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TVI acusada de rentabilizar violência no “Big Brother Famosos”

Bruno de Carvalho é alvo de queixa no Ministério Público e foi expulso do concurso da estação de Queluz de Baixo. O ex-presidente do Sporting insurgiu-se contra a situação no Twitter.
  • Liliana Almeida e Bruno de Carvalho
14 Fevereiro 2022, 18h00

Bruno de Carvalho está no centro da polémica devido a um comportamento que muitos dos espetadores do “Big Brother Famosos” têm classificado como “tóxico” e “abusivo” em relação à cantora Liliana Almeida. Perante imagens divulgadas pela TVI, a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) apresentou uma denúncia ao Ministério Público, por aquele que considera ser o “comportamento ameaçador” do antigo presidente do Sporting para com a namorada. Segundo a CIG, entidade que está integrada na Presidência do Conselho de Ministros, o comportamento de Bruno de Carvalho é “suscetível de configurar a prática de crime público de violência doméstica, na forma psicológica e física”, cita a Agência Lusa.

Em comunicado, a comissão adiantou que teve conhecimento de vídeos divulgados nas redes sociais que são retirados do programa televisivo “Big Brother”, em exibição pela TVI, “no qual se pode assistir ao alegado “comportamento ameaçador” do concorrente Bruno de Carvalho para com a sua namorada, a concorrente Liliana Almeida, “por ter chegado, inclusive, a agarrar o seu pescoço de forma indelicada e evidentemente desconfortável”.

Emissão televisiva polémica

No decorrer da gala do “Big Brother Famosos”, que foi emitida ontem, dia 13, tanto Bruno de Carvalho, como Liliana Almeida, foram confrontados com essas imagens. “É óbvio que iria exercer violência doméstica e psicológica à frente de milhões de pessoas. Tem de haver sempre uma imbecilidade da minha parte, serei sempre um imbecil, porque não sei que há câmaras. Os meus crimes são sempre crimes de imbecilidade”, reagiu, de forma irónica, o antigo presidente do Sporting. “Há sempre olhos com muita maldade que, quando me veem feliz, têm sempre esta vontade inabalável de fazer alguma coisa”, acrescentou. No entanto, em direto na TVI, a cantora Almeida rejeitou as acusações de violência psicológica e de relação tóxica e abusiva.

Duelo de titãs

A “gala” de ontem ficou marcada pela discussão entre a diretora da TVI e a comentadora Ana Garcia Martins. A influenciadora digital   deixou fortes críticas ao programa no qual participa. Cristina Ferreira iniciou a emissão com um comunicado: “Isto é o ‘Big Brother’ […] é o programa que expõe os comportamentos de quem aceita entrar numa casa, privada de alguma liberdade e sujeito à pressão do jogo. A partir do momento, em que entram na casa passam a estar à responsabilidade da Endemol e da TVI que emite este mesmo programa. Estamos a falar de pessoas e é a salvaguarda dessas pessoas que a nós Endemol e TVI nos compete”, começou por esclarecer a também diretora de Entretenimento e Ficção da TVI. “Eu, enquanto apresentadora, e o ‘Big Brother’, que é o comandante de todas as operações, temos um dever. Um dever de imparcialidade e de também de não julgamento dessas mesmas pessoas. É aquilo que tentamos fazer e, pelo menos, eu tento fazer desde o primeiro dia em que me pus e propus apresentar este ‘Big Brother’. Tento ser imparcial e não julgar qualquer tipo de comportamento de uma pessoa, neste caso jogador, dentro da situação em que está exposto”, referiu ainda. “Não sou juíza de ninguém. O que posso fazer é fazer as perguntas que me competem, para que cada um que está em casa e aqui possa julgar quem está dentro de um jogo”, justificou Cristina Ferreira.

Ana Garcia Martins insurgiu-se em direto contra estas palavras. “Não podia discordar mais. Acho que o que se vê em relação ao Bruno não tem a ver com preferências, com julgamentos e com ódio de todo. Tem a ver com o comportamento que é visível a toda a gente. Não aponto o dedo aos comportamentos do Bruno por ódio, por antipatia, aponto o dedo pelo que ele faz a uma mulher”, afirmou a comentadora.

TVI alvo de críticas

Invasão de privacidade, controlo, ciúmes e ameaças. São os comportamentos que milhares de telespectadores e dezenas de figuras públicas consideraram estar presentes na relação de Bruno de Carvalho e Liliana Almeida, no “Big Brother Famosos”. O ex-presidente do Sporting tem vindo a ser acusado de praticar violência física e psicológica contra a namorada e as queixas já chegaram mesmo à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). Apesar de a Comissão para a Igualdade de Género ter apresentado uma queixa contra Bruno de Carvalho por violência doméstica, instando a estação para que o retirasse do programa “com urgência”, a TVI manteve-o no Big Brother até à “gala” deste domingo, para ser “expulso pelo público”. A situação causou a indignação de diversas figuras públicas, que se insurgiram, nomeadamente a de Catarina Furtado A apresentadora da RTP não ficou indiferente aos comportamentos de Bruno de Carvalho no novo “Big Brother Famosos” e deixa um recado à estação que emite o programa. “As princesas de hoje têm de ter a liberdade de serem donas das suas vidas! Temos de ser vigilantes e agir em comunidade quando isso não acontece. Na minha opinião a televisão tem a obrigação de impor limites quando os direitos humanos são violados. Já temos informação suficiente do que não pode ser permitido”, escreveu a apresentadora da RTP, na sua conta oficial de Instagram. “O entretenimento oferece diferentes formatos que interessam a diferentes públicos, mas é obrigatório que nos tempos atuais respeitem valores. Não vale tudo pelas audiências. Tenho tido o privilégio de escolher os programas que apresento ou que desenho, fruto de um caminho nem sempre fácil, onde os NÃOS que dei foram determinantes para a liberdade que hoje vivo”, pode ler-se na publicação de Catarina Furtado.

Cristina Ferreira considera que a televisão serve para entreter

Cristina Ferreira foi uma das convidadas do programa “Em Família”, sábado, 12 de fevereiro, na TVI. A apresentadora e diretora de entretenimento e ficção afirmou m conversa com Ruben Rua e Maria Cerqueira Gomes que “a televisão não tem de ser educativa. Eu não faço parte daquele grupo de pessoas que acha que a televisão tem de instruir. A televisão tem que entreter, é esse o principal objetivo. Se conseguir entreter instruindo, está perfeito, mas não tem de ser assim em todos os programas”.

Tema fraturante

Esta segunda-feira, dia dos Namorados, foram revelados os números relativos às denúncias de violência no contexto de namoro. Existiram mais de 2.215 denúncias de violência no namoro em 2021, segundo dados adiantados pela direção nacional da PSP. Na rubrica “Malditas Segundas Feiras”, da SIC Notícias, os comentadores Aline Hall de Beuvink, Manuel Moreira e Maria João Marques relacionaram estes números com a polémica em torno da relação de Bruno de Carvalho e Liliana Almeida.

“Este tema é tão fraturante que, pela primeira vez em algum tempo, vimos varias figuras públicas a insurgirem-se contra aquilo que se estava a passar e aquilo que estava a ser transmitido nesse reality show, sobretudo mulheres, apresentadoras, atrizes, que se sentiram revoltadas”, disse Manuel Moreira. “Cada oportunidade desperdiçada de apontar problemas é uma oportunidade desperdiçada a mais, seja num reality show, no espaço mediático ou nas nossas plataformas caseiras, do dia a dia”, acrescentou o ator. Por sua vez, Maria João Marques fê-lo. “Fui ver os vídeos que circulavam e penso que muita gente ficou incomodada por aqueles vídeos porque, de facto, é uma relação tóxica e abusiva que está ali, bastante visível, e muita gente já passou por situações toxicas e abusivas e sabemos bem que situações daquelas podem descambar em violência física.”

A economista criticou a TVI: “Acho que é uma irresponsabilidade uma televisão, em prime time, estar ali a normalizar uma relação toxica e abusiva”. Maria João Marques apelidou, então, de “lamentável” a postura da TVI. “Não entendo como é que isto já se passava há alguns dias, como é que uma estação de televisão permite que esta situação se arraste, numa noite em que finalmente o Bruno de Carvalho é expulso. Acho isto tudo muito lamentável. É normalizar relações abusivas, é estar a dizer aos mais novos que aquele tipo de relação é uma coisa aceitável e eu não entendo isto”, acrescentou a economista, relembrando que, em 2000, Marco Borges foi expulso após ter pontapeado Sónia, no primeiro “Big Brother”.

“Estou a beber. E depois?”

O ex-presidente do Sporting estava agendado para figurar no  programa “Dois às 10”, na TVI, desta segunda-feira e também numa conferência de imprensa, mas esses compromissos foram cancelados. Entretanto, o empresário voltou às redes sociais onde, além de proferir ofensas contra os comentadores do reality show, Ana Garcia Martins e Flávio Furtado, publicou uma imagem com uma garrafa de whisky e twittou: “Estou a beber. E depois?”

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