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Um BCE adormecido: da inflação transitória à hiperinflação

Estávamos em novembro de 2021 quando a responsável máxima do BCE, Christine Lagarde, afirmava que “muito provavelmente” as taxas de juro da Zona Euro não iriam subir e que, se houvesse subidas, as mesmas só deveriam acontecer em 2023.
28 Abril 2023, 07h11

Pois bem, os aumentos começaram mais cedo do que o esperado, e o que para uns parecia ser uma “inflação transitória”, para outros parecia um “risco de hiperinflação”. Importa referir que o BCE já não subia a taxa de juro desde 2011. Para além disso, a taxa de juro de depósito ficou negativa de junho de 2014 até julho de 2022. Já pensaram em taxas de juro negativas?

Saiba o que são taxas de juro e o seu papel na economia.

Foi isto que o Banco Central Europeu proporcionou. Pagavam à população pelos seus empréstimos (a Euribor estava negativa), incentivando ao crédito, desincentivando à poupança, e aumentando o consumo e o investimento. Com a pandemia a decorrer, esta explosão monetária começou a entrar em circulação e ficou desmedida, o que iria ter repercussões na economia real mais tarde. Todos os economistas sabiam disso, mas não queriam acreditar.

Entretanto, as economias regressaram à normalidade com o abrandar da pandemia, a explosão monetária já estava em circulação, as pessoas estavam eufóricas porque se sentiam “livres”, havia excesso de poupanças e o nível de endividamento no crédito ao consumo bateu nos mínimos. Todo este efeito monetário, aliado ao efeito psicológico de liberdade pós-pandemia, foram os reagentes certos para o início de um caminho inflacionário. Os preços começaram a subir lentamente, começando logo pelas matérias primas como o petróleo, cobre, gás natural, ferro, alumínio, entre outros. Porém, estes efeitos acabaram por ser negligenciados.

Conheça a importância dos Bancos Centrais nos mercados de capitais neste artigo.

Já em novembro de 2021, os mercados começaram a perceber que a inflação poderia ser mais grave do que o esperado. Assistimos às primeiras correções nos principais índices acionistas (S&P500, DAX30, Nasdaq100…), sinalizando que o caminho do “dinheiro fácil” e o “crescimento sem precedentes” poderiam estar a chegar ao fim. Em janeiro de 2022, já a inflação pairava na economia e era bastante forte. A Zona Euro registou os 5,1% de inflação, mas nesta altura ainda ninguém se preocupava com a subida dos preços. A preocupação prendia-se com estabelecer os níveis de consumo e resolver os problemas derivados da pandemia, como as vacinas e as máscaras.

Para acelerar mais a escalada dos preços, em fevereiro de 2022 a Rússia decidiu invadir a Ucrânia, deixando toda a Europa atordoada. A falta de matérias-primas, como os cereais e as matérias energéticas, aumentaram ainda mais a pressão inflacionária. Como tal, vimos novamente os preços do petróleo, gás natural, milho, trigo, soja, fertilizantes, cobre, e outros, a subirem agressivamente. Assim, aquela que parecia ser uma “inflação transitória”, estava agora a ser real, com a inflação a atingir os 8,1% em maio. Importa referir que a taxa de juro na facilidade de depósitos nesta altura estava fixada nos -0,5%. Sim, ainda era negativa!

Entretanto, em julho, o BCE decide intervir com uma subida na taxa de juro de 0,5%, quando já a inflação estava completamente descontrolada e a atingir os 8,6%. A batalha inflacionária continuava e a população começara a sentir os primeiros sinais agressivos, com a gasolina, a eletricidade e a alimentação a pesarem cada vez mais nos seus orçamentos. Em novembro, a inflação atingiu um máximo de 10,6%. Nesta altura, já não restavam dúvidas de que a inflação estaria descontrolada. O consumo teimava em não diminuir. Os preços das casas atingiam recordes. Os bancos centrais continuavam sua política de aperto monetário para fazer face à situação da escalada dos preços e vemos as taxas de juro a galopar. Agora, surge um novo problema: as prestações dos empréstimos bancários começam a ficar mais caras, deixando a população com menor poder de compra, especialmente em Portugal devido às taxas de juro variáveis no crédito à habitação.

Conheça o papel do BCE na economia e nos mercados neste artigo.

No momento da redação deste artigo (final de abril de 2023), as taxas de juro já estão nos 3,5% e a inflação nos 6,9%, o que significa que a batalha ainda não acabou e pode ainda estar só a meio. Devemos ter noção de que quando a economia atinge períodos de grande inflação fica desregulada, e para que os níveis normais de preços sejam atingidos é necessário tempo, taxas de juro elevadas, reduções de consumo e diminuição da atividade económica.

 

Índice harmonizado de preços ao consumidor na Zona Euro. Evolução da inflação de Janeiro de 2020 até abril de 2023. Fonte: EuroStat

Assim, deveremos esperar que o BCE continue as suas políticas de aperto monetário  já no dia 14 de maio, com uma nova subida de 50 pontos base e reduzindo os seus ativos do balanço (quantitative tightening). Estas medidas deverão arrefecer a atividade económica, levando os preços a cair. Devemos também ter em mente que o facto do Banco Central ter demorado tanto tempo a reagir à inflação terá consequências no futuro. Neste caso em concreto significa que, provavelmente, as taxas de juro deverão subir mais do que o esperado e deverão ficar altas por mais tempo, levando a que as famílias e as empresas tenham problemas de liquidez. Adicionalmente, taxas de juro muito elevadas aumentam a probabilidade de incumprimento das obrigações por parte dos devedores, o que pode penalizar os bancos, levando a um risco sistémico para toda a economia.

Deste modo, resta-nos saber se vamos atingir uma inflação de 2% com um “soft landing” ou com uma “hard landing”, com uma recessão profunda e uma crise grave. Estas são as questões que ficam para o futuro.

 

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