra na Ucrânia, do conflito geopolítico e das sanções à Rússia pode afetar o negócio de fusões e aquisições? E em Portugal?
A guerra da Ucrânia, por via do aumento do preço da energia e dos commodities, veio acelerar a pressão inflacionista que já se fazia sentir anteriormente e apressar bastante a redução dos estímulos monetários e a subida das taxas de juro. É natural que esta pressão inflacionista e a esperada subida das taxas de juro não afetem de forma igual todas as indústrias, sendo de esperar que afetem negativamente a atividade de M&A em certos setores. Já nos sectores relacionados com a transição energética, o mais provável é que a pressão inflacionista e a subida das taxas de juro acelerem os processos e a tomada de decisão.

Se não se atingir um processo de paz a Leste no curto/médio prazo até que ponto isso pode afetar as empresas que são clientes da banca de investimento?
Pensamos que a guerra da Ucrânia marcará a agenda económica europeia e a sua duração afetará, sem dúvida, o crescimento económico, bem como a atividade do Banco e dos seus clientes.

Haverá oportunidades de negócio para a banca de investimento, decorrentes da necessidade de os países ocidentais mudarem os fornecedores de gás e a origem das fontes de energia para países “amigáveis”? Portugal (que tem energia solar, eólica e o porto de Sines) pode beneficiar dessa alteração de estratégia europeia no que toca a operações de banca de investimento?
A transição energética vai certamente pautar a atuação de todos os países da Europa e também a atuação de Portugal no decorrer dos próximos anos. Essa transição requer uma enorme mobilização de recursos financeiros, seja sob a forma de dívida seja sob a forma de equity. Este é um espaço natural da atividade de banca de investimento onde certamente o Haitong Bank estará muito ativo.

O impacto do conflito nos mercados financeiros, e sobretudo nos mercados emergentes, preocupa-o?
No Haitong Bank, pensamos que a guerra na Ucrânia, o seu impacto no crescimento económico global, a inflação e o processo de finalização de estímulos monetários na UE e nos EUA e a consequente subida das taxas de juro serão as variáveis chave dos mercados financeiros no decurso dos próximos 12 meses.

Quais as competências críticas de sucesso na assessoria financeira a operações de M&A?
Pensamos que as competências críticas de sucesso na assessoria financeira em operações de M&A são o profundo conhecimento da empresa target (a adquirir ou a vender), bem como do sector onde atua; e execução de excelência tanto do ponto de vista económico- financeiro como do ponto de vista da negociação com as contrapartes na defesa dos interesses do cliente.

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