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Um milhão de pessoas pode cair na pobreza extrema a cada 33 horas em 2022

Enquanto a população enfrenta crescentes custos de vida, os milionários dos setores alimentar e energético aumentam a sua fortuna em mil milhões de dólares a cada dois dias. “Os super-ricos manipularam o sistema impunemente por décadas e agora estão a colher os benefícios”, disse a diretora executiva da Oxfam International, Gabriela Bucher.
24 Maio 2022, 11h39

A pandemia criou um novo bilionário a cada 30 horas. Agora, face ao aumento do custo de vida, um milhão de pessoas podem ser empurradas para a pobreza extrema em 2022 quase na mesma proporção enquanto os milionários dos setores alimentar e energético aumentam a sua fortuna em mil milhões de dólares a cada dois dias, revela um briefing da Oxfam.

O “Profiting from Pain” (lucrando com a dor, em português) foi publicado esta semana a propósito do Fórum Económico Mundial em Davos. O briefing demonstra que 573 pessoas tornaram-se novos milionários durante a pandemia.

A confederação estima que este ano mais 263 milhões de pessoas caiam na pobreza extrema, que se traduz numa taxa de um milhão de pessoas a cada 33 horas.

“Os milionários estão a chegar a Davos para comemorar um incrível aumento das suas fortunas. A pandemia e agora os aumentos acentuados nos preços dos alimentos e da energia foram, simplesmente, uma bonança para eles. Enquanto isso, décadas de progresso na pobreza extrema estão agora no sentido inverso e milhões de pessoas estão a enfrentar aumentos impossíveis simplesmente para sobreviver”, disse a diretora executiva da Oxfam International, Gabriela Bucher.

A riqueza dos milionários aumentou mais nos primeiros 24 meses de Covid-19 do que nos 23 anos anteriores combinados. A riqueza total dos milionários, a nível global, é agora equivalente a 13,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do planeta — um aumento de três vezes em relação a 2000.

“As fortunas dos milionários não aumentaram porque agora são mais inteligentes ou trabalham mais. Os trabalhadores estão a trabalhar mais, por menos salários e em piores condições. Os super-ricos manipularam o sistema impunemente por décadas e agora estão a colher os benefícios. Eles apreenderam uma quantidade chocante da riqueza do mundo como resultado da privatização e dos monopólios, destruindo a regulamentação e os direitos dos trabalhadores enquanto escondem o seu dinheiro em paraísos fiscais – tudo com a cumplicidade dos governos”, afirmou Bucher.

“Enquanto isso, milhões de outras pessoas estão a saltar refeições, a desligar o aquecimento, a atrasar o pagamento de contas e a perguntar o que podem fazer para sobreviver. Em toda a África Oriental, uma pessoa provavelmente está a morrer de fome a cada minuto. Essa desigualdade grotesca está a quebrar os laços que nos mantêm unidos como humanidade. É divisivo, corrosivo e perigoso. É a desigualdade que literalmente mata”, acrescentou.

A nova pesquisa da Oxfam também revela que as corporações dos setores de energia, alimentos e farmacêuticos estão a registar lucros recordes, mesmo que os salários mal tenham mudado e os trabalhadores estejam mais expostos à inflação.

As fortunas dos milionários dos setores alimentar e energético aumentaram 453 mil milhões de dólares nos últimos dois anos, o equivalente a mil milhões a cada dois dias. Cinco das maiores empresas de energia (BP, Shell, TotalEnergies, Exxon e Chevron) lucram, em conjunto, 156 mil dólares a cada minuto.

Ao mesmo tempo, agora há 62 novos milionários no setor agroalimentar. Juntamente com apenas três outras empresas, a família Cargill controla 70% do mercado agrícola global. No ano passado, a Cargill obteve o maior lucro de sua história (cinco mil milhões em lucro líquido) e a empresa deve ultrapassá-lo novamente em 2022. Só a família Cargill agora tem 12 milionários, mais quatro do que antes da pandemia.

“Os extremamente ricos e poderosos estão a lucrar com a dor e o sofrimento. Isso é inconcebível. (…) e é prova de que o nosso sistema económico está a funcionar exatamente como os ricos e poderosos o projetaram”, disse Bucher.

A confederação humanitária urge, acima de tudo, que os governos ao redor do globo taxem os multimilionários.

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