Como um boomerang, o Grexit está volta à mesa de negociações

Com credores em desacordo e a Alemanha a pressionar, a Grécia regressa aos holofotes e a questão de uma eventual saída do euro volta a ser debatida.

Passaram mais de sete anos desde o início da crise na Grécia e o país continua a lutar com uma dívida pública considerada “insustentável” pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Entre a chegada de Donald Trump à Casa Branca, as negociações do ‘Brexit’ e eleições em vários países da Europa, a Grécia parece ter estado mais afastada dos holofotes. No entanto, a possibilidade de um Grexit poderá ser, novamente, um tema em cima da mesa.

As negociações entre a Grécia e os credores chegaram a um impasse. Pouco mais de um ano depois do terceiro resgate, no valor de 86 mil milhões de euros, representantes da União Europeia e do FMI divergem em relação ao crescimento económico esperado e à sustentabilidade da dívida do país. Com uma dívida estimada em 315 mil milhões de euros, a Grécia pede mais tempo e um programa de reembolsos mais suave.

As Finanças gregas têm pouco espaço de manobra já que terão de pagar quase 23 mil milhões de euros até ao fim de agosto. Do total, a Grécia tem de pagar, só em julho, 7,4 mil milhões de euros aos credores, que pedem (ainda) mais austeridade no país. Com a Alemanha a pressionar uma decisão, abandonar a zona euro ou a União Europeia não está completamente fora de questão. Wolfgang Schäuble avisou em dezembro que ou a Grécia implementa reformas estruturais ou terá mesmo de sair do euro.

Para além de fatores externos que afetam toda a Europa, os juros da dívida grega estão a subir com a possibilidade de um Grexit, o impasse nas negociações com os credores e a hipótese de a Grécia ter os cofres vazios aquando da data limite para o pagamento. A dois anos, as taxas das bonds gregas subiram de 6% para 10% em menos de duas semanas, enquanto os juros a 10 anos ultrapassaram a barreira dos 7% há pouco menos de um mês, atingindo o valor mais alto em três meses, e caminham a passo largo para os 8%.

“Estou muito preocupado que possamos estar a caminhar para uma ruptura da União Europeia”, disse o comentador político Pantelis Kapsis ao jornal The Guardian. “Há muitos sinais de que o partido de esquerda no Governo grego, o Syriza, esteja a ponderar continuar sozinho (fora do euro). O que é certo é que estamos a entrar num período muito difícil que pode levar-nos a um ponto sem retorno”.

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